A Polícia Militar expulsou da corporação o sargento Leandro Lucas dos Santos, preso em outubro de 2018 enquanto trabalhava como segurança do miliciano Marco Antônio Figueiredo Martins, o Marquinho Catiri. Lotado atualmente no 25º BPM (Cabo Frio), o agente fazia parte, na época da ocorrência, do Batalhão de Operações Especiais (Bope), a tropa de elite da PM. A decisão foi publicada no boletim interno do dia 27 de abril.
No mesmo documento, consta ainda a exclusão do subtenente reformado Pedro Paulo dos Santos, preso na mesma ocasião. Além dele, também foi capturado atuando na proteção a Catiri o cabo Bruno Tvardovski Ramalho. Ele foi retirado do Inquérito Polícia Militar (IPM) após ser morto a tiros dentro do carro em Rocha Miranda, na Zona Norte do Rio, em fevereiro do ano passado, em um caso que a Delegacia de Homicídios (DH) tratou como latrocínio — o roubo com resultado morte.
Marco Antônio foi preso pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco) no dia 3 de outubro de 2018, enquanto fazia exercícios em uma academia em um shopping de Del Castilho, na Zona Norte. Pedro Paulo e Bruno estavam com o miliciano no centro comercial, bem como um militar inativo do Exército, Valdo Honorato Pereira. Os três receberam voz de prisão no local e foram autuados por integrar organização criminosa.
No veículo de Catiri, uma caminhonete blindada, os policiais civis encontraram uma pistola calibre .380 que pertencia a Leandro Lucas, além de um carregador e 17 unidades de munição. Contatado pelos agentes, o PM seguiu para a sede da Draco, onde também foi preso em flagrante acusado de fazer parte da quadrilha. Para a polícia, os quatro militares compunham a equipe de segurança do miliciano. O processo por organização criminosa acabou arquivado em fevereiro de 2019, mas os dois policiais militares ainda respondem a uma ação por porte ilegal de arma de fogo, que tramita na 2ª Vara Criminal de Bangu.
Logo após a prisão, em conversa informal na delegacia, Leandro afirmou que prestava serviço de segurança para um "empresário" e esqueceu a arma no carro dele. Ao ser ouvido no âmbito do IPM, ele repetiu o mesmo argumento. O ex-integrante do Bope contou que estava de serviço na unidade na data da prisão de Catiri, mas foi liberado pelos superiores para se dirigir à Draco e prestar esclarecimentos.
O sargento contou que "confirmou em sede policial que a arma era de sua propriedade e estava devidamente registrada, ressaltando que só estava lá porque havia trabalhado anteriormente na segurança do senhor Marco e de sua família". Dono de duas armas, Leandro relatou que costumava circular com uma à mão e a outra no chão do veículo — justamente a que teria esquecido no carro do patrão "por estar cansado".
Ele afirmou que trabalhou como segurança de Catiri por cerca de oito meses, mas que o chefe "se apresentou como empresário do ramo de hortaliças e verduras em Teresópolis", na Região Serrana do Rio. O sargento do Bope negou ter ciência de que Marco era miliciano e disse desconhecer até mesmo o apelido pelo qual o paramilitar é conhecido.
A narrativa, porém, não convenceu a corporação, que, no boletim, pontua que tal tese "beira a fantasia", pois não seria raozável "acreditar que policiais militares experientes", em especial "numa função de 'guarda-costas', onde o contato pessoal é próximo", não saberiam das verdadeiras atividades de Catiri. Especificamente sobre Leandro Lucas, a corporação foi além: "Difícil acreditar que um policial militar, que à época contabilizava 15 anos de serviço prestado à PMERJ, lotado no Bope, unidade conhecida por massificar doutrina de uso de arma de fogo em seu efetivo, pudesse ter, coincidentemente, esquecido sua arma de fogo particular no interior de um veículo que não lhe pertencia". O EXTRA não conseguiu contato com os militares citados.
Marquinho Catiri é apontado como chefe de uma milícia que atua em diversos bairros das zonas Norte e Oeste da capital, bem como em algumas localidades da Baixada Fluminense. Apesar da elevada posição hierárquica, ele passou apenas cinco dias na cadeia em 2018. Em 8 de outubro daquele mesmo ano, o miliciano deixou a prisão pela porta da frente, beneficiado por um habeas corpus concedido pelo desembargador Siro Darlan, em um episódio que chegou a ser alvo de suspeitas.
Seis meses depois, a Justiça voltou a decretar a prisão de Catiri, que, àquela altura, já havia retornado ao posto de chefia da milícia, conforme atestam investigações da época. O miliciano permanece foragido até hoje.
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