Após suspensão do contrato com empresa investigada, pátios estão cheios com os reboques parados Foto: Agência O Globo / Márcia Foletto
A Justiça do Rio concedeu, na tarde desta quinta-feira, liberdade ao empresário Jailson dos Santos Salazar. Ele havia sido preso na noite de terça-feira, quando o vereador Gabriel Monteiro (PSD) denunciou uma tentativa de suborno para que as atividades de reboques na cidade não fossem fiscalizadas pelo parlamentar. Na decisão, tomada durante audiência de custódia, o juiz Rafael de Almeida Rezende, da 29ª Vara Criminal, afirma que "não se pode descartar a tese de flagrante preparado sustentada pela defesa". O magistrado pontua ainda que a participação do vereador no episódio "sugere que a ação de Gabriel Monteiro tenha fins eleitoreiros".
Nesta quarta-feira, depois que o caso veio à tona, a Prefeitura do Rio anunciou a rescisão unilateral do contrato com a J.S. Salazar, que pertence a Jailson. Hoje, todos os 50 reboques do grupo estão parados em três pátios, enquanto a Secretaria municipal de Ordem Pública (Seop) tenta montar um esquema provisório e firmar um contrato emergencial para o setor.
Ao desqualificar o flagrante, o juiz frisou que "os fatos devem ser melhor esclarecidos". "A reunião entre os envolvidos ocorreu na residência de Gabriel Monteiro, regada a bebidas alcoólicas, devendo ser destacado que o custodiado foi instigado a se manifestar sobre fatos criminosos em que estaria envolvido, o que culminou com o suposto oferecimento de vantagem indevida", destacou Almeida Rezende. O texto continua: "Ora, se o vereador apurou irregularidades na empresa do custodiado, bastaria comunicar os fatos às autoridades competentes, não se compreendendo a necessidade de uma reunião em sua residência, o que sugere que a ação de Gabriel Monteiro tenha fins eleitoreiros".
Procurado pelo GLOBO, Gabriel Monteiro confirmou que havia bebidas alcoólicas no encontro, mas alegou que ela teria sido levada pelo próprio empresário e os policiais que o acompanhavam. Ele negou que tenha agido com o intuito de "preparar o flagrante" contra os acusados.
— Eles impuseram a vinda aqui em casa. Tenho mensagens nas quais o oficial (da PM), após me ligar várias vezes, disse que viria. Eu não tive escolha. Eu não embebedei ninguém. Foram eles que trouxeram as bebidas — assegurou o vereador, acrescentando que não conhecia Jailton até o episódio e criticando a decisão judicial:
— As falas são claras. Eu não me preparei para nada. É um absurdo o juiz mandar soltar. Isso é a Justiça brasileira.
Já o advogado do empresário, Leandro de Andrade Meuser, afirmou que ele pretende processar Gabriel Monteiro. Meuser desafiou o parlamentar a divulgar a íntegra do vídeo gravado por ele, "sem edições" — uma versão recortada das imagens foi publicada nas redes oficiais do parlamentar logo após o ocorrido.
— Ele foi à tarde no depósito, que não tem irregularidade nenhuma, e à noite fez uma confraternização em casa, chamando o Jailson e os policiais. Durante todo o tempo, incitava que as pessoas confessassem crimes que não existem e a oferecer propina. Após essa tentativa, deu voz de prisão para todo mundo que estava bêbado — afirma o advogado, argumentando que Monteiro mora em um condomínio com forte segurança privada e tem escolta, não sendo possível que o empresário e os PMs "entrassem sem ser convidados".
Os policiais citados tanto pelo vereador quanto pelo advogado, que estavam presentes na reunião, são o major Djalma dos Santos Araújo e o soldado Jonatas Olímpio Norberto, ambos lotados na Operação Lei Seca, e o tenente Renan Bastos de Brito, da Operação Segurança Presente. Nesta quinta-feira, a Secretaria de Estado de Governo, pasta para a qual os três estavam cedidos, comunicou que o trio foi exonerado. Os agentes foram devolvidos à Polícia Militar, e a Corregedoria Interna da corporação instaurou Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar a conduta dos três.
A J.S. Salazar é responsável pelo serviço de guincho de veículos estacionados em situação irregular e pela administração dos pátios para onde esses automóveis são levados. Nesta quinta-feira, com os guinchos da empresa parados, reboques da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio) estão atuando no trânsito da cidade para coibir irregularidades.
Veja, abaixo, a íntegra da nota enviada pela Seop:
"A Secretaria de Ordem Pública está em fase final de elaboração do termo de referência para a contratação emergencial de uma nova empresa para assumir o contrato de remoção e custódia dos veículos na cidade do Rio de Janeiro, após a suspensão do contrato com a J.Salazar. A seleção da nova empresa deve acontecer em até 10 dias. Até a nova contratação, o serviço de reboques será feito, de forma contingencial, com apoio da CET-Rio e da Guarda Municipal."
Extra o Globo
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