Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz divulgado hoje (19) pela Fundação Oswaldo Cruz revela aumento significativo do número de casos da doença no Brasil, com média de 49 mil registros por dia, seis vezes mais do que o observado no início de dezembro de 2021. O documento destaca, porém, que, graças à eficácia da vacinação, que completou um ano, o número de mortes não acompanhou o aumento do número de casos no país.
Referente às semanas epidemiológicas 1 e 2
de 2022, compreendendo o período de 2 a 15 de janeiro, o boletim revela
que piorou a situação dos leitos de unidades de terapia intensiva (UTI)
destinados a pacientes com covid-19, em comparação aos dados das duas
últimas semanas.
Cinco estados que estavam fora da zona de alerta ingressaram na zona de
alerta intermediário, com taxas iguais ou superiores a 60% e inferiores a
80%, somando-se a seis unidades da federação que já estavam nesta zona
na semana anterior.
Destacam-se entre as capitais que tiveram taxas divulgadas Cuiabá (100%), Rio de Janeiro (95%), Belo Horizonte (88%), Fortaleza (85%) e Recife (80%), que estão na zona de alerta crítico; e Vitória (78%), Manaus (77%), Campo Grande (77%), Goiânia (77%), Brasília (74%), Palmas (69%), São Luís (68%), Teresina (66%), Porto Velho (66%), Salvador (65%), Curitiba (61%) e Boa Vista (60%), na zona de alerta intermediário.
O boletim chama a atenção que, no caso da cidade do Rio de Janeiro, a taxa apresentada não inclui leitos impedidos/bloqueados, o que eleva o seu valor.
A comparação de dados relativos a 17 de
janeiro com os de 10 de janeiro mostra aumento do total de leitos em 12
estados e no Distrito Federal. Os destaques são aumentos superiores a 50
leitos registrados em Pernambuco (105) e Ceará (5). Cinco estados
tiveram redução do total de leitos: Roraima, Rio Grande do Norte, Santa
Catarina, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
A média móvel de sete dias, divulgada pela Fiocruz, é calculada
somando-se os registros do dia com os dos seis dias anteriores e
dividindo o resultado da soma por sete. O número é diferente daquele
divulgado pelo Ministério da Saúde, que mostra apenas as ocorrências de
um dia específico.
Grupos etários
A distribuição dos casos de internação e
morte nos grupos etários chamou a atenção dos pesquisadores, que
perceberam mudança no perfil das internações desde dezembro: tanto para
internações quanto para óbitos, destaca-se maior presença de pessoas
mais jovens. "Em especial para internações, é notável a participação de
crianças com até 2 anos”. Isso indica que tal grupo passou a ocupar
lugar de destaque na pandemia no fim de 2021 e início de 2022. “Os
grupos extremos de idade passam a ser destaque da distribuição etária
das internações e óbitos”, diz o boletim.
Entre os idosos, cresce a presença de grupos com 80 anos e mais, e
diminui a de grupos de 60 a 69 anos e de 70 a 79 anos. Entre os adultos,
aumentam os casos nos grupos de 20 a 29 anos e de 30 a 39 anos e
diminui a contribuição dos grupos de 50 a 59 anos e de 40 a 49 anos.
De acordo com pesquisadores da Fiocruz, o cenário é de incerteza no
médio prazo. “Para as internações em UTI parece haver uma nova forma de
distribuição, em que adultos mais jovens e idosos menos longevos passam a
compartilhar o perfil que mais requer cuidados intensivos. As próximas
semanas poderão alterar a dinâmica das internações por covid-19 no
país.”
Expansão
Embora parte dos casos se refira a registros
que ficaram retidos nos sistemas (e-SUS-Notifica e Sivep-Gripe), há
predomínio da variante Ômicron, o que evidencia tendência de aumento da
transmissão da doença, já observada na Europa e mais recentemente na
América do Sul, principalmente na Argentina e no Uruguai.
Nas duas primeiras semanas epidemiológicas de 2022, a média ficou em 130
óbitos diários, revelando pequeno aumento na comparação com o início de
dezembro de 2021. Segundo os cientistas, a redução da gravidade dos
casos de covid-19 deve-se à alta cobertura da vacinação alcançada por
esses países, incluindo o Brasil.
Em países com baixa cobertura vacinal, como alguns da Europa Oriental e
do Oriente Médio, a letalidade permanece alta. Para os pesquisadores,
isso deixa claro que “a variante Ômicron pode, em contextos de baixa
cobertura vacinal, causar aumento de quadros clínicos graves e levar à
morte grande parte dos infectados”.
Síndrome respiratória
Levantamento do InfoGripe indicou, nas
últimas semanas, tendência de aumento significativo da incidência de
síndromes respiratórias agudas graves (SRAG) em todos os estados. As
exceções foram Roraima e Rio de Janeiro, onde há estabilidade.
Com estimativas superiores a um caso por 100 mil habitantes, as taxas de
SRAG são consideradas altas em todos os demais estados. Em São Paulo e
Minas Gerais, por exemplo, as taxas estão próximas de 10 casos por 100
mil habitantes (9,6 e 8,8 casos por 100 mil habitantes,
respectivamente).
Conforme o boletim, o quadro de SRAG no Brasil, analisado com dados até a
primeira Semana Epidemiológica de 2022, preocupa, já que o total
observado atingiu 13 mil casos no período compreendido pelas duas
últimas semanas de 2021 e a primeira de 2022. “Os casos de SRAG envolvem
hospitalizações e óbitos por vírus respiratórios, e esse crescimento
significativo ocorre em meio à disseminação da variante Ômicron no país,
assim como à circulação de vírus da influenza em vários estados”, diz o
documento.
Vacinação
Os pesquisadores destacam a importância da campanha de vacinação, que “alcançou resultados positivos e demonstrou a efetividade dos imunizantes, sobretudo para reduzir hospitalizações e óbitos”. Eles ressaltam, entretanto, que, após um ano de vacinação, os desafios ainda permanecem.
Entre os desafios, destaca-se a necessidade de avançar com a cobertura vacinal em populações com menor acesso aos imunizantes ou grupos com resistência às vacinas; de aumentar a cobertura de vacinação infantil iniciada recentemente e de prover doses de reforço para proteção mais efetiva, inclusive contra novas variantes do coronavírus, como a Ômicron.
Outro desafio é diminuir a heterogeneidade entre estados e municípios na cobertura vacinal. Os cientistas lembram ainda a importância da autossuficiência na produção de vacinas, que permitirá maior autonomia na oferta de doses.
Agência Brasil
0 Comentários