Opositores de Benjamin Netanyahu confirmaram nesta quarta-feira (2) que conseguiram montar uma coalizão para formar um novo governo de Israel. Caso o Parlamento ratifique essa ampla aliança na semana que vem, será o fim dos 12 anos de mandato de Netanyahu como primeiro-ministro israelense.
A aliança foi costurada por Yair Lapid, líder do partido centrista Yesh Atid. Ele conseguiu o apoio de Naftali Bennett, chefe do direitista Yamina, com quem deve dividir o cargo de primeiro-ministro. O presidente Reuven Rivlin, cujo cargo é cerimonial, confirmou a coalizão.
"Esse governo vai trabalhar para todos os cidadãos de Israel, aqueles que votaram por isso e aqueles que não. Farei tudo para unir a sociedade israelense", disse Lapid em postagem nas redes sociais.
Considerando outros grupos de oposição em diversos posicionamentos no espectro político, a coalizão terá mais do que os 61 congressistas necessários para a maioria no Knesset, o Parlamento israelense.
Nesta reportagem você vai ver:
- Como Yair Lapid e Naftali Bennett devem se revezar no cargo de primeiro-ministro
- Por que é tão difícil formar um novo governo em Israel
- Como Netanyahu não conseguiu se sustentar no governo
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Bennett e Lapid devem se revezar como premiês
A aliança reunirá Yair Lapid, um político considerado centrista, com Naftali Bennett, um nacionalista de direita, em uma coalizão antes considerada improvável. O grupo que deve governar Israel terá ainda a Lista Árabe Unida, na primeira vez que uma legenda islâmica forma a base governista do país.
Lapid e Bennett devem se revezar no poder: primeiro, Bennett seria o primeiro-ministro por dois anos. Nos outros dois, Lapid ocuparia o cargo de premiê.
Rivais se articulam para formar novo governo em Israel
O impasse político em Israel começou há dois anos com as dificuldades de Netanyahu em manter uma coalizão majoritária. Três eleições — duas em 2019 e uma em 2020 — não foram suficientes para que uma maioria parlamentar fosse formada. Os escândalos de corrupção e as acusações contra o premiê também pesaram.
Somente após as últimas eleições, em março deste ano, a oposição conseguiu agregar grupos de lados diferentes da política israelense — desde direitistas a partidos árabes-israelenses. Com isso, Rivlin — cujo poder é cerimonial — deu a Lapid a chance de formar um novo governo.
Por que é tão difícil formar um governo em Israel?
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, vota nas eleições gerais do país nesta terça-feira (23) — Foto: Ronen Zvulun/Pool/Reuters
Para entender o impasse político de Israel é preciso entender como funciona a formação do governo israelense.
Israel é um país parlamentarista que elege a cada processo eleitoral 120 congressistas para o Knesset — nome dado ao Parlamento israelense. Depois das eleições, o partido que conseguir 61 assentos recebe do presidente o direito a nomear um primeiro-ministro.
Recentemente, com a fragmentação eleitoral em Israel, tem sido difícil para um partido sozinho chegar a 61 cadeiras. Assim, são as alianças que definem qual grupo terá o poder de escolher o premiê israelense.
Quando uma liderança partidária está mais perto de conseguir essa maioria parlamentar, o presidente de Israel — cujo papel é mais cerimonial — dá a esse líder um prazo para que concretize as alianças com os demais partidos. Se isso não ocorrer dentro do prazo, o presidente pode tanto chamar uma liderança de oposição para que tente formar o governo ou novas eleições podem ser convocadas.
E o que aconteceu com Netanyahu?Benjamin Netanyahu faz apresentação para embaixadores em base militar em Israel, em fevereiro — Foto: Reuters/Sebastian Scheiner
Em 2019, o Likud, partido de Netanyahu, enfrentou em eleições muito acirradas o Azul e Branco, legenda do opositor Benny Gantz. Com uma diferença muito pequena, o presidente Reuven Rivlin deu ao então premiê o direito de formar um governo e se manter no cargo, mas a aliança não se concretizou.
O impasse àquela época tinha um nome: Avigdor Lieberman, líder do partido nacionalista Israel Nossa Casa que era um dos principais aliados de Netanyahu. O discurso militarista de Lieberman esbarrava em outra base da coalizão do primeiro-ministro: os judeus ortodoxos que se recusam a entrar no serviço militar obrigatório.
Assim, novas eleições foram convocadas para o segundo semestre de 2019. Sem sucesso, mais um pleito — o terceiro em menos de um ano — ocorreu em março de 2020. O resultado teria sido semelhante, mas por causa da pandemia do coronavírus tanto Netanyahu como Gantz concordaram em formar eles dois uma coalizão ampla e temporária.
Essa aliança, porém, logo se desfez pelas discordâncias diversas entre os dois líderes. Assim, uma quarta eleição foi marcada para março de 2021. Desta vez, outro nome foi o fiel da balança: Naftali Bennett, um milionário direitista que era muito próximo de Netanyahu e lidera o partido Lamina.
O Likud até obteve mais cadeiras do que os demais partidos, mas novamente dependeria de alianças e a oposição teve votação expressiva. Inicialmente, Bennett recusava um apoio do Lamina a coalizões que tivessem atores políticos mais à esquerda, mas, após semanas de negociações com Lapid, os grupos concordaram em formar uma base majoritária no Congresso.
Sem maioria e cercado por denúncias de corrupção, Netanyahu poderá ter de deixar o cargo após 12 anos. O desafio agora será interno na coalizão que deve governar Israel: Bennett e Lapid, com posicionamentos bastante diferentes em temas diversos, devem se revezar no cargo de primeiro-ministro.
G1
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