O efeito paralisante do navio porta-contêineres Ever Given no tráfego global ficou claro no domingo (28), quando a vizinha Síria, já marcada por anos de guerra, impôs um racionamento de combustível para proteger os suprimentos cada vez menores de petróleo.
Autoridades do Canal de Suez esperavam que a maré alta e os esforços de dragagem pudessem fazer com que o navio gigante fosse libertado na noite de sábado (27), quatro dias depois de ter encalhado. Mas, apesar do progresso da noite anterior em liberar o leme e a hélice, a embarcação continua travada no canal.
Enquanto isso, o acúmulo de navios aguardando trânsito pela vital hidrovia egípcia cresceu para 326, de acordo com a Leth Agencies, a prestadora de serviços do canal.
O Ministério do Petróleo e Recursos Minerais da Síria disse que o bloqueio do Canal de Suez "prejudicou o fornecimento de petróleo para a Síria e atrasou a chegada de uma embarcação que transportava petróleo e derivados para o país", relatou a agência estatal SANA.
Em meio a temores sobre o fornecimento de combustível, o país do Oriente Médio foi forçado a racionar "as quantidades disponíveis de derivados de petróleo, principalmente diesel e benzeno, para garantir sua disponibilidade vital pelo maior tempo possível", disse a SANA no sábado.
A medida foi tomada "para garantir a continuidade do fornecimento de serviços básicos aos sírios, como padarias, hospitais, estações de água, centros de comunicação e outras instituições vitais", segundo o ministério.
A Síria continuará racionando o fornecimento de petróleo até "o retorno do movimento normal de navegação pelo Canal de Suez, o que pode levar um tempo desconhecido", acrescentou.
O Ever Given, um enorme navio quase tão longo quanto o Empire State Building é alto, encalhou no canal egípcio na terça-feira (23) após ser pego por ventos de 40 nós e uma tempestade de areia. As autoridades também estão investigando possíveis erros humanos ou técnicos.
O bloqueio, naquela que é uma das vias navegáveis mais movimentadas e importantes do mundo, pode ter um grande impacto nas já esticadas cadeias de abastecimento globais, com interrupções aumentando a cada dia que passa.
Uma equipe de especialistas da empresa holandesa SMIT Salvage e da japonesa Nippon Salvage --que trabalhou em várias operações de alto perfil no passado-- foi nomeada para ajudar a Autoridade do Canal de Suez (ACS) a flutuar o navio, disse a empresa de fretamento Evergreen Marine em um comunicado.
As dragas têm trabalhado para remover grandes quantidades de areia e lama do lado de bombordo da proa do navio de 224.000 toneladas.
Em entrevista coletiva no sábado, o presidente da ACS, Osama Rabie, deu detalhes da operação de resgate, que descreveu como "tecnicamente difícil" e "envolvendo muitos fatores".
“Estamos diante de uma situação difícil e complicada. Trabalhamos em um solo rochoso, as marés estão muito altas, além do enorme tamanho do navio e da quantidade de contêineres que dificultam”, disse. "Não podemos definir uma data específica para o navio flutuar, depende da resposta do navio."
Cerca de 9.000 toneladas de água foram removidas do navio, disse Rabie, com a dragagem ocorrendo durante a maré baixa, enquanto 14 rebocadores trabalharam durante a maré alta. As equipes de resgate conseguiram reiniciar temporariamente o leme e as hélices na noite de sexta-feira, antes que a maré baixa paralisasse seus esforços, disse ele.
Dois rebocadores pesados adicionais são esperados para chegar ao Ever Given "provavelmente no início da noite" de domingo, um porta-voz da Boskalis, empresa irmã da SMIT Salvage, disse à CNN.
O par tem uma capacidade de extração combinada de cerca de 400 toneladas, disse o porta-voz Martijn Schuttevaer. Assim que os rebocadores chegarem, podem levar algumas horas para se conectar ao Ever Given, disse ele.
O presidente-executivo da Boskalis disse na sexta-feira que espera que a força de tração extra dos dois rebocadores --combinada com a dragagem, uma maré alta de 40 a 50 centímetros e a "força de alavanca" da popa do navio sendo relativamente livre-- possam ser suficientes para arrancar o navio de contêineres.
Um guindaste que poderia ser usado para retirar contêineres da proa do navio, caso o plano falhasse, também não chegou, segundo Boskalis. No sábado, Rabie descreveu esse cenário --que aliviaria a carga do navio-- como um processo demorado e trabalhoso ao qual eles esperavam "esperançosamente" não ter que recorrer.
Rabie acrescentou que as razões por trás do acidente permanecem incertas. "Existem muitos fatores ou razões. Ventos rápidos e a tempestade de areia podem ter sido uma razão, mas não a razão principal --pode ter sido um erro técnico ou erro humano", disse ele. "Haverá mais investigações."
Enquanto isso, bilhões de dólares em cargas vitais e produtos
sensíveis estão acumulados nas centenas de navios cujo caminho está
bloqueado. Cerca de uma dúzia deles carrega gado.
O diretor da ONG
Animals International na UE, Gabriel Paun, alertou que milhares de
animais transportados nos navios --a maioria romenos-- correm o risco de
morrer se a situação não for resolvida nos próximos dias.
CNN
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