Ilhéus :Novo marco da Zona de Processamento e Exportação favorece a implantação da zona franca

O programa criado há mais de 20 anos, mas travado por razões burocráticas e da própria legislação, agora terá toda a condição de atrair novas empresas e indústrias e gerar empregos na cidade historicamente conhecida pela economia cacaueira I Foto: Prefeitura I Divulgação - Foto: Prefeitura I Divulgação

Aprovada no início de junho na Câmara dos Deputados, por 52 a 23 votos, a Medida Provisória 1.033 tirada da gaveta para facilitar a produção de oxigênio medicinal em Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs), diante da pandemia de Covid-19, se configurou em um novo marco legal que promete desburocratizar e se tornar um incentivo para o beneficiamento de produtos e o desenvolvimento tecnológico, com foco na exportação.
 
 Somados ao avanço das obras do Porto Sul, retomada pela Bamin em parceria com o governo, que será integrado à Ferrovia Oeste Leste (Fiol), conectando a região ao norte de Minas Gerais e, no futuro, a outros estados, a de cidade Ilhéus tem tudo para voltar a figurar com um dos mais importantes celeiros econômicos da Bahia. 
 
O programa criado há mais de 20 anos, mas travado por razões burocráticas e da própria legislação, agora terá toda a condição de atrair novas empresas e indústrias e gerar empregos na cidade historicamente conhecida pela economia cacaueira. Entre os pontos importantes do marco está a permissão para exportação de serviços, o que deve incentivar startups brasileiras a se internacionalizarem e também a possibilidade de balizarem a produção ao regramento da Organização Mundial do Comércio, se equiparando aos outros países e escapando da competição desigual com o mercado interno. O texto aprovado pela Câmara prevê que as ZPE's sejam descontínuas, o que facilita que seja conectada a outros pontos e a aeroportos.
 
Países como China, que multiplicou a sua indústria nos últimos anos, e o próprio Estados Unidos, Índia, Canadá, Argentina, Colômbia e muitos outros, abrigam centenas de ZPE's em seu território.  A expectativa do Governo Federal é que no Brasil a proposta tenha o mesmo efeito, com a geração de postos de trabalho e que passe a sediar empresas de tecnologia, para tentar se desgarrar da tradição de exportação de comoddities, que tem baixo valor agregado.
 
Ex-prefeito de Lauro de Freitas e diretor da Associação Brasileira de Zonas de Processamento de Exportação, Otávio Pimentel, está confiante com a aprovação do marco e vê a Bahia daqui a dez anos como o maior polo de produção e exportação do país. Ele destaca as reuniões com o ministro Paulo Guedes, que segundo ele teve participação importante para que o projeto fosse adequado e aprovado, e que agora depende somente da sanção do presidente Jair Bolsonaro. 
 
Pimentel explica que a isenção de imposto nas ZPE's para importação de maquinários, por exemplo, vai ser determinante para atrair investimentos, assim como a permissão para exportar serviços. 
 
"É uma vantagem muito grande. Agora vai ter projeto para software, as agências de viagem vão poder trabalhar com o mundo inteiro e não vão pagar imposto nenhum", ressaltou em entrevista ao grupo A TARDE. "Essa é uma vitória do Dr. Helson Braga, mais de 20 anos de luta", complementa, em homenagem ao presidente da ABRAZPE.
 
O beneficiamento dos manufaturados, segundo o diretor da ABRAZPE, vai promover uma mudança significativa na produção do estado, que hoje em dia é um dos maiores exportadores de grãos, por exemplo, sem que prejudique o mercado interno e estabeleça uma competição desleal. Caso parte do que for produzido se destine à venda interna, será submetido aos mesmos impostos das indústrias nacionais.
 
"Não vamos só exportar a soja, mas vamos vender o óleo processado. O algodão, que hoje em dia vendemos 'in natura', sem tirar o caroço, o único lugar do mundo que faz isso. O Brasil está há 500 anos exportando comoddities e o único projeto inteligente capaz de transformar em produto industrializado é a zona franca [...] engana-se quem acha que as indústrias em ZPE vão concorrer injustamente com as brasileiras, não pode. Os custos são os mesmos para todo mundo, pagam-se todos os impostos como todo produtor nacional. Se hoje o mercado internacional entra em crise econômica, política, ou uma guerra, você perde a indústria por isso? Não, você coloca no mercado interno.", justifica.
 
De acordo com o ex-prefeito, a localização de Ilhéus, aliada a todo o investimento na malha ferroviária que ficará pronta nos próximos anos e ao Porto Sul, vai colocar a Bahia e o Brasil como o "celeiro do mundo". No país, além da ZPE de Ilhéus já existem implantadas a ZPE do Acre (AC); ZPE do Açú (RJ); ZPE de Araguaína (TO); ZPE de Bataguassú (MS); ZPE de Boa Vista (RR); ZPE de Cáceres (MT); ZPE de Imbituba (SC); ZPE de Macaíba (RN); ZPE de Parnaíba (PI); ZPE de Suape (PE); ZPE de Teófilo Otoni (MG); e ZPE de Uberaba (MG). Otávio Pimentel, acredita, contudo, que este número possa multiplicar nos próximos e anos e o Nordeste deverá abrigar a maior parte das ZPE's.
 
"A Fiol vai ser a 'mola-mestra'. Quem produz hoje é o Nordeste, e onde andar a Fiol, vai andar a produção agrícola", diz Pimental, que lembra que as empresas instaladas nas ZPE's não pagam ICMS ou qualquer outro imposto adicional, como à Marinha Mercante, que equivale a 25% do frete internacional e encarece a operação. Condição para muitas indústrias no mundo, a garantia de sustentabilidade e proteção ambiental é outro atrativo das ZPE's de Ilhéus, destaca Pimentel. Segundo o diretor, no local para cada árvore nativa  da Mata Atlântica removida, outras três são plantadas.
 
Secretário de Desenvolvimento Econômico de Ilhéus, Vinícius Brigla acredita que as ZPE's podem contribuir para diminuir as desigualdades entre as regiões do Brasil com o seu potencial de fomentar a economia local. Ele reconhece que o país ficou atrás de outras nações devido ao "regime jurídico deficitário" da lei regulatória, mas confia que o novo marco possa potencializar a produção regional. A ideia é aproveitar o investimento na infraestrutura, que na sua visão sempre foi uma dificuldade diante da dimensão territorial do Brasil, e que em Ilhéus tem como o foco a Porto-Sul.
 
"O Brasil sempre teve infraestrutura precária e, no caos de Ilhéus, a vinda do Porto-Sul e da Fiol amenizam essa deficiência, tornando viável a ZPE. Acredito que ela trará grandes benefícios à região, com a criação de empregos qualificados, voltados para a indústria e serviços, assim como a vantagem de beneficiar os produtos como frutas, minérios, eletroeletrônicos, toda a área de informática, vamos dar um 'upgrade' nesse sentido e nos tornarmos um polo de atração de novas empresas", salienta.
 
Indiretamente, a ampliação da ZPE de Ilhéus e abertura de novas empresas também colabora para fomentar serviços como hotelaria, setor de alimentação e o comércio em geral.
 
"Deve ajudar a gerar indiretamente empregos no comércio, toda essa área de serviços, que no fim vai trazer retorno com a geração de tributos. Não é possível mensurar  pois é um projeto embrionário, mas com toda as mudanças na infraestrutura, vai trazer um salto de desenvolvimento à toda a região", confia.
A Tarde 

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