A idosa Rita Maria dos Santos, 64 anos, hipertensa, diabética, com histórico de AVC e de acompanhamento psicológico, foi enviada para o Presídio de Salvador na última segunda-feira (21/2).
O motivo da prisão foi ter descumprido medidas de proteção contra o próprio filho e a esposa dele. Uma irmã da idosa, Clarice dos Santos, conversou com a redação Aratu On e explicou o lado defendido por ela e outros familiares.
De acordo com ela, o filho de Rita e a nora teriam se mudado para a casa da idosa há cerca de sete anos. "Eles sairam daqui de Salvador fugidos, porque ele é tirado a 'valentão'. Ela, que já deu uma casa a cada um dos sete filhos aqui em Salvador, incluindo ele, disse que o casal poderia ficar com ela na casa da Ilha de Itaparica", conta.
A família toda se mudou então para o loteamento Vela Branca, em Porto Santo, onde a idosa costumava morar sozinha. "No começo era bom, alguém pra ficar com ela, cuidando dela, mas depois começaram as brigas entre minha irmã e nora", relata a tia do homem - que não terá a identidade revelada -.
Rita, que não sabe ler nem escrever, teria dado parte do terreno da Ilha para o filho construir. Lá, ele pediu que ela assinasse um documento para comprovar a doação. O restante da família, que não teve acesso a esse documento, acredita que tudo se tratou de um golpe para ficar com todo o terreno.
DIVISÃO
O homem começou a fazer a casa a poucos metros de distância da casa da mãe. Segundo Clarice, o casal ainda tentou interditar Maria Rita, na tentativa de que ela fosse considerada incapaz de gerir os próprios bens, mas não conseguiu. Foi após esse episódio que resolveram que a idosa deveria sair pro conta própria.
"Eles pediam aos filhos, que são crianças, pra jogarem pedra na casa dela, pra abusar mesmo. Um dia, minha irmã chegou de Salvador e viu que a janela da casa dela, que dá pro beco que separa as duas casas, tinha sido quebrada. Ela ficou com tanta raiva que terminou ela mesmo de quebrar a própria janela, xingando. Só que o filho e a nora gravaram esse momento, sem mostrar a cara, só o barulho do vidro e dos palavrões, e entregaram na polícia dizendo que ela estava quebrando a janela da casa deles, mas foi o contrário", narra Clarice.
O casal teria em posse vários vídeos e áudios que mostram a irritabilidade de Rita, todos iniciando já com a idosa irritada, sem mostrar o que aconteceu antes. Esse material serviu de prova para que o filho pedisse uma medida protetiva contra a mãe, exigindo que a genitora ficasse longe dele - mesmo que morassem no mesmo lote -.
O ponto alto da briga aconteceu no último dia 14 de fevereiro. Na versão de Clarice, o sobrinho decidiu por fogo em parte do quintal. Maria Rita teria ficado incomodada porque as cinzas estavam indo direto para sua cozinha e, com raiva, teria pego um balde de água para acabar o fogo. O filho, então, teria ido à Delegacia dizer que ela ateou álcool no seu corpo para que as chamas o atingissem.
Ela foi detida no mesmo dia. A redação Aratu On entrou em contato com a Polícia Civil para entender quais são os crimes cometidos pela idosa, mas o órgão repassou a demana ao Tribunal de Justiça (TJ). Essa matéria será atualizada assim que tivermos retorno do TJ.
PROCESSO
A família da idosa aponta ainda que o processo tenha falhas. O primeiro deles seria a própria prisão da idosa, que não possui ficha criminal. "Minha irmã não matou, não roubou, não feriu, não agrediu fisicamente. Eles dizem que ameaçou, que nem isso eu acredito. Mas prender uma idosa de 64 anos, hipertensa, diabética, com histórico de AVC e de acompanhamento psicológico, por causa de uma ameaça?", questiona Clarice
Ela aponta ainda a falta de audiência de custódia para a idosa, perícia para o filho ou fato dela não saber ler nem escrever. "Essa medida protetiva, por exemplo, será que explicaram para ela o que ela estava recebendo? E outra, eu tive acesso ao documento e não foi assinado por ela, diz que outra pessoa recebeu", reclama.
O advogado já entrou com um pedido de Habeas Corpus, que foi negado pelo juiz da comarca de Itaparica. O profissional já entrou com outra petição e aguarda análise
Aratu On
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