A escolha do presidente Jair Bolsonaro
(PL) de participar do desfile no Rio de Janeiro pegou militares que
organizam o evento de surpresa. Agora, a cerca de um mês do evento, o
Comando Militar do Leste e o Ministério da Defesa buscam alterar o
planejamento para atender à ordem do mandatário.
Segundo
relatos feitos à reportagem, o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio
Nogueira, foi avisado da decisão na sexta-feira (29). Os preparos para o
evento estavam quase todos prontos, mas devem ser rearranjados para
comportar a participação do presidente e de seus apoiadores.
O
ato deve ter caráter político e eleitoreiro, uma vez que ocorre a um
mês da votação. Acontecerá ainda em um momento em que o chefe do
Executivo está pressionado pelas pesquisas de intenção de voto e joga
descrença sobre o sistema eleitoral.
O
Datafolha mostrou que Bolsonaro está a 18 pontos do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT). O petista tem 47% das intenções de voto
contra 28% do atual mandatário.
No
ano passado, Bolsonaro usou o feriado para convocar apoiadores para
irem às ruas em atos de raiz golpista. Depois de participar do desfile
militar em Brasília, fez discurso com ameaças ao Supremo Tribunal
Federal, exortou desobediência à Justiça e disse que só sairia da
Presidência morto.
No Rio de Janeiro, o desfile de 7 de Setembro ocorre tradicionalmente na avenida Presidente Vargas, no centro, pela manhã.
No
sábado (30), no entanto, Bolsonaro anunciou que iria alterar o
cronograma: o desfile será às 16h na avenida Atlântica, na orla de
Copacabana, local em que geralmente ocorrem manifestações favoráveis ao
presidente.
"Sei
que vocês [paulistas] queriam [que o ato fosse] aqui [em SP]. Queremos
inovar no Rio. Pela primeira vez, as nossas Forças Armadas e as forças
auxiliares estarão desfilando na praia de Copacabana", disse durante a
convenção que lançou a candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos)
ao Governo de São Paulo.
Generais
consultados pela reportagem afirmaram, sob reserva, que a decisão do
Planalto foi comunicada verbalmente a Nogueira. Instantes depois, a
informação foi repassada para o Comando Militar do Leste, responsável
pela organização do evento.
Segundo
os relatos, o órgão militar já estava em fase final de preparação do
evento na avenida Presidente Vargas, como tradicionalmente ocorre. A
expectativa era que mais de 5.000 militares e civis participassem do
desfile.
O
prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), afirmou à reportagem
que ainda não foi comunicado pelo governo federal da decisão de alterar o
local do desfile. "Vi pela imprensa", disse.
A
prefeitura é responsável por preparar a estrutura do evento, instalando
grades de proteção e arquibancadas, além de mobilizar forças de
segurança.
O
feriado de 7 de Setembro deste ano marca os 200 anos da Independência
do Brasil. Em declarações públicas recentes, o presidente indicou que
planeja transformar as festividades em atos bolsonaristas.
A
campanha de Bolsonaro ainda não se engajou na organização do evento e
deve definir na terça-feira (2), em reunião, se participará dos
preparativos ou deixará o trabalho apenas com o governo.
Apesar
disso, a campanha aposta no desfile no Rio de Janeiro para realizar a
maior mobilização pública em seu favor no período eleitoral.
A
ideia é que o encontro seja um aceno à parcela mais radical do
eleitorado bolsonarista, que costuma se intitular como patriota. Aliados
contam com os atos para o presidente demonstrar força política e
eleitoral, além da fidelidade de seus apoiadores.
Na
convenção nacional do PL que o oficializou como candidato a reeleição,
Bolsonaro convocou seus apoiadores a irem às ruas "uma última vez" no 7
de Setembro e, em seguida, dirigiu seus ataques a ministros do STF
(Supremo Tribunal Federal).
Em
outro trecho de sua fala, o presidente voltou a uma metáfora que
costuma fazer e chamou seus apoiadores de "exército". Jurou dar a vida
pela liberdade e fez com que o público fizesse o mesmo juramento.
Segundo
relatos, a escolha pelo Rio teve dois motivos: o primeiro é pelo
simbolismo de, no momento em que o mandatário tenta expor sua
proximidade com os militares, fazer um desfile em um dos pontos
turísticos mais famosos do país; e o segundo é pelo fato de a capital
fluminense ser o berço político de Bolsonaro.
Há
uma avaliação ainda de que em São Paulo o voto bolsonarista pode estar
mais consolidado do que no Rio de Janeiro. Portanto, a realização do
evento em Copacabana pode ter mais retorno eleitoralmente.
No
Dia da Independência, Bolsonaro deve participar do desfile militar em
Brasília, pela manhã. Autoridades do Legislativo e Judiciário e chefes
de Estado de países lusófonos foram convidados para participar do
evento.
Interlocutores
disseram ao jornal Folha de S.Paulo que o presidente de Portugal,
Marcelo Rebelo de Sousa, já comunicou que pretende comparecer.
Com
a possível presença de altas autoridades estrangeiras, a expectativa de
interlocutores do presidente é a de que o desfile de 7 de Setembro em
Brasília seja protocolar e que eventuais sinalizações golpistas de
Bolsonaro para sua base mais radical fiquem reservadas para o ato no
Rio.
Os
eventos de comemoração do Bicentenário da Independência têm sido
organizados pela Presidência da República e uma comissão
interministerial, que reúne Itamaraty, Ministério do Turismo, Ministério
da Defesa, Ministério da Educação, Secretaria Especial de Cultura e
Secretaria de Comunicação.
Além
dos desfiles em Brasília e Rio de Janeiro, o governo prepara eventos
oficiais em todas as cidades do país que possuem organizações militares
da Marinha.
Nesta
segunda (1), representantes das Forças Armadas participaram da primeira
reunião no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) como entidade
fiscalizadora das eleições.
Ao
todo, 84 pessoas estiveram no encontro. Segundo relatos feitos à Folha,
o secretário de Tecnologia da Informação do TSE, Julio Valente,
apresentou os 39 momentos em que a confiabilidade do sistema eletrônica
pode ser aferida. A reunião foi descrita como esclarecedora pela maioria
dos presentes.
Fonte: Bahia Notícias
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