A defesa do sacerdote disse que não vai se pronunciar. O g1 também procurou a Arquidiocese de Brasília que até a última atualização desta reportagem não havia respondido aos contatos.
O jovem que agora tem 20 anos não quer se identificar, mas disse à TV Globo ter sofrido abusos desde os 13 anos, em uma igreja de Sobradinho (ouça áudio abaixo). Outra vítima também relatou um caso de abuso na casa paroquial.
"Eram [abusos] após as reuniões dos coroinhas, dos cerimoniais. Depois das missas ou anterior à missa. Ele convidava para tomar refeição, assistir um filme, enfim. Era sempre assim", diz vítima que denunciou padre.
Vítima de padre do DF suspeito de estupro conta sobre abusos
O jovem que fez a denúncia diz estar aliviado com o indiciamento. No entanto, aponta que se preocupa pelo sacerdote ainda estar solto e diz que teme que ele continue agindo da mesma forma, fazendo outras vítimas.
"De um lado, eu vejo a Justiça se concretizar, e por outro lado, ele ainda está solto", diz uma das vítimas do padre.
O padre Delson Zacarias dos Santos está afastado desde o ano passado, quando a Arquidiocese divulgou a seguinte nota:
"O Sr. Arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa [...] providenciou prontamente o seu afastamento cautelar da função paroquial, determinando o afastamento preventivo do seu ofício sacerdotal até o efetivo esclarecimento dos fatos impróprios apontados, e deu início à chamada 'investigação prévia', atualmente em curso", disse a Arquidiocese de Brasília, à época (veja íntegra do texto abaixo).
Abusos
Jovem em entrevista à TV Globo — Foto: TV Globo/Reprodução
À reportagem, a vítima contou que o sacerdote foi transferido para a igreja que ele frequentava, em 2013, e teria se aproximado dos jovens da paróquia e da família. No ano seguinte, ainda de acordo com o rapaz, depois de um evento religioso com os coroinhas, o padre o convidou para almoçar, junto com outros integrantes da igreja.
No entanto, quando todos haviam ido embora, o rapaz diz que o sacerdote fez perguntas de cunho sexual: "Ele veio com duas perguntas: se eu me masturbava ou se eu via pornografias. E eu respondi que não, que até então eu não fazia essas coisas e tudo mais".
De acordo com o jovem, o religioso continuou: "Logo em seguida, ele pediu para que eu abaixasse as calças para ele ver o meu pênis. A princípio, eu neguei, mas ele insistiu e disse que não faria nada, que não era nada demais, e que não iria acontecer nada, além de ver. Aí eu abaixei as calças para ele, ele tocou no meu pênis, eu fiquei super espantado. Ele percebeu esse meu espanto e pediu que eu levantasse [a calça] de volta", contou a vítima.
O rapaz afirmou ainda que, depois do primeiro episódio, os abusos voltaram a acontecer. "Era na sala, era no quarto. Até ele intitulava essas sessões, ele fazia sessões de massagem e dizia 'vamos para o papo bed', papo na cama", relatou a vítima.
Em 2017, de acordo com o relato do jovem, ele foi estuprado pela primeira vez. "Era muita dor, tanto fisicamente como mentalmente mesmo, porque aquilo foi muito invasivo, foi muito ruim", conta.
A vítima explica que nunca procurou ajuda por ter medo da família e de membros da igreja não acreditarem nele. Mas, no final do ano passado, o jovem disse que tomou a decisão de contar para a família, e segundo o rapaz, o padre o convenceu de não fazer isso.
O jovem afirma que os abusos continuaram em 2021, mas, após fazer um acompanhamento com um psicólogo, contou para a família o que estava acontecendo. Dias depois, segundo ele, procurou a arquidiocese para fazer a denúncia e, em seguida, foi até a Polícia Civil.
"Eu me sinto, pela primeira vez depois de todos esses anos, livre, livre de sofrimento, livre de pressão e me sinto mais leve para conseguir continuar a minha vida. Estou tendo muito apoio da minha família e da minha namorada", diz a vítima.
Leia íntegra da nota enviada pela Arquidiocese de Brasília em 2021, após o afastamento do padre:
"O Sr. Arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa, ao tomar conhecimento da acusação de abuso sexual contra menor feita em desfavor do padre [...], providenciou prontamente o seu afastamento cautelar da função paroquial, determinando o afastamento preventivo do seu ofício sacerdotal até o efetivo esclarecimento dos fatos impróprios apontados, e deu início à chamada "investigação prévia", atualmente em curso.
Além disso o arcebispo, recebeu a suposta vítima e seus familiares em audiência, acolhendo e manifestando sua proximidade de pastor, prestando assistência protetiva e psicológica aos envolvidos, zelando e expressando o compromisso da igreja com a proteção de crianças, adolescentes e pessoas vulneráveis, em consonância com as normas eclesiásticas promulgadas por São João Paulo II, e completadas pelo Papa Bento XVI e, mais recentemente, aperfeiçoadas pelo Papa Francisco, no Motu Proprio Vos estis lux mundi.
A Igreja de Brasília conta com uma Comissão Arquidiocesana de Proteção de Menores e Pessoas vulneráveis, presidida pelo Padre Carlos Henrique.
Nosso compromisso é cuidar que os ambientes de nossas comunidades sejam seguros e confiáveis para as crianças e adolescentes, acolher as vítimas e as testemunhas de eventuais abusos com todo o respeito e cuidado.
Nada mais para o momento.
Do Gabinete Episcopal."
G1
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