O Brasil superou neste sábado a barreira de 500 mil mortos pela Covid-19, anunciou o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Segundo dados do ministério, nas últimas 24 horas houve 2.301 mortes, elevando o total para 500.800.
"Quinhentas mil vidas perdidas pela pandemia que afeta o nosso Brasil e todo o mundo", tuitou o ministro. O número de casos da doença aumentou hoje em 82.888, totalizando 17.883.750.
O país, de 212 milhões de habitantes, é o segundo a superar 500 mil mortos, depois dos Estados Unidos, e enfrenta desde janeiro a segunda onda da pandemia. Existem temores de uma terceira onda, devido ao novo pico das curvas de infectados e mortos. Dos 500.800 óbitos, 61% (305.851) ocorreram este ano.
"A terceira onda está chegando, já começa a haver uma mudança na nossa curva de casos e de óbitos. Estamos com vacinação lenta, que é o que poderia fazer a diferença, e não temos uma sinalização de medidas de restrição, muito pelo contrario", disse à AFP a epidemiologista Ethel Maciel, da Universidade do Espírito Santo (Ufes).
Em seu tuíte, o ministro Queiroga afirmou que trabalha "incansavelmente para vacinar todos os brasileiros no menor tempo possível e mudar esse cenário que nos assola há mais de um ano".
Segundo o último relatório semanal da Fiocruz, o Brasil vive uma situação crítica, com "um platô de mortes elevado e a possibilidade de agravamento nas próximas semanas, com a chegada do inverno".
O nível de ocupação dos leitos nas unidades de terapia intensiva (UTI) supera os 80% em 19 dos 27 estados do país e 90% em oito deles, detalhou a Fiocruz.
A pressão sobre o sistema de saúde evoca as imagens horríveis registradas no início do ano em Manaus, no Amazonas, onde dezenas de pessoas morreram asfixiadas por falta de oxigênio medicinal nos hospitais. No entanto, a vida parece quase normal nas grandes cidades, com restaurantes e comércios abertos e muitas pessoas sem máscaras nas ruas.
Pandemia 'maratonista'
"Parece que a gente não saiu da primeira onda. Parece que só deu uma reduzida. Parece que agora a pandemia virou um corredor maratonista, que está dosando sua forma de fazer a prova", afirmou Alexandre da Silva, pesquisador e doutor em saúde pública pela Universidade de São Paulo (USP).
Silva considera que o Brasil, mais do que uma pandemia, vive uma "sindemia", em que a emergência sanitária se potencializa mutuamente com as devastações socioeconômicas.
O desemprego atingiu níveis recordes, com quase 15 milhões de pessoas procurando trabalho. No Senado, uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) investiga desde abril a responsabilidade do governo na magnitude da tragédia.
"Infelizmente, o Brasil é uma bomba-relógio [por causa da pandemia]. Se as vacinas não chegarem, se insistir nessa não articulação dos atores sociais para política de saúde e assistência social, corremos risco de ter muitas mortes desnecessárias", alerta Silva.
A campanha de vacinação, iniciada em meados de janeiro, sofreu uma série de interrupções por falta de insumos, mas quantidades importantes de lotes chegaram nos últimos dias, permitindo acelerar a imunização em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.
Ainda assim, apenas 29% da população recebeu a primeira dose da vacina e 11,36%, a segunda, segundo dados oficiais.
'Copa Covid'
Bolsonaro se opõe às medidas de confinamento, em nome de seu impacto econômico negativo e liberdade de circulação.
Ele também questiona a eficácia das vacinas e a utilidade das máscaras, promove medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19 e insiste em viver quase como se nada estivesse acontecendo, já que "todos nós vamos morrer um dia".
"Enquanto eu for presidente, enquanto tiver um líder no Paralmento também, vamos lutar para que o cidadão de bem tenha armas e seja desobrigado a usar mascara", declarou Bolsonaro na quinta-feira, em sua transmissão ao vivo semanal nas redes sociais.
Essa postura o levou a acolher no Brasil este mês a Copa América, que havia sido rejeitada pela Colômbia devido a seus conflitos sociais e pela Argentina por causa da pandemia.
O presidente participou recentemente de várias motociatas e manifestações, de olho nas eleições de outubro de 2022. A oposição mobilizou hoje, pela segunda vez em menos de um mês, milhares de pessoas nas principais cidades do país, para denunciar a gestão da pandemia pelo governo.
Para Ethel Maciel, milhares de mortes poderiam ter sido evitadas "dando informações concretas para a população sobre as medidas de saúde publica", mas "nada disso foi feito" e o governo transformou a pandemia em "uma briga ideológica".
A Tarde
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