Uma das filhas da técnica de enfermagem, Genifer Oliveira, moradora de Vale do Paraíso (RO), contou ao G1 que está grávida de cinco meses. Em uma das últimas conversas que teve com a mãe revelou que ela ia ser avó de uma menina.
Em um áudio enviado à filha, Lenilda comemorou a novidade e, apesar de estar distante, prometia "enviar várias roupinhas bonitas" para a bebê (ouça abaixo).
"Ela queria tanto que fosse uma menina para encher ela de lacinhos, fazia muitos planos", disse Genifer
"Um sofrimento que parece que não vai acabar nunca…"
Genifer contou que agora a família tenta trazer o corpo da mãe para Rondônia para um velório e sepultamento digno. No entanto, as despesas com a documentação e translado custam aproximadamente R$ 120 mil.
Além disso, todo o processo pode demorar até três meses para ser concluído e eles finalmente receberem o corpo de Lenilda. As duas filhas criaram uma vaquinha online para tentar arrecadar o dinheiro das despesas.
Abandonada em travessia, brasileira morre de sede e fome em deserto dos EUA
Sonhos frustrados
Lenilda já tinha morado nos EUA há 10 anos e decidiu voltar no início de 2021 após receber a informação de que a fronteira iria ficar aberta por 100 dias. Ela foi detida por três meses na imigração do país até ser deportada de volta para o Brasil.
No dia 13 de agosto, Lenilda voltou a tentar entrar nos EUA, dessa vez através de uma coiote — pessoa paga para conduzir imigrantes ilegalmente pelas fronteiras.
Ela estava acompanhada de três amigos que conhecia desde a infância.
"E daí, infelizmente, nessa volta a gente perdeu ela", disse a filha.
O objetivo dela em ir para outro país era para dar melhor qualidade de vida para a família e pagar a faculdade de Direito das filhas. Ela estava disposta a abandonar a carreira de técnica em enfermagem no Brasil e exercer outra profissão no exterior.
"Ela falou: "eu quero terminar de pagar a faculdade de vocês para vocês serem alguém na vida porque eu decidi salvar vidas, mas infelizmente eu não tenho retorno"", contou Genifer.
"Ela esperou o resto da noite e ninguém voltou pra buscar..."
Vídeo mostra localização de brasileira no deserto dos EUA
Após vários dias parado no México, o grupo começou a atravessar o deserto dia 6 de setembro, mas já no dia seguinte, Lenilda estaria muito debilitada por conta do cansaço, sede, calor e fome. A filha contou que ela chegou a desmaiar de mal estar.
Em vários áudios enviados aos familiares, Lenilda comentava que o grupo decidiu seguir viagem sem ela, mas prometeram que iriam voltar para buscá-la.
Antes de parar de responder as mensagens no WhatsApp, ela compartilhou a localização de onde estava e enviou um áudio com a voz bem rouca pedindo para alguém levar água quando fosse buscá-la, pois não estava mais "aguentando a sede".
Lenilda foi encontrada morta na última quarta-feira (15) por uma empresa contratada pelos familiares.
A família acredita que ela morreu de sede e fome, cerca de um mês antes de completar 50 anos.
"O mínimo que a gente esperava deles [as pessoas que viajavam com Lenilda] é que eles chegassem com ela até uma parte da estrada e direcionasse ela, tipo assim 'aqui é a imigração, se entrega, acaba de se entregar porque pelo menos você não vai morrer'. E eles não fizeram isso, eles colocaram ela num canto do deserto, deixaram lá, não acionaram a polícia, não fizeram nada e simplesmente foram embora", desabafou Genifer.
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Amigos de Lenilda chegaram ao destino
Segundo Genifer, as pessoas que viajavam com Lenilda conseguiram chegar ao destino final. Quando a família entrou em contato com um deles para saber o que tinha acontecido, ele teria dito que lamentava o ocorrido.
"Hoje ele está lá, vai realizar o sonho dele e minha mãe está morta, infelizmente", lamenta.
"Não é a primeira e não vai ser a última"
A filha de Lenilda falou sobre o processo de imigração ilegal em busca de melhor qualidade de vida, apesar da situação socioeconômica em que o Brasil se encontra.
"Infelizmente no nosso país todas as profissões estão muito desvalorizadas na questão financeira, então tem muita gente procurando melhoria em outros países porque realmente tá muito difícil de viver", desabafa.
Apesar das dificuldade, Genifer alerta que o processo é muito perigoso e é muito difícil ter alguém em quem confiar para decidir correr o risco.
"Minha mãe achava que ela tinha três pessoas que eram amigos de infância dela que iam ajudar ela em momento difícil, e infelizmente não aconteceu".
G1
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