Joice Giarolla Carneiro Hernandes tinha 21 anos Foto: Reprodução
Joice Giarolla Carneiro Hernandes, de 21 anos, que no início da noite do último domingo deu entrada já sem vida no Posto de Saúde de Fragoso, em Magé, na Baixada Fluminense, havia sido vista pela última vez dois dias antes, na sexta-feira, quando deixou a casa do pai, com quem morava. Portadora de esquizofrenia, ela foi deixada na unidade por um ex-namorado, Diego Medeiros de Souza, alvo de uma ordem de restrição que o impedia de se aproximar da jovem. O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF).
Os investigadores ainda aguardam o resultado do laudo cadavérico elaborado pelo Instituto Médico-Legal (IML), que irá apontar o que, efetivamente, causou o óbito da jovem, e também há quanto tempo ela estava morta ao chegar no posto de saúde. Diego, o ex-namorado, afirmou em depoimento na especializada, prestado na condição de testemunha, que ela estava respirando no momento em que a colocou no banco de trás de um carro para levá-la até a unidade.
A declaração de óbito elaborada no próprio posto não aponta causa da morte e frisa a necessidade de "exames complementares". No entanto, funcionários relataram informalmente à família a presença de sinais de uma possível overdose — Joice fazia tratamento contra a dependência quimica em cocaina. Além disso, também havia marcas avermelhadas no pescoço da jovem, cujas causas ainda serão analisadas.
Além do ex-namorado e do pai da jovem, a DHBF também ouviu outros parentes de Joice, como uma irmã e um cunhado, e um homem que vinha se relacionando com ela atualmente. Nesta sexta-feira, amigos da jovem são esperados na especializada para que também possam depor.
Diego responde na Justiça a um processo pelo crime de estupro de vulnerável contra Joice, em virtude da condição clínica da jovem. Ele chegou a ter a prisão preventiva decretada e passou alguns meses na cadeia, mas foi solto mediante a proibição, determinada pela Justiça, de qualquer tentativa de aproximação com a ex-namorada.
Na denúncia do Ministério Público contra Diego relativa ao caso de estupro de vulnerável ocorrido entre 2017 e 2018, a promotora Elke Schlesinger Royo Visconti de Araújo pontuava que, "sendo portadora de psicose", a vítima era "absolutamente incapaz" e não tinha o "necessário discernimento para a prática do ato". Na investigação, a 66ª DP (Piabetá) descobriu que Diego fornecia drogas em troca de sexo com a jovem.
"Verifica-se que o nacional Diego Medeiros de Souza, mesmo ciente de que Joice Giarolla Carneiro Hernandes era portadora de distúrbios mentais, manteve por diversas vezes relações sexuais com a mesma, fatos ocorridos desde o início de 2017, quando Joice já contava com 17 anos de idade, pagando tais relações sexuais com entrega de drogas ilícitas para uso da mesma", diz um trecho do relatório.
Socorro de carro
Ao falar à DHBF, Diego negou qualquer relação direta com a morte da ex-companheira. Segundo ele, Joice chegou inesperadamente em sua casa no domingo, após três anos sem qualquer tipo de contato entre eles, exceto por situações em que se cruzaram à distância pelas ruas da cidade. Segundo esse relato, Joice aparentava estava sob efeito de drogas e se encontrava muito ofegante. "Bateu à porta pedindo ajuda", afirmou Diego.
Diego teria, então, ligado o ventilador e colocado um travesseiro sob a cabeça de Joice, no quarto, posicionando-a deitada de barriga pra cima. Ele relata ter decidido ligar para o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu), que forneceu informações sobre como prestar os primeiros socorros. Ainda de acordo com o depoimento, cuja íntegra foi obtida pelo EXTRA, Diego afirmou que, da chegada da jovem até o telefonema, cerca de 15 minutos se passaram. Perguntado pelos agentes se poderia apresentar o registro da chamada, contudo, ele respondeu que não seria possível devido a um hábito de deletar diariamente todo o histórico de ligações.
Diego continuou o relato informando que, depois de esperar em vão a ambulância por 25 minutos, decidiu socorrer Joice por outros meios, abordando um motorista e oferecendo R$ 100 para que ele levasse os dois até o hospital mais próximo. Ele disse à polícia que não se recorda do nome do homem que o ajudou no socorro, nem da marca ou do modelo do veículo.
Já na unidade, o rapaz optou por deixar o local, acreditando que os parentes da ex-namorada seriam comunicados pelos funcionários da unidade e iriam comparecer ao posto. Ele contou à polícia que, logo após chegar em casa, soube através de publicações no Facebook que a jovem teria morrido, mas não foi capaz de precisar em que perfil obteve essa informação. Sendo o próprio administrador de uma página com notícias sobre Magé na mesma rede social, ele fez, então, uma postagem na qual afirmava que Joice "morreu devido ao consumo excessivo de drogas no dia do aniversário da nossa filha"
A jovem, de fato, era mãe de uma menina que completou 3 anos no domingo. Contudo, ela não tem nome paterno na certidão de nascimento, e Joice sempre negou que Diego fosse o pai. Um processo sobre a paternidade da criança corre em sigilo de Justiça. Por conta dos problemas de saúde da mãe, a criança é criada por uma parente que a adotou.
Parentes de Joice asseguram que só tomaram conhecimento da morte de Joice, no domingo, a partir da publicação postada na página de notícias de Diego. Ainda de acordo com a família da jovem, depois que se dirigiram ao posto de saúde, uma assistente social contou que o acompanhante que a deixou na unidade afirmou que ela era uma moradora de rua e foi embora pouco depois, ao ser informado por funcionários que o óbito seria comunicado à Polícia Militar. No depoimento, Diego negou ter ouvido qualquer aviso sobre o acionamento da polícia.
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