Preso pela Polícia Federal (PF) na última quarta-feira, sob a acusação de organizar um esquema de pirâmide financeira, Glaidson Acácio dos Santos, de 38 anos, estava incomodado com reportagens que vinham citando seu nome. Em uma ligação interceptada com autorização da Justiça, o ex-garçom, que até 2014 servia mesas na Região dos Lagos, aparece conversando com um segurança sobre a visita de um jornalista a um escritório da G.A.S Consultoria Bitcoin, companhia do empresário que prometia rendimentos exorbitantes mediante investimento em criptomoedas. A transcrição do diálogo consta no relatório da investigação, obtido pelo EXTRA.
"Eu já falei com o senhor, pela segunda vez, e volto a falar. Você tem que fazer reunião com esses caras e falar assim: olha, é ordem do Glaidson, chegou aqui repórter... É pra pegar, pra amarrar, e eu vou decidir o que vai fazer. Não vai fazer nada, só vai segurar. Deixou escapar, saiu descendo pela escada, porra! Não pode isso acontecer não", dispara o empresário para o funcionário no telefonema. O interlocutor responde: "É, ele me ligou, falou que 'teve' um repórter lá, que quando ele chegou na porta, eles saíram correndo".
do diálogo, Glaidson volta a orientar a equipe de segurança a intimidar jornalistas: "Tem que chegar... Não vai fazer nada. É ó, me dá a câmera, me dá o celular, você vai ficar aqui...Ah não, você vai ficar aqui! E acabou". O ex-garçom prossegue, e chega a citar o fato de os seguranças trabalharem armados: "Prender aonde? Prender na sala! Não sai! Toma o celular... Tá com arma na mão, pô! Usa a autoridade. Ó, me dá aqui o celular, abre aqui agora! E manda apagar tudo que foi filmado. Aí, liga pra mim!"As ordens para o funcionário continuam, e o empresário reforça que os seguranças devem entrar em contato com o patrão após abordarem os jornalistas: "Glaidson, ó... Tá aqui, assim, assim, assim. O que que você quer que a gente... O que você quer fazer? Aí, vocês só vão fazer isso... O resto deixa comigo, pô"! O ex-garçom, contudo, não espefica na conversa o que planejava fazer com os repórteres que o procurassem.
Apesar das concordâncias do interlocutor, Glaidson não se dá por satisfeito e, pouco depois, volta a frisar: "Bateu repórter aí no escritório, é pra pegar! Segura! Toma celular, toma câmera, apaga tudo, e fica com o negócio na mão, com celular e com a câmera na mão... E me liga!". Ele persiste: "Só vai liberar eles, quando eu falar assim: pode liberar. Mas eles vão ficar presos no escritório. Eles não chegaram lá querendo falar comigo? Ah, vocês vieram falar com o Glaidson? Então só um minutinho, que ele vai vir. Espera aí. Aí deixa eles lá".
'Faraó' dos bitcoins: Ex-garçom acusado de praticar pirâmide financeira fica em silêncio em depoimento à Polícia Federal
Nos dois domingos anteriores à prisão, nos dias 15 e 22 de agosto, Glaidson apareceu em reportagens do "Fantástico", da TV Globo. Os conteúdos abordarvam denúncias de crime envolvendo supostos investimentos em criptomoedas na cidade de Cabo Frio, na Região dos Lagos, cidade que ficou conhecida como Novo Egito por conta das muitas ofertas de enriquecimento fácil.
O tom das palavras de Glaidson a respeito dos jornalistas ajudou a sustentar o pedido de prisão remetido à Justiça pela PF e pelo Ministério Público Federal, assinado pelo procurador da República Douglas Santos Araújo e pelo delegado federal Guilhermo de Paula Machado Catramby. "Os episódios apontam para o fundado receio de que tais investidas também se estendam a testemunhas, mormente diante do forte aparato de segurança do grupo, razão pela qual a prisão preventiva mostra-se também necessária para a conveniência da instrução penal", diz o texto do relatorio.
No documento, os investigadores também tratam da possibilidade de fuga de Glaidson. Em uma outra conversa interceptada com autorização judicial, Michael de Souza Magno, apontado pela PF como um importante operador financeiro no esquema montado pelo ex-garçom, fala com um homem não identificado na transcrição sobre uma eventual ida do empresário para o exterior. Para a polícia, havia o risco de que ele deixasse o país no mesmo dia em que foi preso.
"Porque ele já sabia que ele tinha que sair do país rápido", afirma o interlocutor para Michael no diálogo, referindo-se, segundo a PF, ao ex-garçom. Pouco depois, o próprio Michael diz: "Já era pra ter ido embora, cara, pra 'tá' bem longe daqui. Aí fica no Rio, fica indo em resenha, fica indo não sei aonde, vai pra festa"
Extra o Globo
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