O senador Otto Alencar diz que não é chegada a hora de falar sobre a sucessão estadual de 2022. "Só vamos falar agora da sucessão de Rui em março" (do próximo ano). De acordo com ele, apesar da torcida de muitos opositores, "não há nenhuma chance para rompimento da minha parte com Wagner, Rui e Leão". Nessa entrevista exclusiva ao A TARDE, Otto diz ainda que "Bolsonaro é o pior opositor dele mesmo, autor de tantos lapsos verbais". E completa: "Não é a hora de o Congresso abrir um processo de impeachment contra Bolsonaro".
O Senado vai decidir nesta segunda a sucessão de Davi Alcolumbre. A eleição de Rodrigo Pacheco representa a manutenção da independência ou alinhamento ao Planalto?
O senador mineiro Rodrigo Pacheco tem uma formação jurídica de alto nível, é um senador que tem trabalhado dentro de um processo ético, de muita autonomia nos seus votos. Nesse período, inclusive, em alguns momentos, ele discordou de matérias enviadas pelo Palácio do Planalto. E ele hoje não pode, nunca foi também, rotulado como um candidato do Palácio do Planalto. Hoje ele é candidato do PSD, do PT, do PDT, dos senadores da Rede, do Partido Progressista, do PROS. Uma série de partidos que têm alinhamento com o Palácio do Planalto, inclusive o PSD, no Senado, é um partido que atua com independência. Eu fui líder dois anos, encaminhei com independência as votações e fui crítico do governo Bolsonaro nesses dois anos. Então jamais eu tomaria uma decisão como líder do PSD de apoiar Rodrigo se ele não reunisse as virtudes de independência frente ao Poder Executivo, altivez, ética e compromisso com o Brasil. Jamais faria isso. Então ele será o presidente, amanhã será a eleição dele, eu acho que ele é virtual vencedor. Será um presidente que fará um trabalho em favor do Brasil nessa crise que nós estamos vivendo agora. O que às vezes eu noto é que o grupo de senadores chamado Muda Senado são posições mais agudas frente à crise que nós estamos atravessando, procuram de alguma forma estabelecer esse vínculo e não conseguiu, porque hoje o Rodrigo, na minha opinião, retém em torno de mais de 55 votos e são necessários apenas 41 para vencer.
Qual deverá ser a pauta prioritária do Senado em 2021?
Olha, nós fizemos duas vídeo conferências com o senador Rodrigo Pacheco. Nelas nós tratamos da reinserção do Programa de Renda Mínima, que acabou em dezembro de 2020. Vamos trabalhar para que o governo tenha essa visão, essa sensibilidade, pois a crise sanitária continua, o desemprego continua, a informalidade aumentou, e as pessoas não podem passar fome em um país com 340 bilhões de dólares de reservas, e hoje representa a 9ª economia do mundo. Então foi uma coisa que discutimos com ele na segunda. Discutimos Reforma Tributária para simplificar os impostos, condensá-los, como até o ministro Paulo Guedes tomou a iniciativa, encaminhou para a Câmara dos Deputados para ser apreciado; a Reforma Administrativa do Governo Federal que precisa ser feita; e outra coisa que é muito caro ao PSD e ele tomou o compromisso é de trabalhar para colocar recursos do fundo de ciências e tecnologia, para se investir no país em pesquisa, ciência e tecnologia. Não pode um país com a biodiversidade que tem, com a matéria prima que tem com o conhecimento tradicional que tem, hoje só produzir 5% de todos os insumos necessários para a produção de medicamentos e fármacos. Ou seja, o Brasil importa 95% porque parou de investir em pesquisa, ciência e tecnologia.
Como o senhor avalia o Governo Bolsonaro e o que explica esses altos índices de avaliação dele?
Não, a avaliação dele caiu muito agora. Ele caiu para 26% e vem caindo com os desacertos administrativos, com a falta de desenvolvimento econômico e social, com o desemprego aumentando, a economia com o recuo muito grande do PIB. Esse ano de 2020 o PIB teve um recuo dramático, embora tenha tido a pandemia. Mas em 2019, quando não teve pandemia, o Brasil só cresceu 0,4%. Então tem alguma coisa errada na economia do país. Bolsonaro está caindo, ele está perdendo a popularidade, até porque ele é o principal opositor dele mesmo, com palavras de baixo calão, com lapsos verbais incríveis. E aí recentemente eu perguntei qual é o distúrbio mental que leva o presidente a proferir por sua boca tanta bobagem, tantos lapsos verbais, tanta coisa que não cabe no procedimento e na o conduta de um presidente da República, que dele se exige bom senso, equilíbrio emocional e compostura no exercício do cargo.
E os arroubos do presidente.... como o senhor viu os episódio da compra de alimentos, do leite condensado... Como o senhor avalia esse processo de culpar sempre a imprensa?
Eu tenho 35 anos de vida pública e nunca coloquei a culpa absolutamente na imprensa. Nem rádio, nem televisão, muito menos em jornal. A avaliação da imprensa é a avaliação correta do que está acontecendo. Se ele deseja uma imprensa subordinada a ele, ele tem que encontrar um país onde o direito livre da imprensa é cerceado. Ele tem que ir pra China, pra algum lugar desse aí. Então o comportamento do presidente é que realmente ele tem um espírito ditatorial. Tudo que contraria ele, ele agride, ele briga, ele quer destruir. Já fez isso naquelas manifestações contra o Poder Judiciário com os seus servidores, contra o Poder Legislativo, ameaçando, inclusive, a liberdade à democracia com as Forças Armadas e isso não tem condição. As Forças Armadas são um organismo de Estado, não são de partido, não são do presidente da República. E eu tenho certeza absoluta que jamais as Forças Armadas se subordinarão às atitudes ditatoriais do presidente da República.
Há espaço para se falar em impeachment, Otto?
Na crise sanitária que nós estamos vivendo, no desemprego, com o aumento dos casos da doença, de mortes, são duzentos mil brasileiros que já morreram, não é o momento apropriado para se abrir um processo de impeachment. O Congresso ia voltar suas vistas e considerar o impeachment prioridade, quando na verdade o Congresso deve estabelecer como prioridade recursos para salvar vidas, para recuperar a saúde, para comprar oxigênio, para comprar remédio, para abrir leitos hospitalares de UTI para salvar vidas. Então se estivéssemos vivendo num clima de normalidade, eu diria a você que estimularia o início do processo de impeachment na Câmara dos Deputados, através dos nossos representantes do PSD, que são 36 deputados federais. Mas nesse momento agora, impeachment para quê? Para obstruir as ações a favor do povo brasileiro? Então em um momento de gravidade como esse, não cabe ao Parlamento se manifestar com um balde de gasolina, jogar mais combustível no fogo. A falta de oportunidade de emprego está levando as pessoas à morte, então esse não é o momento. Mas se voltar à normalidade, eu, pelo que eu já li dos processos que já foram encaminhados na Câmara dos Deputados, inclusive recentemente ex-PGRs, que encaminharam recentemente, eu não tenho dúvidas de que o presidente já cometeu crime de responsabilidade.
O fim do auxílio emergencial preocupa?
Preocupa muito. Foi um dos temas que nós conversamos com o Rodrigo Pacheco, inclusive com o Davi Alcolumbre. Nós vamos defender pelo PSD que o Governo Federal tenha essa sensibilidade, voltar por pelo menos 4 ou 5 meses enquanto não existir uma imunidade através da vacina, voltar o auxílio emergencial. Isso foi uma coisa que nós discutimos e nós vamos defender agora na reabertura dos trabalhos aí do Congresso Nacional.
O ex-prefeito ACM Neto iniciou uma série de visitas pelo interior, começando aí a pavimentar a candidatura dele ao governo em 2022. Que cenário o senhor avalia dessa pré-eleição?
Olha, nós só vamos fazer uma avaliação da eleição de sucessão do governador Rui Costa politicamente a partir de março de 2022. Esse ano é um ano de trabalho, de dar solução aos problemas dos brasileiros, a crise, a saúde, o desemprego, a informalidade, a renda do auxílio emergencial, dos investimentos para ciência e tecnologia. Como é que o Brasil não tem estrutura para criar sua própria vacina? Incrível isso. É isso que eu falei da ciência, tecnologia e pesquisa. Então tem que abrir os olhos do país para parar de importar tecnologia de países emergentes, inclusive. O Brasil não pode ficar, com muita propriedade falou o governador Rui Costa, uma grande fazenda de produção de matéria prima, do setor primário e exportação de commodities, de minério, de soja, de algodão. Isso é super importante, o agronegócio, mas tem que ir, através disso, investir na ciência, na tecnologia, na pesquisa, para parar de importar tecnologia. Como é que um país como o nosso importa em torno de 95% dos insumos da produção de medicamentos? Você acha que os remédios vão abaixar quando enquanto estiver importando em dólar? Não vai abaixar nunca. Então é isso que nos preocupa muito.
O seu nome e do Wagner serão os candidatos do grupo político do governador. Existe algum risco de rompimento e divisão na base?
Você falou o nome de uma pessoa que eu tenho com ele sintonia fina na política, é o ex-governador Jaques Wagner. Não vejo nenhuma chance de desentendimento provocado da minha parte para que isso venha a acontecer. Da parte dele, você tem que perguntar a ele. Da minha parte não haverá, nem da parte do PSD. Muito menos com o governador Rui Costa, muito menos com o vice-governador João Leão. Da nossa parte e da parte do PSD. Eu não serei obstáculo, nem estorvo. Há um bom entendimento para 2022, mas, como eu lhe falei antes, essa avaliação mais segura será feita em março de 2022.
A disputa na Assembleia mostrou que o PT, PSD e PP se mantêm unidos e continuam uma fortaleza importante na política na Bahia. Se mantiver essa unidade serão imbatíveis para 2022?
Eu sempre vou lutar pela unidade da base. Agora mesmo o vice-governador João Leão com o governador Rui Costa lançaram a candidatura do prefeito de Jequié, Zé Cocá, pelo Partido Progressista, para presidir a União dos Prefeitos da Bahia. Imediatamente nós do PSD apoiamos. Então a unidade continua. Como eu lhe falei agora, da nossa parte, nós não seremos o vetor que vai, de maneira nenhuma, em condição nenhuma, provocar cisão dentro da unidade dos partidos que apoiam o governador Rui Costa.
Durante todo o processo o senhor se manteve distante da disputa pela sucessão da Assembleia e deixou isso a cargo do governador e dos deputados. Qual a sua expectativa para o mandato do deputado Adolfo Menezes?
Nos últimos anos, aliás, desde muito tempo, a Assembleia tem tido bons presidentes. Eu fui presidente e querem me excluir porque eu não gosto de autoelogios, nunca fiz autoelogio, autopromoção. Mas todos foram bons. Os recentes, desde Marcelo, Coronel, o próprio Nelson fez um bom trabalho, e Adolfo eu tenho certeza absoluta que vai ser um presidente que vai estar à altura das altas tradições políticas do Poder Legislativo da Bahia.
Esse cenário de crise econômica, que é ameaçado por conta da pandemia, e o momento que a gente está passando, é uma situação que preocupa, Otto? A quantidade de pessoas desempregadas aumentando, empresas fechando.
Preocupa muito e isso, nessa parte aí, de uma maneira geral, o Governo Federal é muito culpado. Primeiro, que na lei de reordenamento administrativo do Bolsonaro, ele cometeu um equívoco muito grande. Ele extinguiu o Ministério da Indústria, do Comércio, do Emprego e da Renda. Ele colocou como Secretaria no Ministério da Economia dominado pelo ministro Paulo Guedes. O ministro Paulo Guedes tem se esforçado do ponto de vista da economia, tem feito um esforço muito grande. Não tem surtido efeito, como eu te falei, não teve um crescimento econômico suficiente em 2019, o Brasil cresceu em 0,4 o PIB, mas depois que deixou de ter uma referência nacional para a atração de empresas, para implantação no Brasil, em todas as regiões do Brasil, e passou a ser Secretaria, diminui a importância da principal instituição na estrutura de governo para a atração de indústrias, empresas, investimentos, aqui no Brasil. Foi um erro muito grande que o presidente cometeu. Isso afetou muito não só a entrada de novas empresas, como a manutenção de outras tantas. A Honda, lá em Manaus, outras empresas que saíram do Brasil, que deixaram o Brasil, e não têm uma referência. É preciso que seja recriado esse Ministério e que ele coloque alguém que possa ter essa visão de país como um todo e possa conversar com investidores de outros países na busca de trazer indústrias e investimentos para a geração de emprego e renda. O caminho é esse.
A Tarde
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