Os sons do batuque, da movimentação nos corredores, da música alta e da animação, típicos de carnaval, vão ganhar um novo cenário em 2021, por causa da pandemia da Covid-19, que provocou a suspensão da festa neste ano e ainda não tem data para realização. A folia momesca, que seria realizada de 11 a 16 de fevereiro – não só nos circuitos oficiais Dodô (Barra-Ondina), Osmar (Campo Grande) e Batatinha (Centro Histórico), como também nos outros distribuídos pela cidade – agora será improvisada sem os tradicionais trios elétricos nos cômodos de casa.
O advogado Edmundo Viana Júnior, de 36 anos, promete fazer a festa com direito a abadá. “No domingo, vou acompanhar a live de Bell Marques ao lado de amigos, e todo mundo devidamente vestido com o abadá do bloco Camaleão. Farei um encontro aqui em casa mesmo”, conta ele, que mora Dois de Julho, em Salvador, e é fã do cantor há mais de 20 anos. Edmundo despertou o interesse pelo bloco quando ainda era adolescente, incentivado por sua mãe, que também é tiete de Bell Marques.
Quem também vive a expectativa do carnaval adaptado é o profissional de relações públicas, Everton Santos, de 34 anos. “Assim que fiz 14 anos, a idade mínima para sair em bloco, comecei a sair e nunca mais deixei o Camaleão. Para não perder o clima do carnaval, irei decorar a casa, comprar algumas bebidas e acompanhar todas as lives possíveis, em especial a de Bell”, conta
Folião e Carnaval
Durante o período do Carnaval, as ruas costumam ficar lotadas na capital baiana, que chega a atrair mais de dois milhões de foliões, entre baianos e turistas. Nos seis dias de festa, a cidade se transforma. São estruturas gigantescas, movimento intenso, corre-corre, multidão e muita vibração. A antropóloga Goli Guerreiro critica esta nova modalidade de se fazer Carnaval, por meio de transmissões ao vivo.
“Pensar em carnaval por lives, sem multidão, é pensar em ausência. Isso que está sendo chamado de carnaval está completamente distanciado da alma dessa festa: corpos na rua se encontrando, se tocando, experimentando. O fator estético, que é a multidão, não vai existir. Para um lugar como a Bahia, onde o carnaval é a expressão máxima de uma cultura, esse modelo é, no mínimo, uma tristeza”, avalia.
O jornalista e pesquisador Nelson Cadena acredita que a mudança na relação do folião para com a festa, no contexto da pandemia, será algo inusitado na história. “O carnaval nunca deixou de ser realizado, inclusive nos momentos mais críticos, como na Primeira Guerra Mundial, durante a invasão sertaneja (1920) e na Revolução de 1930. O que houve em outras situações foi o adiamento por uma ou duas semanas, por causa da chuva”, detalha.
Prejuízos
A suspensão da festa também vai trazer um impacto negativo na economia. De acordo com dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), divulgados na segunda-feira, 8, a estimativa é a de que aproximadamente R$ 1,7 bilhão, provenientes de gastos dos foliões, deixem de circular na cidade. Ao menos 60 mil profissionais deixarão de ocupar as vagas temporárias de trabalho no período.
O presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), Isaac Edington, responsável pela organização e coordenação da folia, disse que ainda é cedo para estimar o prejuízo causado pela ausência da festa.
“Difícil estimar, mas, dificilmente, a gente vai chegar a patamares alcançados, por exemplo, no último carnaval, de 2020, que gerou R$ 1,5 bilhão de movimentação econômica. Sobretudo, quando a gente se refere a bares, restaurante, gastronomia, hotelaria, trade de artistas e toda a cadeia que faz parte deste processo”, afirma. Segundo ele, mais de 350 mil postos de trabalho, que são ativados no carnaval, deixam de existir, ‘gerando prejuízos enormes’ para a cidade.
O carnaval deste ano foi suspenso, ainda em 2020, pelo então prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), por causa da pandemia do coronavírus, a fim de evitar aglomerações e disseminação da doença. Atual gestor, Bruno Reis (DEM) manteve a suspensão para este mês de fevereiro porque, mesmo com a chegada da vacina, é preciso que a maior parte da população seja imunizada.
Carnaval na tela
Grandes nomes da música baiana e destaques no Carnaval de Salvador decidiram fazer transmissões ao vivo, por meio de redes sociais e plataformas de streaming, nesta semana. Com isso, o folião vai ter a oportunidade de se divertir e, claro, matar a saudade da festa. A cantora Ivete Sangalo, em entrevista ao Anota Bahia, falou sobre a expectativa para a “Live de Carnaval” que fará ao lado de Cláudia Leitte, no sábado, 13, às 18h30.
“Já estamos com tudo pronto: repertório, cenário, a alegria e a vontade de fazer. Para nós, passar esse tempo longe da folia é bem diferente, embora necessário. Estamos fazendo com que nossa alegria chegue na casa das pessoas através dessa live”, disse.
A programação do carnaval das lives vai contar com outras apresentações: Daniela Mercury, nesta sexta-feira, 12; Léo Santana, Harmonia e Parangolé se reúnem para a “Live do Encontro”, neste sábado, 13. No mesmo dia, o Bailinho de Quinta comanda uma live às 19h. Já Bell Marques apresenta o “Brilhaê Camaleão” no domingo, 14. Os shows serão transmitidos, ao vivo, nas redes sociais e no canal oficial dos artistas no YouTube.
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