Ele deixou claro que mobilizará os aliados dos Estados Unidos na
abordagem da crise. O objetivo é isolar o regime militar sem sacrificar
ainda mais a população, que é o que sanções econômicas produziriam.
A partir da democratização de Mianmar, em 2011, o então governo
Barack Obama, do qual Biden era um vice atuante na política externa,
retirou gradualmente as sanções impostas contra o antigo regime militar.
Mas manteve ou impôs novas sanções contra os comandantes militares por
suas violações dos direitos humanos. Donald Trump continuou com essa
pressão, depois da perseguição à minoria muçulmana rohingya, em 2017. Há
pouco a fazer nessa linha das sanções, que não atinja a população
birmanesa em vez dos militares.
A democracia está refluindo no mundo inteiro, e o Sudeste Asiático
não é exceção. Na Indonésia, os militares aumentaram sua influência; na
Malásia, o governo impôs estado de emergência, usando a pandemia como
pretexto, e reduzindo as liberdades civis. Nos outros países da região,
já vigorava o sistema de tutela militar do governo, que os militares
birmaneses procuraram manter nos últimos dez anos, e que sentiram que
poderia escapar de suas mãos, com a vitória avassaladora da Liga
Nacional pela Democracia, da líder civil Aung San Suu Kyi, nas eleições
de novembro. A nova maioria de 84% das cadeiras em disputa assumiria
nesta semana. Daí o timing do golpe.
Democracia e autoritarismo expressam a influência dos Estados Unidos e
da China, respectivamente, sobre os países asiáticos. Isso se torna
ainda mais agudo com a declarada intenção de Biden de reengajar os
Estados Unidos na causa da democracia, dos direitos humanos e do meio
ambiente.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden
Foto: CNN
"Vamos enfrentar os desafios impostos a nossa prosperidade, segurança
e valores democráticos pelo nosso mais sério concorrente, a China”,
afirmou Biden. "Vamos confrontar os abusos econômicos da China. Vamos
pressionar contra os ataques da China aos direitos humanos, à
propriedade intelectual e à governança global. Mas estamos preparados
para cooperar com Pequim quando for do interesse da América.”
O golpe em Mianmar coincide com a primeira operação militar dos
Estados Unidos sob o governo Biden na Ásia que coloca as forças
americanas em estreita flexão de músculos com a China. Uma
esquadra liderada pelo destróier USS John S McCain, armado com mísseis
teleguiados, iniciou na quarta-feira (3) uma incursão pelo Estreito de
Taiwan . A China, que reivindica a soberania sobre a Ilha de Formosa e
não reconhece o governo taiwanês, tem patrulhado constantemente a
região, por mar e ar, em operações percebidas como ameaça por Taiwan e
pelos Estados Unidos.
Uma vez que o regime de Xi Jinping já concluiu a retomada de Hong
Kong, com a imposição da lei de segurança nacional sobre o território,
Taiwan torna-se o foco de tensão nas relações entre Estados Unidos e
China, em termos militares e políticos. Claro que é uma disputa que
passa também pelos aspectos econômicos e tecnológicos, cuja maior
expressão são as pressões americanas para que os países aliados não
aceitem a participação da gigante chinesa Huawei em sua frequência de
5G.
Trump tinha uma abordagem marcada pela obtenção de vantagens
comerciais na disputa com a China. Biden retoma uma visão mais
abrangente, resumida na frase: “A América está de volta. A diplomacia
está de volta”. Quatro anos depois, a abordagem terá de ser atualizada,
diante dos avanços da China em todas as áreas, e respectivo recuo dos
Estados Unidos.
CNN
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