Agora desidratada após o recuo de clubes ingleses, a criação da Superliga causou enorme polêmica no futebol. Insatisfeitos com a Uefa, 12 clubes europeus anunciaram a criação de um campeonato exclusivo, que, supostamente, geraria mais receita para esses clubes do que na disputa da tradicional Champions League.
Hoje, a Uefa (União das Associações Europeias de Futebol) fica com
25% das receitas da Champions League, que é a maior competição entre
clubes de futebol do planeta. Este é um dos motivos da revolta de times
como Real Madrid, Barcelona e Manchester United.
A ideia dos 12 times seria criar algo com o modelo dos esportes norte-americanos, onde as disputas acontecem sempre com os mesmos times e não há rebaixamento.
Com times grandes jogando entre si toda semana, a disputa atrairia mais atenção do público e, consequentemente, de patrocinadores.
O presidente da polêmica liga é Florentino Pérez, que também comanda o Real Madrid. Ele foi o responsável pelo time “galáctico” com Ronaldo, Figo, Beckham e Zidane. Nesta segunda (19), ele usou uma suposta falta de interesse dos jovens pelo futebol como argumento para criação da Superliga.
"Existem muitos jogos de baixa qualidade e os jovens, que têm outras plataformas para se distrair, não têm interesse"
Florentino Pérez, presidente do Real Madrid e da Superliga
Mas tudo não deve passar de um blefe. “Os clubes precisavam criar um fato novo para ter maior poder de negociação com a Uefa. São dirigentes com muita experiência e sabem das consequências da decisão”, analisa Pedro Oliveira, CEO da consultoria Outfield.
Para o executivo, os clubes têm grandes chances de sucesso de conseguir mais poder de barganha com o movimento agressivo. Apesar de muito impopular, a ideia da criação de uma liga sem o apoio da Uefa coloca muita pressão na entidade, que sabe que esses times são os que mais atraem receita.
"A SuperLiga também pode ser vista como uma maneira de pressão na Uefa, uma forma dos clubes assumirem mais protagonismo”, avalia Amir Somoggi, sócio diretor da Sports Value.
O movimento dos gigantes europeu gerou revolta da Uefa, de técnicos, jogadores e torcedores. A reação foi extremamente negativa, e a Uefa prometeu banir os clubes rebeldes, enquanto a Fifa avisou que os jogadores desses times ficarão de fora das competições internacionais –imagine uma Copa do Mundo sem Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar.
A Superliga também pode ser vista como um movimento desesperado dos clubes, que fecharam 2020 com prejuízos milionários.
Prejuízo dos clubes europeus em 2020
É sustentável?
O que os idealizadores da Superliga esqueceram é que, para sustentar um sistema como o norte-americano, é preciso uma estrutura como a construída pelas ligas de beisebol, basquete e futebol americano do país.
Nos EUA, não há rebaixamento, mas os times que tiveram resultados ruins têm direito a escolher os melhores atletas que saem das universidades e, assim, construir times mais competitivos para as próximas temporadas. Isso acontece graças a um sistema que incentiva a prática desses esportes nas universidades, com forte desenvolvimento de atletas.
O futebol não tem esse tipo de estrutura por trás. Os jogadores geralmente são formados nos próprios clubes, que investem muito nas categorias de base para achar jovens talentos. É muito comum que o mercado europeu olhe para ligas menos desenvolvidas, como as da América do Sul, para encontrar jogadores. É algo que ajuda no sustento dos times menores.
E mais: os esportes dos Estados Unidos estão caminhando em sentido oposto ao que a Superliga sugere trilhar, com muitos jogos para gerar receita. Na NBA (liga norte-americana de basquete), por exemplo, a ideia é reduzir o número de jogos. Na temporada regular atual, cada time disputa 72 jogos, dez a menos que o normal há alguns anos.
Os dirigentes da Superliga querem fazer uma espécie de nova Champions com 225 partidas disputadas –cem a mais que no formato atual.
Trabalhar com uma liga fechada poderia trazer esse aspecto “premium” para a Superliga e gerar receitas maiores para os times, mas a forma como o futebol foi pensado como esporte não permite a construção de um desses modelos que seja sustentável.
“Olhar para os Estados Unidos como exemplo para tudo não funciona. O futebol tem um forte apelo social, é muito participativo em sua essência e é global”, avalia Oliveira.
CNN
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