Dezenas de corpos são encontrados na cidade de Butcha, na Ucrânia; Rússia culpa 'radicais ucranianos'

 Ministério da Defesa Ucraniano

A descoberta de dezenas de corpos pelas ruas e em valas comuns em Bucha, subúrbio da capital ucraniana de Kiev, após a retirada de tropas russas, provocou reações de líderes europeus e aumentou a pressão sobre a Rússia. "Chocado com as imagens perturbadoras das atrocidades cometidas pelo exército russo na região libertada de Kiev", disse o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.

"A União Europeia está ajudando a Ucrânia e ONGs a reunir as provas necessárias para ações nos tribunais internacionais", disse ele, acrescentando que mais sanções contra a Rússia estão por vir. A secretária de Relações Exteriores do Reino Unido, Liz Truss, afirmou em comunicado que os "atos espantosos" cometidos pelo exército russo devem ser investigados como crimes de guerra. O mesmo pediu o ministro da Economia da Alemanha, Robert Habeck, que afirmou que "este terrível crime de guerra não pode ficar sem resposta" e disse que é preciso reforçar as sanções contra a Rússia.

O chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, afirmou que o país vai levar o caso ao Tribunal Penal Internacional junto da Ucrânia. A Rússia tem retirado tropas da região de Kiev, e a Ucrânia afirmou no sábado que já retomou o controle de todas as áreas ao redor da capital e que tem todo o comando da região pela primeira vez desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro.

Mas a retomada de Bucha, após mais semanas de controle russo, escancarou um cenário devastador, com corpos de homens e mulheres espalhados pela cidade, alguns com as mãos amarradas e muitos carregando panos brancos, sinal para alertar que eram civis e estavam desarmados. Em apenas uma vala, foram descobertos 57 corpos, segundo as autoridades da cidade.

O chanceler ucraniano, Dmitro Kuleba, pediu por mais sanções e chamou o episódio de "massacre deliberado". O conselheiro do presidente, Mijailo Podoliak, descreveu a situação como "o inferno do século 21." "Corpos de homens e mulheres que morreram com as mãos atadas. Os piores crimes do nazismo estão de volta à Europa", afirmou. Além de Bucha, vítimas foram encontradas em outras cidades perto de Kiev, como Maks Levin, fotógrafo e cinegrafista ucraniano que estava desaparecido havia três semanas.

O governo ucraniano afirma ainda que a Rússia tem espalhado minas terrestres pelas cidades de onde está retirando tropas. O serviço de emergências da Ucrânia disse que mais de 1.500 explosivos foram encontrados em um dia durante uma busca na vila de Dmitrivka, a oeste da capital.

A Human Rights Watch divulgou um comunicado neste domingo dizendo ter encontrado "vários casos de forças militares russas cometendo violações das leis de guerra" em regiões controladas pela Rússia, como nos arredores da capital, além de Tchernihiv e Kharkiv.

"Os casos que documentamos representam crueldade e violência indescritíveis e deliberadas contra civis ucranianos", disse Hugh Williamson, diretor da organização para Europa e Ásia Central. "Estupro, assassinato e outros atos violentos contra pessoas sob custódia das forças russas devem ser investigados como crimes de guerra", afirmou.

O relatório ainda acusa soldados russos de saquear propriedades civis, incluindo alimentos, roupas e lenha. O Kremlin não respondeu às acusações, mas por diversas vezes desde o começo da guerra negou atacar civis e rejeita as alegações de crimes de guerra. Neste domingo, mísseis russos atingiram alvos próximos ao importante porto de Odessa, no sul da Ucrânia, às margens do mar Negro. A administração regional afirmou que instalações de infraestrutura da cidade foram atingidas. Não há registro de vítimas.

O Ministério da Defesa da Rússia reivindicou o ataque e afirmou que os mísseis destruíram uma refinaria de petróleo e três galpões de armazenamento de combustível que, segundo os russos, seriam usados para abastecer tropas ucranianas perto da cidade de Mikolaiv, alvo de ataque nos últimos dias.

Principal base da Marinha da Ucrânia, Odessa é importante para a Rússia por dois motivos: primeiro, pela tentativa de fechar o acesso da Ucrânia ao mar; segundo, para estabelecer um corredor terrestre para a Transnístria, uma província separatista na Moldávia onde se fala majoritariamente a língua russa e que abriga tropas russas.

"A fumaça é visível em algumas áreas da cidade. Todos os sistemas e estruturas relevantes estão funcionando. Nenhuma vítima foi relatada", disse Vladislav Nazarov, oficial do Comando Operacional Sul da Ucrânia. O prefeito afirmou que casas e construições civis foram atingidas, mas que a situação está sob controle.

Dmitro Lunin, governador da região central de Poltava, afirmou que outro ataque no sábado (2) destruiu a refinaria de petróleo Kremenchuk, a 350 quilômetros a nordeste de Odessa. Esta era a única refinaria de petróleo funcionando completamente na Ucrânia. Também no mar Negro, um ataque atingiu Mikolaiv neste domingo, disse o ministério do interior da Ucrânia.

Ainda na costa sul do país, esforços de retirada de civis devem continuar em Mariupol e nas proximidades de Berdiansk, com um comboio de ônibus da Cruz Vermelha. O órgão abandonou tentativas anteriores alegando não ter condições de segurança para avançar. Mariupol é hoje o principal alvo da Rússia na região de Donbass, no sudeste da Ucrânia, e dezenas de milhares de civis estão presos na cidade com pouco acesso a comida e água.

No sábado, o negociador ucraniano David Arakhamia afirmou que houve progresso na tentativa de organizar uma reunião entre os presidentes da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e da Rússia, Vladimir Putin, mas os russos descartam essa possibilidade por ora, disse o negociador-chefe da Rússia, Vladimir Medinski, neste domingo.

Medinski disse que, embora a Ucrânia esteja se mostrando mais aberta ao concordar em manter um status neutro, não ingressar em um bloco militar e se recusar a abrigar bases militares, não houve progresso em outras demandas importantes da Rússia. "Repito: a posição da Rússia sobre a Crimeia e Donbass permanece inalterada", disse ele no Telegram, acrescentando que rodadas de negociação por videoconferência continuarão nesta segunda-feira (4).

A Rússia anexou a Crimeia da Ucrânia em 2014 e reconheceu a independência das autoproclamadas repúblicas de Luhansk e Donetsk, na região do Donbass, no leste da Ucrânia. 

Repercussão

Alvo de acusações de lideranças mundiais, a Rússia solicitou ao Conselho de Segurança das Nações Unidas uma reunião para falar sobre a situação em Butcha, cidade nos arredores de Kiev na qual foram registradas imagens de dezenas de corpos nas ruas. A informação foi compartilhada pelo vice-embaixador russo na ONU, Dmitri Polianski, em um aplicativo de mensagens, de acordo com a agência de notícias RIA. Polianski descreveu as cenas observadas na cidade como "provocação de radicais ucranianos". Moscou tem dito que as imagens de mortos pelas ruas, registradas não apenas por autoridades locais, mas também pela imprensa profissional, são provocações de Kiev e do Ocidente.

BNEWS 

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