A Justiça determinou a soltura do capitão da PM Leonardo Magalhães Gomes da Silva, acusado de ser chefe de uma milícia que domina os bairros de Vargem Grande e Vargem Pequena, na Zona Oeste do Rio, e de outras seis pessoas apontadas como seus comparsas. Todos foram presos na Operação Porto Firme, deflagrada pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) em julho do ano passado. A decisão de libertar os réus é do juiz Leonardo Rodrigues da Silva Picanço, da 1ª Vara Criminal Especializada, que também determinou o recolhimento dos mandados de prisão contra outras nove pessoas acusadas de integrar o bando que estavam foragidas.
A decisão foi tomada durante audiência no último dia 22. O magistrado argumentou, na ocasião, que "não mais se tem por presente, neste momento, ameaça devidamente delineada à ordem pública, à instrução criminal", porque os depoimentos das testemunhas já foram tomados. Todos os réus já foram soltos. A prisão foi substituída por medidas cautelares, como o comparecimento mensal ao fórum e a proibição de contato com testemunhas.
A investigação que levou o capitão à cadeia revelou que o grupo paramilitar explorava a venda de drogas na região, o que levou a quadrilha a ser chamada de “narcomilícia” pela polícia. Ao longo do inquérito, que contou com interceptações telefônicas de diversos integrantes da quadrilha, a Polícia Civil e o Ministério Público descobriu que o grupo explorava uma série de atividades criminosas, como tráfico de drogas, extorsão, agiotagem e corrupção de agentes públicos.
Ao longo do inquérito, a polícia descobriu que a "narcomilícia" conseguiu até unir a grilagem de terras ao tráfico de armas. Interceptações telefônicas mostram que os milicianos invadiam terrenos — muitos em áreas de proteção ambiental —, faziam obras de terraplanagem, conseguiam “esquentar” a documentação dessas áreas e, por fim, trocavam os lotes por armamento.
O grupo também era implacável com seus desafetos. Os paramilitares chegaram a atacar com rojões a casa de um morador da região que denunciou o grupo à polícia. Os ataques faziam, segundo a polícia, parte de uma rotina de intimidação da milícia para garantir o silêncio da população: a quadrilha também costumava enviar cartas com ameaças e também pichava as fachadas para marcar as casas dos “desafetos”.
Capitão fiscalizava gastos na PM
Segundo a denúncia do MP, o capitão Leonardo Silva, além de comandar todas as ações do milícia, também era responsável por viabilizar o pagamento de propinas a outros PMs para evitar prisões dos integrantes do grupo. De acordo com a denúncia, seus comparsas se referiam a Leonardo, em ligações telefônicas, como “Bolsonaro”.
Antes de ser preso, o oficial ocupava um cargo importante na Polícia Militar, responsável por fiscalizar gastos da corporação: Silva era gestor de contratos da Diretoria de Transporte (DT). Sua atribuição era supervisionar contratos das oficinas mecânicas credenciadas pela PM para a manutenção de viaturas.
Outro PM também foi beneficiado com a decisão da Justiça, o soldado Fernando Mendes Alves, o Biro, que, de acordo com a investigação, trabalhava como braço-direito do capitão, cumprindo suas ordens na região dominada pelo bando. Antes de ser preso, ele era lotado no Programa Segurança Presente.
Milícia nas Vargens
A soltura do grupo acontece num momento de explosão de denúncias contra a atividades de paramilitares em Vargem Grande e Vargem Pequena. Os moradores relatam que os bairros foram invadidos pelo bando de Wellington da Silva Braga, o Ecko, e a cobrança de taxas a comerciantes se expandiu: cada estabelecimento do bairro tem que pagar R$ 50 por semana aos criminosos.
Na semana passada, a PM fez uma operação nos bairros para checar informações recebidas pelo Disque Denúncia (21 2253-1177). Houve apreensão de répilicas de um fuzil e de uma pistola e uniformes usados pelos criminosos — entre eles uma camisa com a inscrição "Polícia". Um local usado para armazenar produtos dos milicianos foi encontrado.
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