Sem a possibilidade de interrogar Lázaro Barbosa de Sousa — principal suspeito de matar a família Marques Vidal, em Ceilândia Norte —, as polícias civis do Distrito Federal e de Goiás investigam a participação de, ao menos, duas outras pessoas no crime. Além disso, nessa terça-feira (30/6), o delegado Cléber Martins, titular da 17ª Delegacia Regional de Polícia (DPR), em Águas Lindas (GO), informou que vai indiciar a ex-companheira de Lázaro. Identificada apenas como Luana, 30 anos, ela pode responder por favorecimento pessoal, se o tiver ajudado na fuga.
Até terça-feira (30/6), Luana não havia prestado depoimento, mas os investigadores acreditam que ela teria colaborado com o fugitivo. Testemunhas ouvidas pela polícia alegaram que Lázaro chegou à casa da ex na noite de sábado (27/6), não no domingo (27/6), como ela havia informado às equipes das forças de segurança. Com as apurações em Goiás, os agentes também chegaram a novos nomes que podem ter agido com o criminoso antes, durante e depois de assassinar a família.
A fuga de Lázaro durou 20 dias. Ele foi morto na manhã de segunda-feira (28/6), durante confronto com uma equipe de 10 policiais. O boletim de ocorrência detalha que os homens dispararam 125 tiros enquanto o foragido estava atrás de um arbusto, em uma mata fechada. As equipes do Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque) e do Comando de Operações de Divisas (COD) chegaram a Águas Lindas depois de receberem denúncias por parte de moradores da região. Mais cedo, de madrugada, o grupo viu Lázaro, mas ele conseguiu fugir para uma área de vegetação densa e atravessar um rio.
As equipes percorreram 5km a partir desse local e se dividiram para seguir o curso d'água. Após percorrer 1,5km mata adentro, uma parte dos policiais encontrou Lázaro. Ele saiu do rio e correu na direção de um arbusto, supostamente, para fugir do radar de um helicóptero que sobrevoava a região. Em seguida, segundo a ocorrência, o fugitivo teria atirado diversas vezes contra as equipes, que não conseguiram localizar o alvo. “Depois de nos abrigarmos, foi possível identificar que os disparos vinham, incessantemente, de dentro de uma espécie de arbusto bem fechado”, descreveram os militares no relato.
As equipes informaram à Polícia Civil que pediram para Lázaro soltar a arma e se entregar, mas o fugitivo não recuou. Nesse momento, começou uma “intensa” troca de tiros entre as equipes e o foragido. Ao fim do tiroteio, o grupo se aproximou e encontrou Lázaro com uma mochila. Ele tinha duas armas: um revólver calibre 38 com seis balas usadas e uma pistola com toda a munição descarregada. O documento não detalha se Lázaro foi encontrado caído. A informação divulgada oficialmente foi de que ele estava vivo. Contudo, o foragido levou 39 tiros durante a ação.
Alguns moradores da região onde houve o confronto relataram que militares em um helicóptero também dispararam contra Lázaro. Porém, não há informações no boletim sobre quantos tiros teriam partido da equipe na aeronave. Questionada, a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) não se posicionou até o fechamento desta edição.
Testemunhas
Uma das vizinhas de Luana contou ao Correio que quase teve a casa invadida por Lázaro na noite de domingo. A testemunha, que não quis se identificar, relatou que, por volta das 20h, recebeu uma mensagem dos irmãos. Eles avisaram que Lázaro tentava entrar no imóvel da família. “Enviaram para mim: ‘Socorro, o Lázaro está aqui’. Meu marido e eu descemos desesperados, ligando para a polícia. Quando chegamos de carro, ele (Lázaro) se abaixou e se escondeu atrás de umas manilhas”, disse a entrevistada.
O episódio ocorreu em uma estrada de terra batida, ao lado de uma área com mata fechada, para onde Lázaro fugiu. “Aqui (em Itamaracá, bairro de Águas Lindas) sempre foi um local muito tranquilo, mas, ontem (segunda-feira), senti muita aflição. Nunca houve um movimento tão grande, e ainda temos receio”, completou.
O irmão da testemunha pensou em conversar com Lázaro: “Tinha certeza de que ele não faria nada se não fizéssemos nada com ele. Eu o vi descer, virar e entrar nos matos. Na hora, pensei em chamá-lo para ver o que queria. Eu o conhecia de outras épocas, quando ele morava nesta mesma rua com o irmão que morreu. A gente pegava emprestada água da casa deles e nunca deu problema”, contou. O entrevistado acrescentou que desistiu do diálogo ao perceber que o foragido estava armado. “Corri para casa e mandei minha tia chamar a polícia. Eles (policiais) chegaram por volta das 9h40”, detalhou.
Na manhã dessa terça-feira (30/6), a reportagem do Correio percorreu parte da trilha por onde Lázaro teria passado. O trecho é sinuoso e de vegetação densa, com valas, cobras, nascentes, pontes e fica mais difícil de completar à medida que a mata avança. Alguns moradores sentem medo do aparecimento de possíveis criminosos associados a Lázaro. “(O fim das buscas) não deu muito alívio, porque a história não foi resolvida. Não sabemos o que está por trás nem o que pode acontecer. Os comparsas podem querer revidar. A apreensão continua”, finalizou o entrevistado.
O que falta descobrir
» Lázaro agiu sozinho ao matar os quatro integrantes da família Marques Vidal?
» O assassinato teria sido encomendado?
» Além de ter trabalhado na fazenda de Elmi Caetano Evangelista, Lázaro fez
outros trabalhos para o chacareiro que o abrigou durante a fuga?
» Há outros suspeitos de ajudar Lázaro a escapar?
» Em quais ocasiões outras pessoas podem ter contribuído com o fugitivo?
» Quais as possíveis motivações do grupo criminoso que estaria por trás das
ações de Lázaro?
Correio Brazielenze
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