Os garimpeiros que estão em centenas de balsas e dragas no Rio Madeira, no interior do Amazonas, postaram vídeos em um grupo de uma rede social em que mostram a chegada na área do rio onde estão localizados, as estruturas das embarcações e até pesando o ouro extraído; Veja vídeo acima.
Os registros foram publicados por diferentes pessoas, durante os últimos dias. Um dos vídeos foi postado por um homem e mostra a parte da frente de uma canoa a caminho da área de garimpo no Rio Madeira. Na legenda da publicação, ele diz "Garimpo puruzinho Humaitá Amazonas".
Em outras duas publicações, homens mostram a estrutura de algumas das dragas onde os garimpeiros estão. Com a repercussão nacional que a atividade de garimpo ilegal no Rio Madeira teve, um dos vídeos tem a legenda "A fofoca tá aumentando e vamos nós".
Uma foto publicada no dia 13 de novembro mostra um pedaço de ouro extraído da região ao ser pesado em uma balança de precisão.
Trabalho no garimpo no rio Madeira — Foto: Reprodução
Dragas atracadas no Rio Madeira
Centenas de balsas e dragas atracaram no meio do rio, nas proximidades da cidade de Autazes, distante 113 Km de Manaus, para exploração ilegal de ouro. As embarcações começaram a chegar no local há cerca de 15 dias, quando surgiu a informação de que havia ouro na região da comunidade, e formaram uma espécie de "vila flutuante".
Nesse processo de mineração, as embarcações revolvem o fundo rio, sugam o material para filtrar o ouro e devolvem a água em seguida, poluindo o meio ambiente pelo uso de produtos químicos, especialmente mercúrio.
A chegada das dragas assustou os moradores da região, que usam o trecho do Rio Madeira para chegar a Manaus em lanchas. O trajeto é mais curto do que utilizando a estrada BR-319, que é conhecida por estar muito deteriorada.
Dezenas de balsas de garimpo ilegal atracam no Rio Madeira no AM
Ativista critica atividade ilegal
A situação gerou preocupação entre órgãos ambientais e entidades de proteção da Amazônia. Para o ativista do Greenpeace, Danicley de Aguiar, a falta de fiscalização permite o avanço da atividade ilegal na região.
"Nós estamos vendo aqui um conjunto de mais de 300 balsas colocadas numa ponta de rio, sem licença ambiental alguma, mas operando naturalmente à luz do dia sem ser incomodada por ninguém. São 300 balsas a menos de 30 minutos de voo da maior cidade da Amazônia e elas colocam aí em risco também toda a saúde pública da região", afirmou Aguiar.
Presença de garimpeiros assustou moradores de comunidade no rio Madeira, no Amazonas. — Foto: REUTERS/Bruno Kelly
Para o ativista do Greenpeace, as imagens que mostram os barcos na região representam uma vergonha para o país, enquanto o mundo tenta buscar maneiras para conter a crise climática.
"Não fazem questão de se esconder porque a retórica do governo é de apoio. Eles têm historicamente sido apoiados pelo governo e pelo governo Bolsonaro sobretudo. O governo Bolsonaro já tem dito para eles que tem licença política para atuar. Então, esse governo, as ações e as omissões do governo Bolsonaro têm favorecido esse tipo de atividade na região e aí tem colocado a Amazônia numa espiral de destruição gigantesca", disse.
Órgãos investigam atividade
O Ministério Público Federal (MPF) expediu uma recomendação, na quarta-feira (24), pedindo a adoção emergencial de ações para retirada dos garimpeiros ilegais que se instalaram na região do Rio Madeira. O MPF cobra uma atuação integrada de órgãos e autarquias federais e estaduais competentes, no prazo de 30 dias.
Em nota, o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) confirmou a movimentação anormal de dragas e informou que será feito um diagnóstico apurando a real situação no local. O texto informa, também, que atividades de exploração mineral naquela região não estão licenciadas, portanto, se existindo de fato, são irregulares.
Além da mineração, o Ipaam destaca em nota que pode haver outras possíveis ilegalidades que devem ser investigadas, tais como: mão de obra escrava, tráfico, contrabando e problemas com a capitania dos portos.
Garimpeiros instalaram centenas de dragas e balsas nos últimos 15 dias no rio Madeira, no Amazonas. — Foto: REUTERS/Bruno Kelly
O Ipaam ainda diz que está buscando informações, com intuito de planejar e realizar as devidas ações no âmbito de sua competência, integrado aos demais órgãos estaduais e federais, e informou que comunicaria o fato ao comando da Segurança Pública do Amazonas (SSP), além de pedir apoio federal para apurar a ocorrência.
Em nota, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informa que teve ciência do caso e, nesta terça-feira (23), reuniu-se com o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) para alinhar as informações, a fim de tomar as devidas providências e coordenar uma fiscalização de garimpo na região.
Também em nota, a Polícia Federal informou que tomou conhecimento das atividades ilícitas que estão ocorrendo no Rio Madeira, e "juntamente com outras instituições, estabelecerá as melhores estratégias para o enfrentamento do problema e interrupção dos danos ambientais".
G1
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