Lázaro Barbosa: 'Não existe comando', diz PM do DF sobre buscas; especialistas criticam 'falta de planejamento'

Buscas a Lázaro  envolvem cerca de 300 policiais do DF e Goiás. — Foto: TV Globo / Reprodução

Após nove dias de buscas, a força-tarefa formada por mais de 200 agentes de segurança, de diversas corporações, ainda não conseguiu prender Lázaro Barbosa de Souza, de 32 anos. Ele está foragido desde 9 de junho, suspeito de matar quatro pessoas da mesma família no Distrito Federal e de cometer uma série de crimes durante a fuga.

Um policial militar do DF que atuou no local indica problemas na operação. "O que 'tá' faltando ali é um comando único. [Tem] muita polícia e tem muito chefe pra pouco índio. Cada força policial que chega ali, faz o que entende que é certo. Não existe um comando", diz o PM, que não quis se identificar, em entrevista à TV Globo (ouça abaixo).


Policial militar do DF comenta sobre falhas nas buscas a Lázaro Barbosa

Policial militar do DF comenta sobre falhas nas buscas a Lázaro Barbosa

Especialistas ouvidos pela reportagem também apontam "falta de planejamento" e "vaidade" de autoridades na operação, que envolve agente de pelo menos sete corporações diferentes.

Acionada pelo G1 para comentar a situação, a Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO), que comanda as buscas, não havia se manifestado até a última atualização.

O que dizem especialistas

4 grandes caçadas a criminosos

4 grandes caçadas a criminosos

Para Cássio Rosa, membro do Fórum Brasileiro de Segurança, a operação de buscas é delicada, ainda mais porque Lázaro é habituado a áreas de mata e conhece a região. O terreno irregular e a dificuldade de comunicação também atrapalham a localização do foragido.

"Quando a gente trabalha em um grupo muito grande, com pessoas de diferentes formações, é inevitável que aconteça o que chamamos de ruídos. Até porque sempre foi uma dificuldade brasileira a questão da integração das forças armadas. Não é de agora", analisa Cássio.

Já o delegado aposentado da Polícia Civil do DF, Júlio Hott, diz que a ação poderia ter sido melhor planejada. "Até pela boa fé, houve precipitação, uma falta de planejamento e falta de integração, na minha opinião."

DesgastesGovernador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, durante reunião no Palácio do Buriti — Foto: Renato Alves / Agência Brasília

Governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, durante reunião no Palácio do Buriti — Foto: Renato Alves / Agência Brasília

Em meio às buscas para prender Lázaro, também houve desgaste entre o Governo do DF e de Goiás. Na quarta-feira (16), o governador Ibaneis Rocha (MDB) disse que a operação impressiona e que o suspeito faz as forças de segurança "quase que de bobas".

"Eu espero que isso [a prisão] aconteça o mais rápido possível para que a gente possa tranquilizar as famílias daquela região e dar a punição devida a esse marginal, que vem causando tanto mal e vem fazendo a polícia do DF e do Goiás quase que de bobas. Tá passando da hora de ele ser preso e vir pra Papuda pra curtir a sua pena lá durante longos anos". Ouça:

Ibaneis Rocha comentou sobre buscas a Lázaro Barbosa, foragido da Justiça por assassinatos

Ibaneis Rocha comentou sobre buscas a Lázaro Barbosa, foragido da Justiça por assassinatos

No fim da tarde, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), rebateu a declaração em uma rede social.

"Que Ibaneis não se atreva a desrespeitar policiais goianos, os melhores do país, novamente. Não admito. Se ele trata os policiais do DF com grosseria, minha solidariedade a eles. Em Goiás, a polícia é nosso orgulho. Trabalha sério para prender o facínora sem produzir vítimas".

'Vaidade'Buscas por Lázaro Barbosa, suspeito de chacina no DF, chegam ao 9ª dia — Foto: TV Globo /Reprodução

Buscas por Lázaro Barbosa, suspeito de chacina no DF, chegam ao 9ª dia — Foto: TV Globo /Reprodução

O ex-subcomandante da Polícia Militar do DF e especialista em segurança pública, Leonardo Sant'Anna, diz que o momento não é para discórdias, mas para unir forças.

"Para que possa ser atingido o resultado positivo nessa operação, essa vaidade precisa ser deixada de lado pra chamar outros profissionais, que tenham essa capacidade mais avançada. Quando você não tem um comando que reconheça os sinais dessa vaidade, isso pode atrapalhar sim", analisa (veja vídeo abaixo).

Ex-subcomandante da PMDF, Leonardo Sant'Anna, comenta sobre buscas para prender Lázaro

Ex-subcomandante da PMDF, Leonardo Sant'Anna, comenta sobre buscas para prender Lázaro

Secretário do DF critica 'saidão'Secretário de Segurança Pública do DF, Júlio Danilo Ferreira, critica 'saidão' — Foto: TV Globo / Reprodução

Secretário de Segurança Pública do DF, Júlio Danilo Ferreira, critica 'saidão' — Foto: TV Globo / Reprodução

O secretário de Segurança Pública do DF, Júlio Danilo Ferreira, comentou, em entrevista a imprensa no início da tarde desta quinta-feira (17), a decisão judicial do DF que concedeu o benefício do saídão para Lázaro.

"O sistema de percepção criminal como um todo, a gente tem que começar a pensar e ver a aplicação da lei como um todo e até mesmo a modificação", defendeu.

Para ele, a soltura de presos com alta periculosidade impacta na segurança pública. "A segurança pública tem trabalhado de forma efetiva. Tanto que ele [Lázaro] foi investigado, preso por mais de uma vez e recapturado. Mas, infelizmente, em decorrência da norma penal, ele foi posto em liberdade. E da última vez foi colocado em saidão e depois, quando estava no saidão, não retornou."

"É necessário, sim, que a gente passe por uma reflexão e reformulação da norma para que isso não volte a ocorrer", destacou Júlio Danilo.

ChacinaLázaro Barbosa é suspeito de chacina no DF e outros crimes como roubos, assassinatos e estupros — Foto: TV Globo / Reprodução

Lázaro Barbosa é suspeito de chacina no DF e outros crimes como roubos, assassinatos e estupros — Foto: TV Globo / Reprodução

Lázaro é procurado desde 9 de junho, após invadir a casa de uma família. Lá, ele matou o empresário Cláudio Vidal, de 48 anos, e os dois filhos dele, Gustavo Vidal, de 21, e Carlos Eduardo Vidal, de 15. Os três foram encontrados com marcas de tiros e facadas.

A esposa de Cláudio e mãe dos jovens, Cleonice Marques de Andrade, de 43 anos, foi sequestrada e encontrada morta três dias depois, em um córrego da região.

Nos últimos dias, ele fez uma série de assaltos a chácaras no Entorno. Em um dos crimes, deixou três pessoas baleadas e, na terça-feira (15), um policial que atuava nas buscas foi atingido com um tiro de raspão no rosto.

G1 

Postar um comentário

0 Comentários