Renata Fernandes Paiva disse que foi até seu antigo local de trabalho para buscar um material de pesquisa que ainda estava lá: 'Ele já partiu para cima de mim com toda a agressão, pegou os meus dois braços, me deixou com vários hematomas'
Renata Fernandes divulgou fotos dos braços com hematomas após acusar ex-chefe de agressão na TV Câmara de Natal Foto: Arquivo pessoal
RIO — A Polícia Civil do Rio Grande do Norte apura um caso de lesão corporal e ameaça registrado por uma jornalista contra seu ex-chefe na TV Câmara, em Natal. Segundo a vítima, Renata Fernandes Paiva, o episódio ocorreu no interior de seu antigo ambiente de trabalho, onde prestou serviços por três anos. Ela disse que atualmente está em outro gabinete, mas foi até o local buscar um material de pesquisa para um documentário que ainda estava lá. Enquanto isso, relatou que o diretor da emissora, Francisco Rodrigues Neto, agarrou seus dois braços e a forçou a se retirar.
— Apenas fui pedir um material meu que está dentro da TV (Câmara) — lembrou Renata, que contou ter recebido uma licença médica de oito dias com acompanhamento psiquiátrico para se recuperar. — Eu fiquei muito mal, ainda estou muito mal emocionalmente, porque essas coisas não são só físicas, elas causam dano psicológico muito grande. Eu me consultei com uma médica que me prescreveu uns remédios para eu poder me acalmar e dormir. Há sete dias que não consigo dormir.
A jornalista afirmou que, no últimodia 19, entrou no prédio da Câmara Municipal de Natal e pediu para o diretor que a deixasse buscar um material audiovisual, com cerca de 500 imagens, que ela reuniu enquanto foi subordinada a ele.
— Eu só queria meu material de volta. Cheguei para ele e falei: "é com você que eu quero falar". Ele já partiu para cima de mim com toda a agressão, pegou os meus dois braços, me deixou com vários hematomas — relatou.
Renata explicou que demorou a expor sua versão dos fatos porque sentiu medo de acabar sendo demitida se assim o fizesse, já que seu cargo é comissionado e ela não tem a estabilidade de um emprego público concursado.
— Fiquei com medo de sofrer represária, mas meu advogado me recomendou denunciar e divulgar — disse. — Tenho um laudo, fiz boletim de ocorrência e vou tomar todas as medidas judiciais cabíveis. Ele está afastado da TV. Eu tenho duas testemunhas. E foi isso que aconteceu, única e exclusivamente porque eu pedi o meu material de trabalho de pesquisa de volta.
A vítima comentou ainda que agora ela conseguiu entender o que passa uma mulher que sofre violência doméstica e acaba optando por se calar diante do medo de sofrer depois nas mãos do mesmo agressor. Renata também contou que sente muita gratidão pelo apoio e solidariedade que vem recebendo de colegas de profissão.
— A gente que é mulher... sempre tem alguém querendo culpar a vítima: "ah ela forçou isso" — disse, em referência a uma nota divulgada em blogs da região assinada por "funcionários da TV Câmara Natal" em defesa do diretor da emissora. — Eu acho que agressão à mulher tem que ser denunciada — acrescentou ela.
O comunicado em questão diz que Renata adotou uma "postura agressiva e invasiva" e "precisou ser conduzida para fora do recinto pela Guarda Legislativa da Câmara". É afirmado ainda que as imagens dos hematomas que ela divulgou são "incompatíveis com a realidade dos fatos".
"(...) nós, funcionários da emissora legislativa, vimos a público prestar nosso apoio total e irrestrito ao diretor Rodrigues Neto das acusações infundadas contra ele", declaram.
De acordo com a Polícia Civil, o caso é tratado como lesão corporal e ameaça, que são crimes de menor potencial ofensivo e, portanto, os envolvidos ainda não prestaram depoimento. Eles já foram, contudo, intimados à 1ª Delegacia Distrital de Natal, onde será feito um termo circunstanciado de ocorrência. As oitivas já foram agendadas, mas a corporação explicou que não divulga a data para não tumultuar o ambiente. O delegado solicitou imagens da Câmara Municipal para análise, mas elas ainda não foram enviadas.
Procurada, a Câmara Municipal de Natal não enviou uma resposta sobre o caso até o momento. O GLOBO também buscou o contato do suspeito, mas ainda não teve um retorno.
O Globo
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