Três policiais foram citados durante investigações que apuram o sequestro e a possível morte de um empresário da cidade de Pojuca, Região Metropolitana de Salvador (RMS). Marcos Trinchão, conhecido empresário do município, está desaparecido há sete meses desde que foi obrigado por homens encapuzados a entrar em um carro. Os criminosos anunciaram o sequestro horas depois aos familiares da vítima e pediram R$1 milhão para libertá-la
De acordo com a sentença proferida pela Vara Criminal, um dos responsáveis pelo sequestro do comerciante é Cícero dos Santos. Em depoimento, ele confessou que cometeu o crime a mando de um soldado da 32ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Pojuca).
O PM teria dado todas as orientações de como chegar à vítima por meio de ligação telefônica realizada no Batalhão de Choque da PM, em Lauro de Freitas, onde estava detido por um outro crime.
Histórico e cúmplices
O policial foi preso em julho de 2020 acusado de fazer parte de uma organização criminosa que roubava moradores em Pojuca e outros municípios baianos. A quadrilha também é suspeita por crimes de extorsão, extermínio e por abusar sexualmente de uma das vítimas.
Em novembro daquele ano, ele também foi acusado de participar da morte do colega de farda com quem possuía um desafeto. A vítima foi assassinada em 12 de outubro de 2018, durante uma emboscada em Entre Rios, no litoral norte do estado.
O outro agente de segurança citado por Cícero estava em prisão domiciliar também por fazer parte da mesma organização. Ele teria emprestado a arma usada no sequestro do empresário, enquanto era monitorado pela PM de forma remota.
Quem também aparece como cúmplice do crime é uma Pefem que, no dia do sequestro, estava trabalhando na central telefônica do quartel da PM de Pojuca. Para facilitar a fuga dos criminosos, ela teria acionado uma viatura para uma ocorrência em um local distante da rua onde o empresário foi levado.
Operação contra policiais suspeitos de atuar em extermínio e extorsões (Foto: Divulgação / SSP-BA)
Crime
Era por volta das 19h30, do dia 10 de fevereiro, quando Trinchão bebia em um bar na companhia de um irmão a poucos metros de casa, na Avenida Antônio Batista. O criminoso, na companhia de um comparsa, que dirigia um pálio branco, desceu do veículo com uma camisa na cabeça.
Depois de ser preso, Cícero foi reconhecido na sede do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), em Salvador, por uma das testemunhas. A pessoa presente no momento da abordagem levou em conta o biotipo do suspeito, gordo e de estatura mediana, além do olhar. “Não tinha como esquecer jamais”, disse à polícia.
Os policiais chegaram ao denunciado após uma quebra de sigilo telefônico. Foi constatado que o número do aparelho usado para manter contato com os familiares do empresário pertencia a Cícero. Ele afirma que só decidiu participar do crime porque possuía uma dívida de R$ 1,2 mil com um traficante.
A Vara criminal de Pojuca pontua na ação penal que presume que a vítima esteja morta desde o dia 11 de fevereiro, dia em que os criminosos interromperam o contato com os familiares.
Ao BNews, a assessoria de comunicação do Polícia Militar informou que, de acordo com a Corregedoria da PM e da 32ª CIPM de Pojuca, o processo contra os policiais está correndo pela Auditoria Militar.
Informou ainda que o PM que possivelmente coordenou o crime enquanto estava detido foi transferido para o presídio de Serrinha. Já o agente que teria emprestado a arma permanece em prisão domiciliar. A Pefem acusada de facilitar a fuga dos criminosos foi presa, mas responde em liberdade. Ela continua trabalhando, mas de forma administrativa.
Negociações
Vinte minutos depois de sequestrar a vítima, os homens entraram em contato com a família. Queriam R$ 1 milhão para libertar o empresário com vida. Também pediram para que a polícia não participasse das negociações.
Sem ter como pagar o valor integral do resgate, os familiares entraram em desespero. Por volta das 4h da manhã do dia seguinte, conseguiram reunir R$ 35 mil — valor que foi aceito pelos sequestradores.
Os homens exigiram que o dinheiro fosse levado por uma única pessoa: o dono do bar onde o empresário bebia antes de ser rendido. O local era uma estrada nas proximidades do entroncamento da cidade vizinha de Catu, distante 14 km de Pojuca.
O acordo foi refeito horas depois, mas, dessa vez, os criminosos pediram para que o cunhado do empresário levasse o valor até uma outra estrada, na saída de Pojuca. O pacote foi deixado no local indicado por eles, mas a quantia não chegava perto do exigido pela vida de Trinchão.
A família recebeu um vídeo do empresário vivo e com um ferimento na mão. Uma forma de pressioná-la a conseguir mais dinheiro, agora, R$ 200 mil. Os parentes tentaram argumentar que a vítima possuía bens em imóveis, e que só ele tinha acesso à conta bancária. O contato com os familiares foi encerrado dois dias depois. Não há nenhuma informação sobre o paradeiro de Marcos
B.News
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