O Brasil levou ao Japão a maior delegação em Jogos Paralímpicos fora de casa. De 24 de agosto a 5 de setembro, 260 atletas, sendo 194 homens e 96 mulheres, vão perseguir a meta do Comitê Paralímpico Brasileiro de manter o país entre os dez primeiros no ranking de medalhas.
Nesta edição do Caminhos da Reportagem atletas veteranos e estreantes de diversas modalidades contam suas trajetórias e sonhos paralímpicos para a repórter Carla Maia. Sem exceção, eles destacam o esporte como fator de inclusão e transformação. A Paralimpíada, criada em 1960, é o maior evento do mundo que reúne pessoas com deficiência. Elas representam 15% da população mundial segundo a Organização Mundial de Saúde.
Petrucio Ferreira, hoje o velocista mais rápido do mundo no desporto paralímpico, faz questão de homenagear a Paraíba, seu estado de origem, a cada conquista. Ele diz que aprendeu desde cedo, ao observar a lida dos pais na roça, em São José do Brejo do Cruz, a ir atrás dos seus sonhos. “Meus pais sempre me passaram que eu poderia ser uma pessoa eficiente, nunca desistir dos objetivos, nunca tirar o sorriso do rosto por mais difícil que tenha sido o nosso dia”, lembra Petrucio.
O judoca Antônio Tenório, com 50 anos, subiu ao pódio em todos os Jogos Paralímpicos que disputou. Desta vez chegou a pensar que estaria fora das competições depois de ter passado duas semanas numa UTI por complicações da covid-19. Mas deu a volta por cima e foi o primeiro atleta da delegação a ser vacinado antes de carimbar o passaporte para o Japão. “O momento desse evento vai ser muito importante para a humanidade se reafirmar e falar, estamos aqui e estamos lutando unidos contra esse vírus”, opina Tenório.
Treinar em meio a pandemia exigiu criatividade. Quando o Centro de Treinamento do Comitê Paralímpico Brasileiro, em São Paulo, fechou as portas no ano passado, o jogador de futebol de 5, Nonato, escalou a mulher e as cunhadas no campinho improvisado em Orocó, em Pernambuco. A mesa-tenista Jennyfer Parinos jogou com o namorado na sala de casa e precisou lutar até a última hora por uma vaga para Tóquio. Ela encarou adversárias que nunca tinha vencido na última seletiva da modalidade e diz que saiu mais forte dessa experiência.
Para o Brasil, estes Jogos vão ser marcados pela despedida de um ídolo. O maior medalhista paralímpico do país, Daniel Dias, anunciou que vai deixar as piscinas quando voltar do Japão. Um dos motivos que o levaram à aposentadoria é a mudança na classificação da natação paralímpica, que torna mais difícil pra ele a conquista de medalhas. Segundo o presidente do Comitê Paralímpico Internacional, o brasileiro Andrew Parsons, o novo sistema foi definido e aprovado pelos representantes dos países que participam da natação paralímpica. Mas Daniel afirma que não vai desanimar em Tóquio e quer mostrar sua melhor versão. “Eu já tenho sido muito grato por tudo o que conquistei, por tudo o que vivi. E ali vai ser a cereja do bolo porque o bolo já tá construído. Vem a cereja pra encerrar uma bela de uma carreira”.
Inspirada por Daniel e por outros destaques das Paralímpíadas, vem aí uma nova geração. O nadador Wendell Belarmino é um dos 87 atletas estreantes na delegação brasileira. O brasiliense é também uma das promessas de pódio pelo desempenho nos últimos mundiais. Ele diz que o seu maior objetivo é inspirar pessoas e estimular novos atletas exatamente como faz Daniel Dias.
Outra atleta que vai participar pela primeira vez dos Jogos Paralímpicos é Débora Menezes, do parataekwondo, modalidade que estreia no Japão. Ela diz que trabalha pela “douradinha” todos os dias e quer mostrar ao mundo como o esporte abre caminhos para a conquista de sonhos.
AGENCIA BRASIL
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