Após seis meses com os números de enterros em queda na cidade de São Paulo, os índices voltaram a subir com a chegada da segunda onda de Covid-19. É o que mostram os dados de sepultamentos em cemitérios públicos, particulares e cremações do Serviço Funerário, da Prefeitura de São Paulo.
Em 2020, a capital paulista chegou ao pico em maio, quando 8.368 pessoas foram sepultadas. A partir de junho, os números foram caindo mês a mês até novembro, quando se chegou a 5.549 sepultamentos. Já em dezembro, esse número subiu para 6.408, um aumento de 15% em relação ao mês anterior. Em janeiro, um novo aumento: 6.574 enterros e cremações. (veja gráfico abaixo).
É importante ressaltar que nem todos que morrem ou residem em São Paulo são enterrados na capital paulista.
Em dezembro, o estado de São Paulo registrou 57% mais mortes por coronavírus em comparação ao mês de novembro. Com o aumento de casos, mortes e internações, o governo do estado voltou a endurecer a quarentena, anunciou a abertura de novos leitos, cancelou cirurgias eletivas e anunciou a reabertura do Hospital de Campanha de Heliópolis.
Após seis meses em queda, número de enterros volta a crescer na cidade de São Paulo — Foto: Anderson Cattai/G1
Com o impacto no Serviço Funerário, neste mês foram contratados mais 30 sepultadores para se somar aos 120 que já atuavam nos cemitérios públicos da capital. Além disso, a frota foi reforçada com mais 10 carros de translado.
Os contratados irão atuar em um plano de exumação que será realizado pela Prefeitura, com o objetivo de "evitar que a cidade de São Paulo sofra com a falta de valas disponíveis para utilização".
"A contratação de novos terceirizados se fez necessária considerando o afastamento dos servidores que são parte do grupo de risco, suprindo a demanda pelo serviço para dar um enterro e uma despedida digna aos familiares que perdem seu entes queridos", informou o Serviço Funerário.
Cemitério Vila Formosa chegou a ter aumento de 89% nos enterros em maio, pico da pandemia na cidade — Foto: Celso Tavares/G1
Orgulho do trabalho realizado
Uma das categorias mais impactadas pelo aumento de mortes e enterros na cidade de São Paulo é a dos sepultadores. Em novembro de 2020, trabalhadores do cemitério da Vila Formosa, o maior da América Latina, contaram ao G1 como foi viver o pico da pandemia.
Adenilson Costa, que há 25 anos trabalha no cemitério, chegou a ouvir que o sepultador já deveria “estar acostumado”. “Não, não estava acostumado com tanta gente morrendo e sendo sepultada num dia só”.
“Ficamos muito chateados, tristes e psicologicamente abalados, que a gente não é de aço, né”, disse o sepultador.
Adenilson Costa trabalha há 25 anos como sepultador no cemitério Vila Formosa, o maior da América Latina, e sentiu o impacto do pico da pandemia em sua rotina — Foto: Celso Tavares/G1
O sepultador James Alan, de 33 anos e há oito no Vila Formosa, também não estava “acostumado” para o que aconteceu em 2020. “A gente viu sepultamentos de três pessoas da mesma família, quantas famílias não foram destruídas? Isso é muito triste para nós”.
Apesar de o aumento no número de sepultamentos, São Paulo não precisou abrir valas comuns, cenário visto em outras capitais, como Manaus e até Nova York. Hoje, James vê com orgulho o trabalho feito durante o pico da pandemia.
"Nosso nome vai fazer parte dessa história. Quando isso tudo passar, os filhos dos nossos filhos vão lembrar. ‘Oh, meu pai estava lá, ele participou disso”.
James Alan, sepultador do cemitério Vila Formosa, conta que chegou a ver o enterro de três pessoas da mesma família durante o pico da pandemia na capital. — Foto: Celso Tavares/G1
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