El Salvador: governo culpa gangues por onda de assassinatos que causou 87 mortes e prende mais de 2 mil pessoas

Imagem de 2016 de membros da gangue Mara Salvatrucha conversam na prisão de Ciudad Barrios, El Salvador — Foto: Tomas Munita/The New York Times

A recente onda de violência em El Salvador (87 pessoas foram assassinadas no fim de semana) foi atribuída pelo governo do país a grupos criminosos organizados, como Mara Salvatrucha e Barrio 18. As autoridades informaram que prenderam, nos últimos dias, 2.163 pessoas.

A nova onda de violência começou no último sábado — e, aparentemente, há alvos que não seriam implicados nas guerras entre gangues, como vendedores de rua, motoristas de taxi, pessoas que estavam comprando pão, etc.

Segundo o jornal “The New York Times”, no ano passado, o governo dos Estados Unidos acusou o atual presidente, Nayib Bukele, de fazer um acordo secreto com algumas gangues (inclusive com a Mara Salvatrucha).


Imagem de 2016 de membros da gangue Mara Salvatrucha conversam na prisão de Ciudad Barrios, El Salvador — Foto: Tomas Munita/The New York Times

O Departamento do Tesouro dos EUA chegou a sancionar alguns dirigentes do governo salvadorenho acusados de fornecer incentivos financeiros, prostitutas e acesso a telefones celulares a líderes de gangues presos. Em troca, as gangues diminuiriam a violência.


Nas imagens, membros de gangues rivais como Mara Salvatrucha (MS-13) e Barrio 18 são vistos juntos em 2020 — Foto: Reprodução/Twitter/OsirisLunaMeza

Nas imagens, membros de gangues rivais como Mara Salvatrucha (MS-13) e Barrio 18 são vistos juntos em 2020 — Foto: Reprodução/Twitter/OsirisLunaMeza

Reportagens publicadas em jornais salvadorenhos também apontam que o governo negociou com os grupos criminosos para reduzir os homicídios.

Bukele não é o primeiro presidente salvadorenho acusado de fechar acordos com as gangues.

Ele se elegeu com a promessa de diminuir a violência no país, o que de fato ocorreu: em 2021, foram registrados 1.147 homicídios, enquanto em 2017 foram 3.962.

O presidente nega que tenha feito acordos com as gangues.

Regime de exceção

Depois dos homicídios do último sábado, o governo decretou um regime de exceção, com duração de um mês.

A medida foi vista com preocupação por entidades de direitos humanos.

O ex-secretário da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) Paulo Abrão chamou de "populismo penal" as medidas adotadas no país contra a violência. "Ilegalidades para enfrentar ilegalidades. Barbáries para enfrentar barbáries", publicou Abrão no Twitter.

Bukele respondeu de imediato: "Vocês na OEA e a CIDH foram os que patrocinaram a trégua (entre gangues) que só fortaleceu os grupos criminosos e lhes permitiu acumular recursos, dinheiro e armamento. Levem sua peste (as gangues) do nosso país."

Abrão responde

Em entrevista ao g1, Abrão afirmou que com Bukele houve mais concentração de poder em El Salvador. “Ele contratou e usou o Pégasus, a ferramenta de espionagem israelense, para interceptar o telefone de 22 jornalistas, militarizou a segurança pública, usa discurso de ódio para desqualificar o movimento de direitos humanos que tentam cumprir seu papel de fiscalização”.

Bukele ironizou as organizações internacionais que criticaram as medidas de segurança no país: "Temos 70 mil criminosos ainda nas ruas. Venham buscá-los, levem eles para os seus países, tirem eles desta 'perseguição ditatorial e autoritária'. Vocês podem ajudar esses anjinhos, não permitam que continuemos violando os seus direitos", escreveu ele em uma rede social.

Para Abrão, o salvadorenho faz populismo penal: “É dever do Estado garantir o direito à segurança pública por meio de medidas que respeitam o marco democrático, o presidente está reagindo de maneira agressiva à fiscalização desses abusos, ele faz populismo penal para justificar ações estatais arbitrárias”.

G1 

Postar um comentário

0 Comentários