Ex-vereador e ex-bombeiro preso na CPI das Milícias teria contratado Ronnie Lessa para matar rival e é suspeito no Caso Marielle

  

Girão é flagrado em loja onde estava dormindo Foto: Reprodução

A prisão em São Paulo, nesta sexta-feira, 30, de Cristiano Girão, ex-vereador, ex-bombeiro e acusado de chefiar a milícia de Gardênia Azul, na Zona Oeste do Rio, pode acelerar a elucidação do Caso Marielle. Foram feitas buscas e apreensões em 14 endereços, no Rio e na capital paulista, pelos agentes da Delegacia de Homicídio da Capital (DHC), que devem trazer mais provas de que a ordem para matar a vereadora Marielle Franco (PSOL) pode ter partido de Girão. Por enquanto, o vínculo mais forte é de que o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa, réu no homicídio de Marielle e do motorista Anderson Gomes, é suspeito da execução do ex-policial André Henrique da Silva Souza, o André Zóio, e de sua companheira, Juliana Sales de Oliveira, de 27 anos, em junho de 2014. Girão teria contratado Lessa para cometer o crime.

O advogado Zoser Hardman, que defende o ex-vereador, disse estranhar o fato de a prisão ter sido decretada por um crime ocorrido há sete anos. Ele afirmou que vai pedir um habeas corpus em favor de seu cliente.

Operação da Polícia Civil em São Paulo prende o ex-vereador Cristiano Girão
Operação da Polícia Civil em São Paulo prende o ex-vereador Cristiano Girão Foto: Reprodução

O ex-vereador foi denunciado pelo Ministério Público do Rio (MPRJ) no último dia 19. Ele teria ordenado a morte de André em razão de uma disputa pelo controle da Gardênia Azul. Policiais do Rio vinham, desde então, monitorando Girão, que estava passando as noites em sua loja de roupas, no bairro Pari, na área central de São Paulo, provavelmente para evitar sua prisão. Na manhã de ontem, ele acabou surpreendido pelos policiais do Rio quando dirigia seu carro, logo após ter saído da loja, onde foram apreendidos celulares e computadores.

A Força-Tarefa do Caso Marielle e Anderson (FTMA) do MPRJ e a DHC pediram à Justiça a prisão de Lessa, que está já está na cadeia, além da de Girão. Os pedidos foram feitos quando ainda estavam à frente da investigação as promotoras Simone Sibílio e Letícia Emile e o delegado Moysés Santana, exonerado do cargo. As promotoras pediram para sair do caso alegando “interferências externas”. A prisão de ontem foi feita pelo atual titular da DHC, Henrique Damasceno.

Os investigadores acreditam que apreensões de celulares e computadores de Girão e de seus cúmplices possam trazer as evidências que faltam para fechar o Caso Marielle. A vereadora e seu motorista Anderson Gomes foram executados numa emboscada em março de 2018. A prisão de ontem junta, num mesmo episódio, Girão, um dos personagens denunciados pela CPI das Milícias, conduzida em 2008 pelo então deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), e Lessa, um dos acusados pela execução de Marielle. A parlamentar era ex-assessora e afilhada política de Freixo.

Embora Girão estivesse morando com a atual mulher em São Paulo desde que foi solto, em 2017, ele não teria desistido de manter o controle da Gardênia. Segundo um informante da DH, André morreu porque estaria desafiando Girão, aproveitando-se de sua ausência para assumir o poder na região. No entanto, segundo a polícia, em 2017, Girão deixou o comando da favela com o seu subordinado Leandro Siqueira de Assis, conhecido como Leandro Cabeção ou Gargalhone. O ex-vereador, no entanto, continua tendo vínculos com a Gardênia, de onde recebe aluguéis de pelo menos cem imóveis.

Emboscada para matar ex-policial e namorada

André e Juliana foram mortos com 40 tiros em uma emboscada na Gardênia. As investigações sobre a morte do casal chegaram a Girão e Lessa após o resultado da quebra do sigilo de dados telemáticos do policial, autorizada pela Justiça devido ao Caso Marielle. Chamou atenção o fato de o sargento reformado ter usado o buscador Google para pesquisar, em 2018, a morte de André e de Juliana. Foi o fio da meada para apurarem o motivo do interesse do acusado de matar Marielle no crime do suposto rival de Girão.

Girão já havia figurado numa das linhas de investigação do Caso Marielle. No entanto, ainda na primeira fase do inquérito, a suspeita foi descartada. Ele alegou que estava numa churrascaria no dia do crime. O ex-vereador foi preso em 2009, por comandar a milícia da Gardênia. Depois de ficar na cadeia por oito anos, a maior parte da pena em dois presídios federais, pelos crimes de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Só em agosto de 2017, foi beneficiado por um indulto.

Colaboraram Bianca Gomes, Carolina Heringer, Chico Otavio e Paolla Serra

Extra o Globo

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