Flamengo e Atlético-MG fazem final 'possível' repleta de ingredientes de rivalidade

 



É a final possível. Que não vale só três pontos. Opostos em modelo de administração, mas com poderio financeiro elevado, Flamengo e Atlético-MG se reencontram pelo Brasileiro às 19h, no Maracanã, já cientes de que não vão se ver nas finais da Copa do Brasil e da Libertadores. A possibilidade de três disputas por título agora se transformou em um tira-teima só. Que passa não apenas pelo duelo em campo dos dois elencos tidos como os melhores do Brasil, mas também por brigas de bastidores e diferentes filosofias.

O clima tende a ficar mais tenso outra vez se o Flamengo conseguir vencer e diminuir a diferença do Atlético-MG na liderança. Hoje, ela é de 13 pontos. Mesmo com dois jogos a menos, o time carioca agora é o quinto colocado na tabela, após os últimos resultados ruins. E vê a volta por cima no clássico como a última chance de arrancada na competição. Tanto para sonhar com o título, como para amenizar a pressão sobre o técnico Renato Gaúcho, que corre risco de demissão.

Com folha salarial de mais de R$ 20 milhões por mês, o Flamengo vê o rival mais organizado, embora invista menos, R$ 14 milhões. Este ano, as duas equipes optaram por contratar jogadores sem gastar muito em direitos adquiridos. Do lado do Alético-MG, vieram Hulk, Diego Costa e o maior investimento da temporada: Nacho Fernandéz, argentino que custou 6 milhões de euros. No Flamengo, nada de compra. E sim a venda de Gerson e jovens da base para, meses depois, trazer Andreas Pereira e Kenedy por empréstimo e David Luiz, sem clube. No ano passado, o Atlético-MG investiu mais pesado, em Zaracho, Savarino, Keno, Sasha e Alonso. O clube entende que o desempenho veio antes do esperado, mas comemora o elenco robusto sem problemas de lesão, apesar de também sofrer com as convocações.

Após reclamações de arbitragem, discussão sobre a volta do público e posições distintas sobre o adiamento de jogos de clubes que cederam jogadores à seleção brasileira, outro componente entrou em cena na última semana. A liberação de ingressos para a torcida visitante. A diretoria do Flamengo aguardava com temor a definição do Superior Tribunal de Justiça Desportiva sobre o pedido do Atlético-MG para a liberação da carga de ingressos. Após o clube mineiro entrar com um pedido de liminar no STJD, o presidente do órgão Otávio Noronha solicitou ao Flamengo uma resposta até a manhã de ontem, e ela veio com essa preocupação com a segurança no estádio. Mesmo assim, Noronha acatou o pedido.

O Flamengo acredita que esse procedimento requereria uma operação de segurança organizada com mais antecedência. Mas já houve a aprovação da CBF e dos clubes em conselho para tal. O alerta do Flamengo ainda leva em consideração a possível emboscada das organizadas do Atlético-MG junto com torcedores do Vasco. O Batalhão Especial de Policiamento em Estádios (Bepe) está levantando informações para fazer a escolta, contando com a liberação da torcida visitante.

Otávio Noronha determinou que os ingressos sejam vendidos on-line, sob pena de suspensão dos responsáveis e multa de até R$ 100 mil. Em despacho, o presidente do STJD exigiu ainda que todas as regras sanitárias impostas pelas autoridades locais deverão ser fielmente observadas pelos torcedores do Atlético/MG, desde a aquisição e retirada dos bilhetes, até o ingresso no estádio.

Lesões matém crise no Flamengo

Em campo, Flamengo e Atlético-MG medem forças em desequilíbrio. Além da vantagem na tabela, o time mineiro deve ter todos os jogadores do elenco aptos a atuar no Maracanã. Se o Flamengo terá que esperar mais por De Arrascaeta e David Luiz, perdeu mais duas peças: Diego e Filipe Luis tiveram lesões musculares confirmadas. No Galo, por outro lado, Mariano e Savarino se recuperam de pubalgia, e se juntam a Hulk, Nacho e Diego Costa. O momento é bem melhor no líder do campeonato, que se classificou para a final da Copa do Brasil no meio de semana poupando titulares. O trabalho tem profissionais de alto gabarito, como o médico Rodrigo Lasmar, da seleção brasileira, e o preparador físico Cristiano Nunes, com anos de estrada.

Na reapresentação do Flamengo após a eliminação, o clima no Ninho do Urubu não era bom. A desconfiança entre os funcionários da comissão técnica e do departamento médico aumentou ainda mais após declarações do técnico Renato Gaúcho sobre a dificuldade em recuperar jogadores. Não houve qualquer debate interno entre os setores nem com a diretoria até a ida do presidente Rodolfo Landim ao CT na tarde de ontem para tomar pé da situação. O mandatário ficou meia hora e foi embora.

A decisão de não tomar medidas drásticas a um mês da final da Libertadores não impede que o assunto ferva do CT à Gávea. O alvo principal é o vice de futebol Marcos Braz, mas as críticas na prática recaem da análise de desempenho do clube e os preparadores físicos Alexandre Sanz e Rafael Winicki, indicados por Braz e por alguns atletas, respectivamente. Sanz é tido como "gente boa", mas a missão no clube é acima dele, de acordo com relatos internos. O Flamengo tem desde 2016 uma plataforma de dados médicos, que precisa ser atualizada, e o profissional tem dificuldade para se inteirar da tecnologia para alimentar o banco de dados.

No caso de Winicki, há outras questões. Os métodos de treinamento físico trazidos de uma realidade de academia e cross fit não encontram respaldo nos trabalhos de futebol de elite. Há relatos de que os jogadores fazem muitos exercícios de salto, que sobrecarregam joelhos, panturrilhas e tendões. Sobretudo em jogadores mais velhos, como Diego, Filipe Luís e Diego Alves, todos com histórico recente.

Alguns jogadores começaram a se incomodar com os trabalhos físicos. Assim como Renato Gaúcho. O técnico fez cobranças internas e entende que a comissão técnica precisa ser reformulada ao fim da temporada, até para que ele renove contrato. Renato tem boa relação com Márcio Tannure, mas é amigo pessoal de José Luis Runco, que foi médico do clube e da seleção quando o técnico ainda jogava. A volta de Runco e de seu filho, Guilherme, ao Flamengo, foi cogitada no começo da gestão de Rodolfo Landim, mas os métodos já sofriam resistência no clube. No ano passado, veio então Marcelo Soares, médico com passagem pelo Flamengo, que chegou a processar o clube, mas é próximo a Runco e foi bem indicado. Com visões diferentes de Tannure, conduz os trabalhos de dia a dia e as avaliações de lesão

Extra O Globo 

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