Ivanildo Gonçalves, motoboy da VTCLog, durante depoimento à CPI da Covid nesta quarta-feira (1º) — Foto: Agência Senado
A CPI da Covid aprovou nesta quarta-feira (1º) a quebra dos sigilos telefônico, telemático, bancário e fiscal de Ivanildo Gonçalves, motoboy da VTCLog, empresa de logística alvo da CPI por suspeitas de irregularidades envolvendo o Ministério da Saúde.
Durante a sessão desta quarta, destinada a ouvir o depoimento do motoboy, os senadores também aprovaram pedido para que a Justiça determine a busca e apreensão no aparelho telefônico de Ivanildo.
A decisão foi tomada após Ivanildo ter se negado a entregar voluntariamente à CPI o telefone celular.
O motoboy é considerado uma "testemunha-chave" da CPI após o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ter identificado movimentação atípica da VTCLog no valor de R$ 117 milhões nos últimos dois anos.
Desse total, o motoboy foi responsável por movimentar R$ 4,7 milhões, quase 5% do montante apontado pelo Coaf.
Aos senadores, Ivanildo afirmou que usava o dinheiro para pagar cartões de crédito de proprietários da VTCLog e boletos de combustível. A empresa, responsável pela distribuição de vacinas contra a Covid-19, é suspeita de ter sido beneficiada em um contrato com sobrepreço assinado pelo Ministério da Saúde.
O contrato foi avalizado pelo ex-diretor de Logística Roberto Ferreira Dias. Para a CPI, há indícios de que o motoboy pagou boletos de Dias, o que a VTCLog nega.
Informações 'essenciais'
Logo no início do depoimento, senadores perguntaram se Ivanildo portava o celular e se poderia "emprestar" o aparelho para que fossem extraídas informações consideradas relevantes pela comissão. A defesa do motoboy o orientou a negar o pedido.
Quatro horas depois, os senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Simone Tebet (MDB-MS) pediram para que ele reconsiderasse a decisão "na condição de alguém que não tem nada a esconder". Ivanildo novamente se recusou a entregar o aparelho. Os pedidos, então, foram aprovados.
"Diante da negativa do senhor Ivanildo e da alta probabilidade de haver dados relevantes em seu celular, a exemplo de conversas em Whatsapp, localizações geográficas e telefonemas, a busca e apreensão do aparelho fornecerá informações essenciais para desvelar os exatos termos da atuação da VTCLog no contexto acima mencionado", afirma o requerimento do senador Alessandro Vieira
O depoimento
Durante o depoimento desta quarta-feira, Ivanildo afirmou, entre outras coisas, que esteve no quarto andar do Ministério da Saúde neste ano para levar um pen drive. Ele disse não se lembrar, porém, a quem entregou o aparelho nem a data precisa.
O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), então, determinou à secretaria da comissão que apurasse qual órgão do ministério funciona no quarto andar. Em seguida, Randolfe disse que o Departamento de Logística do ministério funciona no local.
O motoboy também disse que "andava constantemente" no ministério, mas que não conhecia "ninguém" no órgão, pois somente ia "entregar fatura".
Roberto Dias
Durante o depoimento, o motoboy foi questionado pelo relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), se conhece Roberto Dias, ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde que deixou o cargo em meio a uma denúncia de pedido de propina, o que Dias nega.
"Não, não conheço", respondeu Ivanildo.
"Nunca ouviu falar?", indagou novamente Renan.
"Nunca ouvi falar. Nunca estive com ele", respondeu o motoboy, acrescentando que entregou o pen drive "a uma senhora".
Registros da portaria do ministério mostram que o motoboy visitou o Ministério da Saúde em ao menos duas ocasiões em 2020: em 12 de julho e em 7 de dezembro. Ele foi ao Departamento de Logística, segundo os registros.
Coaf
Também foi aprovado requerimento que solicita ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que informe à comissão se as operações da VTCLog foram comunicadas ao órgão de controle.
Durante o depoimento de Ivanildo, senadores levantaram a possibilidade de algum gerente dos bancos nos quais ele fazia saques ter facilitado as operações bancárias.
"Senhor Ivanildo, o senhor sabe que esses saques feitos pela empresa, na hora em que o gerente é comunicado, ele tem a obrigação de comunicar ao Coaf, conforme os valores. Ele deve ter comunicado. Se ele não comunicou, ele está mancomunado com alguém", afirmou Omar Aziz (PSD-AM), presidente da comissão.
G1
Outros requerimentos
Nesta quarta-feira (1º), os senadores também aprovaram:
- Pedido para que a Caixa Econômica Federal envie, em até três dias úteis, todos os registros das câmeras que possui no Aeroporto de Brasília;
- A convocação de Zenaide Sá Reis, a quem foi atribuída a função de entregar os cheques a serem sacados pelo motoboy;
- Pedido para que empresas de telecomunicações enviem o histórico de localizações do telefone de Ivanildo entre 1º de janeiro de 2018 e 1º de setembro de 2021.
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