Tragédia em Pernambuco: 35 mortos confirmados após tempestades; alerta é de mais chuvas fortes no domingo

 Lula se coloca à disposição das vítimas de enchente em Pernambuco | Revista  Fórum


Sob alerta de grande perigo, na classificação do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Pernambuco soma 35 mortes em deslizamentos nos últimos quatro dias. Somente neste sábado, foram 30 vítimas.

Um único escorregamento de terra na comunidade Jardim Monte Verde, no bairro do Ibura, na Zona Sul da capital pernambucana, deixou 19 pessoas mortas. No começo do dia, havia sido registrada a morte de uma criança na mesma comunidade, mas numa área que pertence ao município de Jaboatão dos Guararapes.

Também foi registrado nessa manhã a morte de um jovem de 18 anos soterrado após o deslizamento de uma barreira na rua Padre Antônio Prado, no Córrego do Jenipapo, na Zona Norte do Recife. O corpo de Claudemir Barbosa foi encontrado por volta das 9h pelo Corpo de Bombeiros.

Além disso, houve uma vítima em Sítio dos Pintos, na Zona Oeste do Recife, e seis no município de Camaragibe, na Grande Recife.

A Defesa Civil do estado orientou as pessoas a não passarem por áreas alagadas nem saírem de casa. Há previsão de mais chuva forte para os próximos dias. Em função da tragédia, o governo federal anunciou que uma força-tarefa chegará ao estado neste domingo.

Veja imagens dos estragos causados pelas chuvas fortes em Pernambuco 

 Sobe para 35 nº de mortos pelas chuvas no Grande Recife; só neste sábado,  foram 30 óbitos | Pernambuco | G1

Até este sábado, haviam sido registradas três mortes em Olinda, após deslizamentos de barreiras, uma no Córrego do Abacate e duas no Córrego do Abacaxi, no bairro de Águas Compridas. E uma quarta vítima na cidade foi um motociclista que tentou atravessar uma área alagada em Peixinhos, mas foi arrastado pela correnteza.

Já em Jaboatão dos Guararapes, um homem que tentava resgatar um animal de estimação também acabou tragado pela correnteza e seu corpo foi encontrado no bairro da Muribeca.

Por conta das fortes chuvas, os shoppings do Recife não abriram e, de acordo com o jornal Diário de Pernambuco, o Shopping Recife teve o piso térreo tomado pelas águas

Em nota divulgada no fim da manhã de sábado, o Governo de Pernambuco informou que a Central de Operações da Codecipe havia recebido dos municípios o registro de 516 pessoas desalojadas e 249 desabrigadas.

Em Abreu e Lima, há 16 pessoas desabrigadas e seis desalojadas. No Cabo de Santo Agostinho são 18 desalojados e em Camaragibe, 28. Jaboatão dos Guararapes contabiliza 92 desabrigados e 332 desalojados. Olinda tem 141 pessoas desabrigadas; São José da Coroa Grande registra 70 pessoas desalojadas; em Xexéu são 60 e, em Escada, há duas pessoas na mesma situação.

O governador Paulo Câmara anunciou que antecipou a nomeação de 92 novos soldados do Corpo de Bombeiros que iriam tomar posse a partir de 6 de junho, para reforçar o resgate às vítimas das chuvas. Também solicitou o apoio de efetivo das Forças Armadas, além de embarcações e aeronaves.

Previsão

O Inmet divulgou na manhã deste sábado que há o risco de chuvas superiores a 60 mm/h e que podem passar até de 100 mm/dia. “Grande risco de grandes alagamentos e transbordamentos de rios, grandes deslizamentos de encostas, em cidades com tais áreas de risco”, apontou o relatório.

Até as 6h da manhã deste sábado, 20 municípios registraram precipitações acima de 100 mm. Entre eles, Recife (209 mm), Jaboatão dos Guararapes (215 mm) e São Lourenço da Mata (200,2 mm). Itapissuma foi a cidade com maior notificação, atingindo 318 mm.

As equipes da da Coordenadoria de Defesa Civil do Estado de Pernambuco (Codecipe) e do Corpo de Bombeiros foram reforçadas na Mata Sul, com a instalação de uma base remota em Palmares.

Avanço da chuva

De acordo com o Climatempo, novas áreas de instabilidade avançaram do mar para o leste do Nordeste levando muita chuva para outras capitais. A situação é de alerta para muita chuva entre Natal e Maceió.

Além de Pernambuco, também há alerta alerta para chuva forte e volumosa, com risco de alagamentos e deslizamentos de terra, no litoral do Rio Grande do Norte, no leste da Paraíba, e em Alagoas. Também pode chover forte no litoral sul da Bahia e vários locais da faixa litorânea entre o Ceará e o Maranhão.

Segundo dados do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), em 6 horas, entre 20h40 do dia 27 e 02h40 do dia 28 de maio choveu 140,2 mm em Itapissuma, 104,2 mm em Abreu de Lima, 102,5 mm em Araçoiaba, 97,2 mm na Ilha de Itamaracá, 91,1 mm em Ferreiros. Recife/Dois Unidos acumulou cerca de 63 mm neste período

A previsão é de mais chuva sobre o leste do Nordeste durante este domingo. Há condições para chuva no litoral e no interior de toda a faixa entre o Rio Grande do Norte e Sergipe, além do nordeste e leste da Bahia, Ceará, norte do Piauí e centro-norte e oeste do Maranhão

Porém, o alerta especial é para muita chuva neste domingo no litoral de Alagoas e de Pernambuco. As capitais Aracaju e Recife podem ter mais transtornos com a chuva.

Alertas em tempo

Segundo o climatologista José Marengo, coordenador-geral de pesquisa do Cemaden, o Brasil tem capacidade de monitoramento meteorológico para antecipar em algumas horas esse tipo de desastre, mas as defesa civil não dá conta de evacuar as pessoas em grandes áreas urbanas.

— O Cemadem emitiu os alertas a tempo para Recife e aquela região. Os alertas foram transmitidos à Cedec (Coordenadoria Estadual de Defesa Civil), que repassa para as cidades — afirma o cientista.

— O problema é que a defesa civil, especialmente em municípios menores do leste do Nordeste, não têm gente suficiente. Por mais que recebam alertas, não têm como agir e não têm tempo de evacuar as pessoas. Um problema da defesa civil de algumas cidades é que muitas vezes eles não são técnicos — completa.

Segundo Marengo, é equivocado pensar um evento como o de hoje é um fenômeno isolado e não pode se repetir. A mudança climática deve tornar essa chuva mais frequente.

— Normalmente chove nesta época do ano em toda essa região do nordeste, que inclui Maceio, Recife e João Pessoa e Salvador. O problema é que tem chovido muito. Agora choveu em três dias o que deveria ter chovido em um mês. A chuva está na estação certa, mas a estação está muito irregular — explica.

— Quando se pensa em mudança climática, nos cenários previstos estão eventos de chuva mais intensos. E nós estamos vendo esse eventos com mais frequência, o que faz aumentar a vulnerabilidade da população, e o impacto é pior — diz o climatologista, que é coautor de vários relatórios do IPCC, o painel do clima da ONU.

Uma das ações que o Cemaden tem feito junto com o CPRM é mapear as ocupações de áreas de risco para alagamentos e deslizamentos no país. Esse trabalho ajuda na robustez dos alertas, e mostra que a grande Recife tem muitas áreas vulneráveis, algo típico de grandes metrópoles do país.

Colaborou Rafael Garcia, de São Paulo

O globo  

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