Partidos de centro da política nacional começam a se movimentar antevendo o clima de polarização que pode se repetir em 2022, na disputa para presidente da República.
Com a absolvição do ex-presidente Lula e o resgate de seus direitos políticos, parlamentares e especialistas acreditam que o petista ganhou força política e ressonância, tendendo a chegar no ano que vem como a principal voz de oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), repetindo assim a polarização ocorrida em 2018.
“Bolsonaro e Lula são a mesma coisa. Querem a violência, a ruptura, a polarização. Agora, a unidade do centro se torna imperativa. Os nomes terão de se definir. Não dá para esperar o fim do ano para decidir quem é o nome capaz de unir o centro”, afirmou o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta , cotado para disputa da presidência pelo Democratas, em entrevista à Revista Istoé.
Outro nome cotado a ir à público cobrar uma resposta rápida da centro-direita na apresentação de uma candidatura foi João Amoedo, empresário e presidente nacional do Novo.
“Nós caminharemos para uma consolidação de nomes. É o cenário que tornará viável que nós possamos sair dessa polarização entre PT e Bolsonaro. É natural que isso ocorra. Não será um processo fácil, porque muitas pessoas podem ter como objetivo a candidatura, mas na medida que houver uma percepção que o nosso objetivo não é ter uma candidatura, mas sim melhorar o Brasil, será natural que haja, pelo menos por parte da centro-direita, uma consolidação em um nome que possa ser competitivo e uma opção de fato”, destacou ele, em entrevista ao programa Bahia Notícias no Ar.
Centro-esquerda
A retomada dos direitos políticos de Lula e sua possível candidatura também altera os planos no tabuleiro da centro-esquerda, que contava até então com uma disputa velada que ia de Fernando Haddad (PT) a Ciro Gomes (PDT), passando por Flávio Dino (PCdoB), Guilherme Boulos (PSOL) e podendo alcançar até Luiza Trajano, empresária e proprietária da rede varejista Magazine Luiza.
Ciro afirmou que, caso o PT indique o ex-presidente Lula para concorrer à presidência, eles caminharão em campos opostos.
Aglutinador
O A TARDE ouviu parlamentares baianos de diversos partidos e a maioria apontou que o ex-presidente Lula teria a capacidade de aglutinar políticos e partidos para formação de uma frente ampla de centro esquerda para Bolsonaro (sem partido).
“A grande tarefa é derrotar Bolsonaro, é isso que a sociedade quer e precisa. Eu só posso achar que o nome de um homem que foi melhor presidente da história do país, um estadista respeitado internacionalmente e com uma popularidade altíssima, índice altíssimo de aprovação, um imã, agrega, não posso achar que um nome deste seja desagregador”, destacou o presidente do Podemos Bahia, o deputado federal Bacelar, tecendo elogios ao Lula.
O vice-líder do PT na Câmara dos Deputados, Afonso Florence, comemorou o resgate dos direitos políticos Do ex-presidente. “Lula era o único que derrotaria Bolsonaro em 2018, era o que as pesquisas apontavam; é o único que pode vencê-lo em 2022. Então, para ganhar, Lula é o melhor candidato para a frente de esquerda”.
O coordenador da bancada de deputados federais e senadores da Bahia, Marcelo Nilo (PSB), avalia que Lula é capaz de unir os partidos e políticos em torno de um projeto para fazer o país voltar a crescer, já que ele “não é radical” e “dialoga com todo mundo”.
“O discurso de Lula na coletiva no ABC foi sensato, equilibrado, acenou tanto para o interesse do grande capital nacional quanto para os trabalhadores, construindo alianças. Lula defende um caminho para o Brasil de conciliação e diria que muito parecido construiu lá atrás, com José Alencar (PR)”, destacou o deputado federal Zé Neto (PT), lembrando do discurso do ex-presidente Lula durante coletiva no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na última quarta-feira (8).
Entre parlamentares do PCdoB há divergências. enquanto a deputada Alice classifica Lula como “uma grande alternativa para derrotar Bolsonaro”, com “capacidade de comandar uma frente da oposição”, o parlamentar Daniel Almeida (PCdoB) indica que o retorno do ex-presidente ao cenário político irá “favorecer a polarização”, impondo o desafio de “trabalhar por um projeto nacional que una diversos partidos e lideranças em um eventual 2º turno eleitoral”.
O senador Otto Alencar (PSD) evita emitir um parecer conclusivo. Ele avalia que a política brasileira nos últimos anos tem vivido de “espasmos, contrações e surpresas”.“Toda hora acontece um fato novo, não dá para saber o que ocorrerá em 2022. Estamos no centro de uma pandemia que segue ceifando vidas, submersos em uma crise econômica sem precedentes, é difícil imaginar o que vai acontecer lá na frente”.
Bloco na rua
O cientista político e professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), Cláudio André, acredita que o ex-presidente poderá ser o aglutinar de lideranças partidárias e legendas, o que faltava para composição de uma frente ampla de centro-esquerda.
“Lula é aglutinador. Primeiro, ele tem capital social e político, capacidade eleitoral, de voto. É bom lembrar que, em 2018, todos candidatos, liderança de esquerda, falavam abertamente que Lula, podendo se candidatar, era o candidato da união das esquerdas. E neste momento voltamos a ter esse fator aglutinador”, sinalizou André.
Ele avalia que o comportamento do PDT é provocado pelo fato da sigla ter um projeto nacional próprio, com Ciro Gomes encabeçando, assim como segmentos internos do PSB, que formam setores mais distantes do PT nos interesses estaduais: “De alguma maneira, quando se pensa em candidatura presidencial, não se pode ignorar as disputas estaduais. A resistência que Lula tem e que pode vir a ter dentro dos estados, depende das montagens estratégias, de quem abre mão”.
André acredita que Lula não irá “radicalizar” e vê o ex-presidente mais distante do Psol e mais próximo de partidos do centro político. O especialista acredita que Lula “vai construir diálogo, fazer acenos com possibilidade de contemplação dos interesses do mercado, dialogando partidos de centro-direita''. Ele pontua que a estratégia do PT será de “aglutinar uma união máxima da centro-esquerda, dialogando com setores do centro, esvaziando Bolsonaro, colocando a disputa do lado de lá”, em referência à arrumação no bloco da direita.
O doutor em História e professor da UFBA, especialista em história política, Carlos Zacarias, explica que no Brasil nunca houve uma frente ampla de fato, e pontua que o que chegou mais perto disso foi o governo de coalizão implantado pelo ex-presidente Lula, principalmente no segundo mandato.
Ele avalia que a formação de uma frente ampla, “como hoje se fala”, que “incorpore”, por exemplo, “João Dória (PSDB-SP), Rodrigo Maia (DEM-RJ), Luiz Mandetta (DEM-MT) e Lula (PT)” como algo “muito difícil, Improvável de acontecer”, apesar “do aceno de Maia para para Lula nos twitter”, enquanto o político discursava no ABC.
Ele também não acredita que o PDT e Psol devam caminhar junto ao PT, apesar de acreditar que o Psol, pela proximidade ideológica, teriam até mais chance, mas pondera que cada um destes partidos têm planos e candidaturas para 2022.
“Então, o que eu acredito é que o mais provável daqui até 2022 é que o PT venha a tentar reeditar aquele arco de alianças com setores deslocados da base daquilo que se chama de direita e de centro-direita, que, descontente com aquele campo ou talvez suscetíveis a acenos e a possibilidades na eventualidade de Lula vir a se eleger, virem a compor com o PT nessa perspectiva; porque o PT volta a estar na jogada e a ter grandes chances”, destacou Carlos Zacarias.
A Tarde
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