Sede do Bope, em Laranjeiras Foto: Divulgação
Cinco policiais egressos do Batalhão de Operações Especiais (Bope) foram expulsos da PM por vazarem informações sobre operações da unidade em troca de pagamentos de traficantes. Todos os agentes foram presos em 2015 e condenados a até 80 anos de prisão. Neste domingo, o EXTRA revelou que o esquema de "venda de operações" da quadrilha se manteve ativo mesmo após as prisões dos cinco agentes. Foram excluídos da corporação o soldado Raphael Canthé dos Santos, os cabos Silvestre André da Silva Felizardo, Maicon Ricardo Alves da Costa e Rodrigo Meleipe Vermelho Reis e o sargento André Silva de Oliveira. Como não são mais policiais, os cinco serão transferidos da Unidade Prisional da PM, em Niterói, para o Complexo de Gericinó, na Zona Oeste do Rio.
Uma investigação do Ministério Público do Rio, ainda em andamento, revela que o esquema seguiu de pé graças à ex-mulher de um dos PMs presos. Carla Oliveira de Melo, que foi casada com o cabo Silvestre Felizardo — apontado, em 2015, como chefe da quadrilha de policiais —, foi flagrada, em diversas ligações, recebendo informações sobre operações do Bope até meados de 2019, quatro anos depois da prisão do ex-marido.
Num dos diálogos, um policial diz para Carla que estavam “seguindo para Santa Cruz ‘duas cheias’” — referência a duas viaturas que saíram do batalhão rumo ao bairro da Zona Oeste. Antes de desligar, o agente ainda chamou Carla de “chefe”. Para os investigadores, a expressão indica que a mulher herdou o comando do bando do ex-marido preso. A conversa aconteceu no segundo semestre de 2018, três anos depois da operação que revelou o esquema. Uma pesquisa feita no Livro de Partes Diárias do Bope confirmou que, de fato, no dia da ligação, viaturas da unidade saíram do quartel em direção a Santa Cruz.
A investigação também apura se operações do Batalhão de Choque foram vazadas para a quadrilha. Após a prisão do cabo Felizardo, Carla Melo passou a se relacionar com outro PM, o também cabo Franco Guayanaz Maurício, oriundo do Choque. O MP descobriu que Guayanaz foi apresentado a Carla por intermédio do ex-marido preso.
No último dia 14, Felizardo, Guayanaz e Carla foram alvos de mandados de busca durante a operação Rainha de Copas, decorrente de uma outra investigação da Polícia Civil que apura o crime de lavagem de dinheiro. O padrão de vida de Guayanaz, que segue solto, chamou a atenção dos investigadores. O cabo tem uma lancha avaliada em R$ 510 mil, que fica ancorada num resort de luxo em Mangaratiba, e fazia uma série de viagens com a mulher para o exterior.
Em dezembro de 2019, por exemplo, o casal passou o Natal em Nova York. Em novembro do ano passado, o PM recebeu R$ 2.920 líquidos de salário da corporação. O MP investiga se os bens do agente são fruto da "venda" de operações.
Felizardo e seus comparsas seguiram na PM mesmo presos graças a uma decisão que paralisou, por dois anos, o processo administrativo que pode resultar em suas expulsões da corporação. Em setembro de 2016, o juiz Marcelo Barbosa, então titular da Vara de Mangaratiba, determinou a suspensão do processo que avaliava a conduta dos cinco caveiras presos. A decisão foi derrubada meses depois, mas o procedimento ficou parado até dezembro de 2018. Atualmente, Barbosa é alvo de uma investigação no Tribunal de Justiça do Rio por assinar uma série de decisões que permitiam o retorno de agentes expulsos à PM.
Traficante entregou policiais
O julgamento que levou à condenação dos cinco PMs do Bope trouxe à tona a proximidade entre o grupo e um dos chefes do tráfico da maior facção do Rio. Leonardo Barbosa da Silva, o Léo do Aço, foi chamado para depor como testemunha de defesa dos policiais — ou seja, os advogados dos caveiras tinham como objetivo que o bandido desmentisse a acusação. Léo do Aço, no entanto, admitiu que fazia pagamentos semanais de até R$ 70 mil a um policial do Bope.
Durante seu depoimento, o chefe do tráfico afirmou que havia uma relação de “respeito” entre policiais e traficantes. Ele chegou a ordenar que os PMs, ao se dirigirem aos bandidos, deveriam dar sempre “bom dia” ou “boa noite” e determinou que os policiais deveriam pedir desculpa quando não avisassem sobre alguma operação.
Em agosto de 2019, Léo do Aço foi executado com uma série de tiros de fuzil na porta de um motel. Até hoje, o crime não foi esclarecido.
Extra o Globo
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