Nesse exato momento, o sócio-diretor da Central do Carnaval, Joaquim Nery Filho, estaria envolvido completamente com a realização da folia carnavalesca, como acontece todos os anos. No entanto, a pandemia do coronavírus levou o empresário e o trade da festa a viver uma nova realidade. Para Quinho Nery, “é uma catástrofe para Salvador a inexistência do Carnaval esse ano”. Segundo afirmou, em entrevista ao A TARDE, o dinheiro que deixou de circular na economia da cidade esse ano “jamais será recuperado”. Questionado sobre a possibilidade de participar de um carnaval fora de época, o empresário disse que a Central “topa participar sim”. “Existe sim a possibilidade de a micareta da San Sebastian ser um Carnaval antecipado de Salvador”, afirmou. Confira:
Como você avalia o fato de o Carnaval não estar acontecendo esse ano por conta da pandemia e que impactos isso tem, sobretudo na economia?
Essa tem sido uma semana de muita nostalgia para todos nós, porque é inevitável ficar o tempo todo tentando imaginar, lembrando e fazendo projeções de que estaríamos fazendo hoje. E é simples entender: hoje é quinta-feira, nós estaríamos iniciando o Carnaval dos blocos e camarotes, e desde a segunda eu estaria fazendo aquela ação da entrega dos abadás, que acontece todos os anos no Shopping da Bahia. Então esse ano ficou tudo diferente, nós tentamos até com criatividade fazer alguma coisa para não deixar passar absolutamente sem lembrar do Carnaval, mas o impacto é um impacto gigantesco. Eu tenho costumado a dizer esses dias que é uma catástrofe para Salvador, para a economia como um todo, a inexistência do Carnaval esse ano. A gente ouviu números essa semana da Prefeitura que fala em R$1,8 bilhões. E eu tenho feito sempre uma parábola dizendo que o Carnaval é como se fosse uma safra agrícola, porque ele tem uma safra anual, quer dizer, é um evento que acontece uma vez por ano e quando ele deixa de acontecer você não recupera jamais aquilo que não foi colhido. O dinheiro que deixou de circular na economia de Salvador esse ano jamais será recuperado. Foi uma perda total. A gente pode no próximo ano, claro, ter um Carnaval tão grande quanto já fizemos em anos anteriores ou até mesmo melhor, mas o que deixamos de colher esse ano, isso não volta mais.
É possível estimar prejuízos? Quanto a Central deixa de arrecadar com a não realização da festa?
Olha, a Central do Carnaval é apenas uma ponta da atividade como um todo. É uma ponta pequena, porque a gente observa que o Carnaval envolve todo um “carna negócio”, que é um grupo agregado de atividades cujo foco final é a festa. A gente costuma dizer que em uma cidade como Salvador, todas as pessoas ou quase todas elas direta ou indiretamente estão envolvidas com a festa. Desde as companhias aéreas, hotéis, os taxistas, mototaxistas, uber, restaurantes, ambulantes, ou até mesmo atividades, por exemplo, como a atividade jornalística, ela direta ou indiretamente está envolvida com a festa. A gente vê, por exemplo, os portais de jornalismo, os jornais, as TVs, durante o Carnaval divulgam o evento e estão a todo momento falando dele. Isso não deixa de ser um conteúdo atrativo para os anunciantes. Então eu imagino que até mesmo a potencialização de anúncios aconteça nesse período. A Central do Carnaval como um todo é uma empresa que trabalhou o ano passado no Carnaval 2020 com 21 blocos e 10 camarotes. É um segmento pequeno do Carnaval, mas é o mais representativo nessa parte de venda comercial do Carnaval de Salvador. Nós vivemos esse ano sem produto absolutamente nenhum, aquele início de venda que tivemos lá atrás em março de 2020, ele se esgotou no dia 18 de março, quando foi decretada a pandemia. E tudo que foi vendido ou foi transferido para 22 ou foi devolvido para os nossos clientes e foliões. Então nesse período o que houve: nós tínhamos uma loja no Shopping da Bahia. Fechamos a loja, o escritório tivemos que reduzir bastante, mantivemos um núcleo mínimo de pessoas para continuar funcionando, e praticamente tivemos zerado a receita da empresa durante um ciclo anual como um todo. É algo muito forte, muito significativo. A gente está tentando agora retomar de uma forma criativa, de maneira muito otimista, acreditando que vamos ter um Carnaval 2022 muito forte.
Como o setor de entretenimento está fazendo para sobreviver sem as festas?
Ainda hoje houve uma manifestação do segmento em frente ao Shopping da Bahia para chamar a atenção da sociedade como um todo e sobretudo dos líderes do governo sobre os problemas do segmento. Foi o primeiro a entrar na pandemia em absoluto lockdown e não saiu até hoje, provavelmente será o último a sair. Então o segmento tem buscado alternativas, mas precisa que haja uma compreensão do setor público para que se encontre uma forma de abrir um pouco mais. Hoje são permitidos eventos com no máximo 200 pessoas, a gente acha que é possível avançar um pouco nesse número, obviamente com protocolos rigorosos de tamanho de espaço, de cuidados especiais. Algumas experiências já foram feitas no Brasil, no Ceará, em São Paulo, em outros estados e é importante que isso aconteça. Em paralelo a isso, a gente está muito otimista com relação à vacina. A gente acha que se a campanha de vacinação ganhar corpo, se nós estivermos cada vez mais próximos de uma imunização coletiva, de uma imunidade coletiva, nos próximos meses, a gente poderá sim retomar com atividades um pouco maiores. Mas ainda é um foco longínquo, ainda é um foco que a gente não consegue alcançar que dia será isso e com que tamanho será isso. A gente só espera que passe o mais rápido possível.
Como você avalia a estratégia das lives como forma de levar um pouco de alegria para os foliões?
É, as lives têm esse papel que você colocou, a ideia de manter acesa a chama, de comemorar e de fazer com que essa saudade consiga emendar dois anos em um. A Central do Carnaval e o bloco Camaleão especificamente, quando o ex-prefeito ACM Neto lá atrás no final de novembro anunciou que não iria haver o Carnaval 2021 em definitivo, nós decidimos internamente lançar o Carnaval 2022. Foi uma coisa inédita, quer dizer, na primeira semana de dezembro nós saímos com uma campanha, uma campanha muito criativa que fala de “bote fé que a
A Tarde
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