Opositores de Netanyahu conseguem formar coalizão para novo governo de Israel

 Yair Lapid, candidato do partido opositor Yesh Atid, vota em Tel Aviv para as eleições de Israel em 23 de março — Foto: Corinna Kern/Reuters

Opositores de Benjamin Netanyahu confirmaram nesta quarta-feira (2) que conseguiram montar uma coalizão para formar um novo governo de Israel. Caso o Parlamento ratifique essa ampla aliança na semana que vem, será o fim dos 12 anos de mandato de Netanyahu como primeiro-ministro israelense.

A aliança foi costurada por Yair Lapid, líder do partido centrista Yesh Atid. Ele conseguiu o apoio de Naftali Bennett, chefe do direitista Yamina, com quem deve dividir o cargo de primeiro-ministro. O presidente Reuven Rivlin, cujo cargo é cerimonial, confirmou a coalizão.

"Esse governo vai trabalhar para todos os cidadãos de Israel, aqueles que votaram por isso e aqueles que não. Farei tudo para unir a sociedade israelense", disse Lapid em postagem nas redes sociais.

Considerando outros grupos de oposição em diversos posicionamentos no espectro político, a coalizão terá mais do que os 61 congressistas necessários para a maioria no Knesset, o Parlamento israelense.

Nesta reportagem você vai ver:

  • Como Yair Lapid e Naftali Bennett devem se revezar no cargo de primeiro-ministro
  • Por que é tão difícil formar um novo governo em Israel
  • Como Netanyahu não conseguiu se sustentar no governo
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    Bennett e Lapid devem se revezar como premiêsNaftali Bennett, líder do partido Lamina, no Parlamento de Israel em Jerusalém em 30 de maio — Foto: Yonatan Sindel/Pool via AP

     

    A aliança reunirá Yair Lapid, um político considerado centrista, com Naftali Bennett, um nacionalista de direita, em uma coalizão antes considerada improvável. O grupo que deve governar Israel terá ainda a Lista Árabe Unida, na primeira vez que uma legenda islâmica forma a base governista do país.

    Lapid e Bennett devem se revezar no poder: primeiro, Bennett seria o primeiro-ministro por dois anos. Nos outros dois, Lapid ocuparia o cargo de premiê.
    Rivais se articulam para formar novo governo em Israel

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    O impasse político em Israel começou há dois anos com as dificuldades de Netanyahu em manter uma coalizão majoritária. Três eleições — duas em 2019 e uma em 2020 — não foram suficientes para que uma maioria parlamentar fosse formada. Os escândalos de corrupção e as acusações contra o premiê também pesaram.

    Somente após as últimas eleições, em março deste ano, a oposição conseguiu agregar grupos de lados diferentes da política israelense — desde direitistas a partidos árabes-israelenses. Com isso, Rivlin — cujo poder é cerimonial — deu a Lapid a chance de formar um novo governo.

    Por que é tão difícil formar um governo em Israel?Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, vota nas eleições gerais do país nesta terça-feira (23) — Foto: Ronen Zvulun/Pool/Reuters

    Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, vota nas eleições gerais do país nesta terça-feira (23) — Foto: Ronen Zvulun/Pool/Reuters

    Para entender o impasse político de Israel é preciso entender como funciona a formação do governo israelense.

    Israel é um país parlamentarista que elege a cada processo eleitoral 120 congressistas para o Knesset — nome dado ao Parlamento israelense. Depois das eleições, o partido que conseguir 61 assentos recebe do presidente o direito a nomear um primeiro-ministro.

    Recentemente, com a fragmentação eleitoral em Israel, tem sido difícil para um partido sozinho chegar a 61 cadeiras. Assim, são as alianças que definem qual grupo terá o poder de escolher o premiê israelense.

    Quando uma liderança partidária está mais perto de conseguir essa maioria parlamentar, o presidente de Israel — cujo papel é mais cerimonial — dá a esse líder um prazo para que concretize as alianças com os demais partidos. Se isso não ocorrer dentro do prazo, o presidente pode tanto chamar uma liderança de oposição para que tente formar o governo ou novas eleições podem ser convocadas. 

     

    E o que aconteceu com Netanyahu?Benjamin Netanyahu faz apresentação para embaixadores em base militar em Israel, em fevereiro — Foto: Reuters/Sebastian ScheinerBenjamin Netanyahu faz apresentação para embaixadores em base militar em Israel, em fevereiro — Foto: Reuters/Sebastian Scheiner

    Em 2019, o Likud, partido de Netanyahu, enfrentou em eleições muito acirradas o Azul e Branco, legenda do opositor Benny Gantz. Com uma diferença muito pequena, o presidente Reuven Rivlin deu ao então premiê o direito de formar um governo e se manter no cargo, mas a aliança não se concretizou.

    O impasse àquela época tinha um nome: Avigdor Lieberman, líder do partido nacionalista Israel Nossa Casa que era um dos principais aliados de Netanyahu. O discurso militarista de Lieberman esbarrava em outra base da coalizão do primeiro-ministro: os judeus ortodoxos que se recusam a entrar no serviço militar obrigatório.

    Assim, novas eleições foram convocadas para o segundo semestre de 2019. Sem sucesso, mais um pleito — o terceiro em menos de um ano — ocorreu em março de 2020. O resultado teria sido semelhante, mas por causa da pandemia do coronavírus tanto Netanyahu como Gantz concordaram em formar eles dois uma coalizão ampla e temporária.

    Essa aliança, porém, logo se desfez pelas discordâncias diversas entre os dois líderes. Assim, uma quarta eleição foi marcada para março de 2021. Desta vez, outro nome foi o fiel da balança: Naftali Bennett, um milionário direitista que era muito próximo de Netanyahu e lidera o partido Lamina.

    O Likud até obteve mais cadeiras do que os demais partidos, mas novamente dependeria de alianças e a oposição teve votação expressiva. Inicialmente, Bennett recusava um apoio do Lamina a coalizões que tivessem atores políticos mais à esquerda, mas, após semanas de negociações com Lapid, os grupos concordaram em formar uma base majoritária no Congresso.

    Sem maioria e cercado por denúncias de corrupção, Netanyahu poderá ter de deixar o cargo após 12 anos. O desafio agora será interno na coalizão que deve governar Israel: Bennett e Lapid, com posicionamentos bastante diferentes em temas diversos, devem se revezar no cargo de primeiro-ministro. 

    G1

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