Divisão da herança de R$ 30 milhões de Agnaldo Timóteo gera conflito na família

 

O cantor Agnaldo Timóteo morreu neste sábado (3), no Rio de Janeiro, em decorrência de complicações da covid-19. Agnaldo, que tinha 84 anos, estava internado desde 17 de março no hospital Casa Bernardo, na capital fluminense. Ontem, um boletim divulgado apontava que ele tinha sofrido uma piora e seguia na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em estado grave.

"É com imenso pesar que comunicamos o falecimento do nosso querido e amado Agnaldo Timóteo. Agnaldo Timóteo não resistiu as complicações decorrentes do COVID-19 e faleceu hoje às 10:45 horas. Temos a convicção que Timóteo deu o seu Melhor para vencer essa batalha e a venceu! Agnaldo Timóteo viverá eternamente em nossos corações! A família agradece todo o apoio e profissionalismo da Rede Hospital Casa São Bernardo nessa batalha. A Família informa  que a Corrente de Fé, com pensamentos positivos e orações, permanecerá, em prol de um mundo melhor! #LuzTimóteo!", diz a nota enviada à imprensa.

Em 2019, Agnaldo chegou a ficar três meses internado no Hospital Geral Roberto Santos, em Salvador, após passar mal e sofrer um acidente vascular cerebral em Santa Rita de Cássia, no oeste baiano, onde faria um show. 

Trajetória
Com mais de 50 anos de carreira, Agnaldo Timóteo tinha uma voz potente e marcante que, junto com seu carisma e irreverência, o levaram a ser um dos mais populares artistas do Brasil. O cantor não rejeitava o rótulo de brega, mas acreditava que fazia apenas música romântica de boa qualidade. De 1965 até o início desse ano, gravou mais de 50 discos e vendeu milhões de cópias.

"Inventaram que sou cafona. Eu sou elegantíssimo. Um dos caras mais elegantes do rádio brasileiro", disse Agnaldo Timóteo no final do ano de 1970, em entrevista ao Pasquim.

Mineiro de Caratinga, município que fica a 322 quilômetros de Belo Horizonte, Timóteo nasceu em 16 de outubro de 1936 e saiu de casa aos 16 anos. Ficou conhecido como Cauby Mineiro, foi torneiro mecânico (dos 14 aos 28 anos) enquanto participava de programas de calouro em rádios de cidades como Governador Valadares e Belo Horizonte. 

Seu primeiro álbum, Surge um Astro, foi lançado em novembro de 1965

Ele fez um dos primeiros shows na Bahia, local que, segundo amigos, tinha grande apreço. Era 1964 quando o conhecido O Tabaris Night Club, uma das maiores casas de espetáculos da Bahia entre os anos 1950 e 1960, recebeu o artista. O estabelecimento, que funcionava em um prédio antigo na Praça Castro Alves, em Salvador, fechou em 1968.

O Tabaris funcionava na Praça Castro Alves (à direita da foto)
(Foto: Divulgação)

“A minha carreira começou em Salvador, n'O Tabaris, quando tive as minhas primeiras alegrias como cantor”, revelou Timóteo, em 2015. Na época, o artista também se apresentou na Rádio Excelsior.

“O conheci quando veio para cá, antes de ir para o Rio de Janeiro. Ele cantou e fez sucesso n’O Tabaris. Na época, eu era diretor artístico da Rádio Excelsior e ele também se apresentou no nosso auditório”, conta o empresário e produtor baiano Edmundo Viana, 85, que era amigo pessoal de Agnaldo.

Viana trabalhou com o cantor na produção dos shows que fez pela Bahia nesses quase 55 anos de carreira e conta que o artista adorava a Bahia. “Agnaldo foi a muitas cidades do interior da Bahia e adorava Salvador. Afinal, foi aqui que ele iniciou a carreira”, conta o amigo.

Pouco tempo depois, Timóteo mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como motorista da cantora Ângela Maria, ícone da Era do Rádio, com quem teve parcerias posteriormente. Enquanto isso, continuou a carreira e aos poucos ficou conhecido nacionalmente.

A canção Meu Grito, composta por Roberto Carlos e gravada por ele, foi um grande divisor de águas na sua carreira. Depois dela, vieram vários sucessos como Ave-Maria, Mamãe e Os Verdes Campos De Minha Terra.

Agnaldo Timóteo foi um dos ídolos do iê­iê­iê, já na avançada idade de 29 anos: "Eu não estive apenas uma vez ou outra no Jovem guarda. Participei do programa até que ele acabou. Cantava A Casa do Sol Nascente, Hava Naguila, quase não gravei com conjuntos. Gravava com orquestra, trabalhei muito com o maestro Peruzzi", disse Timóteo, ao Jornal do Commércio. Ele teve os Fevers em alguns discos, e o organista Lafayette toca com em Esse Amor que Eu Não Queria, versão de Whiter Shade Of Pale (Gary Brooks/Keith Reeds, original do Procol Harum).

Em 1982, o cantor iniciou uma carreira paralela na política, quando elegeu-se deputado federal no Rio de Janeiro, pelo PDT.

Agnaldo Timóteo foi eleito deputado federal em 1982

Reverências
Filho de dona Catarina, Agnaldo sempre ressaltava que suas canções falavam sobre amor e família. “As mães sempre tiveram um tratamento especial na minha obra, em decorrência de ter sido um filho com enorme amor à minha mãe. Todas as minhas canções falam de amor, e, quando se fala de amor, se fala de toda a família ", afirmou em 2015, quando lançou um álbum em homenagem às mães.

Também fez muitas referências à amigos e colegas em sua obra. Gravou músicas de Roberto Carlos, Anísio Silva, Ângela Maria, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e Moacyr Franco. Seu último CD, Reverências, foi lançado em 2018.

Gravado ao vivo em apresentação no Teatro Itália na cidade de São Paulo (SP), em 29 de junho, o álbum alinha saudações do cantor a colegas como Elis Regina (1945 – 1982) – de cujo repertório Timóteo revive Fascinação (F. Marchetti e Maurice Feraudy em versão de Armando Louzada, 1904) – e Tim Maia (1942 – 1998), lembrado através da balada Me Dê Motivo (Michael Sullivan e Paulo Massadas, 1983), canção-de-corno que se tornou um dos maiores sucessos de Tim na década de 1980.

No mesmo CD, curiosamente, o cantor reverencia Gonzaguinha (1945 – 1991) com outro registro de Grito de Alerta, música lançada por Timóteo no mesmo ano de 1979 em que Maria Bethânia deu voz à composição em gravação para o álbum Mel (1979) que ganhou projeção nacional.

Na época, Timóteo ficou chateado com Gonzaguinha pelo fato de o compositor também ter cedido a música para Bethânia, já que, de acordo com o cantor, Grito de Alerta foi feita com base em um caso de amor vivido pelo próprio Timóteo.

E, por falar em vida amorosa, o artista sempre foi discreto em relação a isso. Só que letras como a de Galeria do Amor muitas vezes geraram burburinhos sobre a possibilidade dele se relacionar com homens, o que Agnaldo confirma no documentário Eu, Pecador (2017), dirigido por Nelson Hoineff. O filme, inclusive, deixa claro que Timóteo vai além de rótulos e definições e que sempre travou uma luta interna contra os próprios desejos.

Eu, Pecador é também o nome de uma música lançada por ele em 1977. A composição, assinada pelo cantor, indica um sentimento de culpa por conta de sua orientação sexual.

Um episódio que tornou-se popular neste quesito foi a participação de Timóteo no programa Superpop, da Rede TV, em 2011. Em um bate-papo com Felipeh Campos, o colunista disse que, assim como ele, o cantor seria homossexual assumido.

O músico rebateu prontamente: “Não, não. Não sou não. Nem assumido, nem desassumido. Apenas Agnaldo Timóteo”. Essa, talvez, seja a melhor definição para um ser humano tão bem-humorado e multifacetado quanto ele.

Correio 24 Horas


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