A imagem de uma criança de etnia Yanomami, distribuída pelo missionário católico Carlo Zacquini, chocou e sensibilizou brasileiros, ao ser publicada na edição de segunda-feira, dia 10, do jornal Folha de S. Paulo. Ossos à mostra, braços finos, pequeno corpo debilitado, entregue a uma rede, são evidências da composição escrita à luz, tendo como efeito a denúncia da situação sofrida pelo povo originário, em região de difícil acesso, sita à floresta amazônica, Roraima, Brasil.
Segue-se a possível complementariedade de proposições: se o poder público permitia a ocorrência, agora o fato é de conhecimento geral e, então, terá de cumprir, já, pacto estabelecido com a cidadania brasileira, necessariamente formada por indiodescendentes. Não tendo como predicar ambas as premissas falsas, resta a conclusão pelo socorro imediato às aldeias, considerando o flagelo geral dos herdeiros diretos de primevos habitantes, representados na sofrida curuminha da comunidade Maimasi.
A impressão produzida pela fotografia ganha tons grenás, apropriados a cor-de-sangue, quando se sabe a Terra reservada aos indígenas, a maior do país, portanto a mais representativa diante do avanço do garimpo, das boiadas e do desmatamento. É plausível acrescentar o mal do descaso aos diagnósticos de malária, pneumonia, verminose e desnutrição, coleção de moléstias a acometer a infância da indiazinha de 7 anos, desassistida por quem teria de cumprir o dever constitucional: o Estado brasileiro.
Postos de saúde fechados, mesmo a bem divulgada cloroquina, entre outros medicamentos eficazes para as enfermidades típicas da mata, estão em falta, embora o Ministério da Saúde confronte a realidade nas divergentes versões de seus autorizados prepostos. Em proporções maiores, se relacionada ao referido abandono, pontifica a volta do medo, como vetor decisivo de inibição dos conhecedores do massacre silencioso daqueles furtados e assassinados, desde a chegada das caravelas, em contínua matança por 521 anos.
A TARDE
0 Comentários