O comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira, afirmou, em pronunciamento divulgado nesta sexta-feira (17), que a Força "continua firme no cumprimento de suas missões constitucionais" e fez um apelo para que soldados tenham cautela com informações recebidas nas redes sociais.
Foi a primeira manifestação de Nogueira desde o feriado de 7 de Setembro. Apesar de destacar a data da Independência, o general não fez qualquer referência às manifestações de raiz golpista com a presença do presidente Jair Bolsonaro naquele dia em Brasília e em São Paulo.
"O Exército não para, e continua firme no cumprimento de suas missões constitucionais. É um trabalho diário e silencioso de cerca de 220 mil militares, homens e mulheres, que honram suas fardas e produzem os resultados percebidos por toda a sociedade", afirmou Paulo Sérgio em pronunciamento veiculado nas redes sociais da instituição.
Em outro trecho do discurso, o comandante destacou que existe atualmente um "volume avassalador de informações" e afirmou que, diante disso, é preciso um esforço para buscar "a verdade dos fatos".
"Por isso, muita cautela com o que circula nas mídias sociais. Analisem com critério e façam a correta interpretação das informações que acessam ou recebem. Mas, principalmente, confiem ainda mais em seus comandantes e chefes, em todos os escalões hierárquicos. Eles estão investidos de autoridade e responsabilidade para transmitir a vocês a melhor, mais ética e profissional leitura dos acontecimentos, além de orientá-los no correto caminho a seguir para o cumprimento do dever", disse o general.
Nesta semana, durante evento no Palácio do Planalto, Bolsonaro afirmou que fake news fazem parte da vida e comparou o tema a uma "mentirinha" contada para uma namorada. "Fake news faz parte da nossa vida. Quem nunca contou uma mentirinha para a namorada? Se não contasse, a noite não ia acabar bem."
B.News
Em seu discurso nesta sexta, Paulo Sérgio exortou a tropa a "manter o foco em suas atribuições". "Reforçando a fé inabalável na missão do Exército brasileiro, concito a todos a manter o foco em suas atribuições. Desempenhar, com a dedicação de sempre, as suas tarefas diárias e preservar a união e a coesão, tendo sempre como base sólida a hierarquia e a disciplina –verdadeiros apanágios de nossa vocação militar".
O general terminou sua declaração com o lema "Brasil acima de tudo", brado da Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército que foi apropriado como slogan de campanha por Bolsonaro.
No feriado da Independência, o presidente da República fez ameaças ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao presidente da corte, Luiz Fux. Bolsonaro também exortou desobediência ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, e disse que canalhas nunca irão prendê-lo.
As declarações de Bolsonaro geraram resposta de Fux, que disse que o descumprimento de decisão judicial, se confirmada, configuraria "crime de responsabilidade".
Já o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), falou em "basta" e criticou o que chamou de "infinito looping negativo", mas não tocou no tema impeachment e enviou sinais de tentativa de apaziguamento.
Dias depois, Bolsonaro divulgou uma nota retórica na qual afirmou que não teve "nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes" e atribui palavras "contundentes" anteriores ao "calor do momento". O documento foi redigido com a ajuda do ex-presidente Michel Temer (MDB).
O general Paulo Sérgio Nogueira foi nomeado para comandar o Exército no final de março deste ano, na esteira de uma crise militar causada por interferência de Bolsonaro.
Naquele mês, o mandatário demitiu o então ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e o substituiu pelo atual titular da pasta, Walter Braga Netto. Bolsonaro estava insatisfeito com as gestões de Azevedo para tentar manter as Forças Armadas distantes da política do governo –Braga Netto, por sua vez, é alinhado ao bolsonarismo.
A saída de Azevedo levou à renúncia dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
Ao longo dos últimos meses, Bolsonaro promoveu uma escalada de
declarações autoritárias que geraram tensão entre opositores e
governadores. Ele chegou a questionar a realização das eleições em 2022 e
a afirmar que só será derrotado em caso de fraude.
Também gerou apreensão a adesão de policiais militares ao bolsonarismo e falas do mandatário sobre as Forças Armadas.
Em mais de uma ocasião neste ano, Bolsonaro usou a expressão "meu Exército", que gerou críticas por ser interpretada como uma tentativa de politizar a instituição. Ele também se referiu às Forças Armadas como "poder moderador" –apesar de decisão do STF estabelecendo que os militares não têm essa atribuição
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