RI Rio de Janeiro 17/12/2021 Pastor Sérgio Amaral Brito preso por suspeita de estupro de vulnerável e posse sexual mediante fraude. Na foto, o pastor sendo conduzido para um carro da polícia que o levou para presídio de Benfica. Foto: Marcos Nunes/ Agência O Globo Foto: Agência O Globo
Depoimentos prestados por mulheres que supostamente sofreram abusos sexuais praticados pelo pastor Sérgio Amaral Brito, de 59 anos, que dava atendimento como psicanalista, sexólogo e terapeuta, em um consultório de Piabetá, em Magé, na Baixada Fluminense, revelam que o religioso oferecia um abraço terapêutico para esfregar seu corpo nas jovens. D acordo com a declarações colhidas pelos investigadores da 66ªDOP (Piabetá), Sérgio chegava a pedir que as vítimas afirmassem em sua presença que eram "gostosas".
Ele dizia que isso ajudaria as pacientes a melhorar a autoestima .
O processo terapêutico consistia ainda que as mulheres trouxessem fotos de roupas íntimas ou que vissem com uma lingerie para ser vestida e exibida ao terapeuta, no próprio consultório. Foi exatamente o que aconteceu com uma comerciante, que foi vítima do religioso, durante uma consulta em 2013, aos 27 anos.
Ela prestou depoimento, nesta sexta-feira e concordou em falar com o Extra sobre o caso. X. contou ter procurado a polícia depois de saber da existência de outras vítimas. Ela e mais quatro mulheres, abusadas pelo pastor, criaram um grupo de WhatsApp com a intenção de incentivar que outras jovens também façam denúncias sobre abusos sexuais.
— Há três semanas uma amiga me contou que a irmã foi abusada por ele (pastor) no consultório. Me toquei que havia acontecido a mesma coisa comigo e resolvi procurar a polícia. Estava com problemas de depressão e procurei um psiquiatra na época. Naquela ocasião, ele me pediu para procurar um psicanalista. Acabei indo no consultório do Sérgio, que ficava no mesmo prédio da clínica que frequentava. Estava muito fragilizada e cheguei lá chorando muito. Ele demonstrou ser muito afetuoso neste primeiro atendimento. Na terceira consulta, disse que me daria um abraço terapêutico e se esfregou na altura dos meus seios. Depois, esfregou o corpo todo. Estranhei muito aquilo — lembra a mulher, que ainda relata que o pastor pediu fotos seminuas:
— Me pediu para que eu levasse para ele fotos minhas de calcinha e soutien. Disse que, se eu preferisse, poderia trazer uma lingerie na próxima consulta e mostrar em meu corpo. Eu respondi que não faria aquilo e ele me chamou de rebelde. Fui embora dali. Depois, procurei outro terapeuta, contei o que havia acontecido, e perguntei se aquilo era normal. Ele disse que nunca havia visto nada igual. Me senti suja e impotente diante de tudo o que aconteceu. Eu e as outras quatro meninas que foram abusadas criamos um grupo nas redes sociais para receber denúncias de outros abusos. É uma forma de ajudarmos outras vítimas a denunciar o problema - ressalta X.
De acordo com a polícia, as cinco vítimas que apontaram o pastor como autor de abusos sexuais tem um perfil semelhante. Todas são morenas, de cabelos longos e relataram ter sido abusadas quando tinham entre 16 e 27 anos.
Uma delas relatou aos pais ter sido hipnotizada e abusada pelo pastor. Eles chegaram a se reunir com o religioso que teria justificado o ato como sendo uma nova técnica de tratamento que trouxera do exterior. Na mesma ocasião, Sérgio teria solicitado que os responsáveis da vítima o acompanhassem em uma oração para que ele não voltasse a fazer tal procedimento.
O pastor teve a prisão temporária decretada e foi detido pela polícia na quinta-feira. De acordo com o delegado Angelo Lages, da 66ªDP, o religioso é suspeito de crimes de estupro de vulnerável e de posse sexual mediante fraude. Nesta sexra-feira, o religioso foi transferido da carceragem da delegacia para a penitenciária José Frederico Marques, em Benfica. A unidade serve como triagem para outros presídios e é considerada como porta de entrada do sistema penitenciário.
De acordo com o Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro CRP-RJ), o pastor Sérgio Amaral Brito não possui registro de psicólogo. Para Pedro Paulo Gastalho Bicalho, conselheiro presidente do CRP-RJ, só profissionais de psicologia podem exercer a psicanálise.
— Não existe um Conselho de Psicanálise. A psicanálise não é entendida como profissão. Ela não é regulamentada como profissão. A única profissão regulamentada relacionada a psicoterapia, que é regulamentada no Brasil, é a psicologia. Tanto que somente podem atender em plano de saúde regulados pela Agência de Saúde Nacional Suplementar, os profissionais que são psicólogos. Acontece que, em campo liberal, qualquer pessoa pode, de uma certa forma, dizer que é um psicoterapeuta e começar a atender pessoas no campo privado. Então, estas pessoas que procuram pessoas no campo privado, precisam primeiro saber se esta pessoa, que está atendendo, é devidamente um psicólogo registrado no Conselho Regional de Psicologia. Porque ela pode de fato estar se consultando com pessoas que não são reguladas por nenhum conselho profissional. Isto é bastante importante— disse Pedro Paulo
Extra o Globo
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