O pernambucano, ex-sindicalista e fundador do Partido dos Trabalhadores Luiz Inácio Lula da Silva, 77 anos, foi eleito neste domingo (30.out.2022) o 39º presidente da República Federativa do Brasil. Ele é o 1º na história a ser escolhido para o cargo 3 vezes pelo voto direto. O petista já havia sido eleito presidente duas vezes, em 2002 e 2006, sempre no 2º turno.
Às 19h55, o sistema do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) apontava o petista com 50,82% (59.533.747 votos). Os votos das urnas ainda não computadas não são suficientes para mudar o resultado. Por isso, a vitória de Lula está confirmada. O principal adversário do petista, o presidente Jair Bolsonaro (PL), 67 anos, tinha 49,18% (57.605.947 votos).
A vitória de Lula acabou sendo mais apertada do que os petistas esperavam no início da campanha. Ele havia terminado o 1º turno com 6.187.159 votos de vantagem sobre Bolsonaro. Foram 57.259.504 votos válidos (48,43%) contra 51.072.345 (43,2%) em 2 de outubro.
A eleição mais apertada até então havia sido a de 2014, quando Dilma Rousseff (PT) derrotou Aécio Neves (PSDB), no 2º turno, com 3.459.963 votos a mais.
O atual presidente, capitão reformado do Exército, é o 1º que fracassa ao tentar ser reeleito. Fernando Henrique Cardoso (1998), Lula (2006) e Dilma Rousseff (2014) foram às urnas e conseguiram um 2º mandato.
Mesmo derrotado, Bolsonaro teve uma votação relevante. Ele amalgamou os eleitores simpatizantes da direita e de pautas conservadoras. No Congresso, os eleitos para a Câmara e os que renovaram 27 cadeiras no Senado são em grande parte pró-Bolsonaro e anti-Lula. A polarização política no país deve prosseguir nos próximos anos.
Com o petista foi eleito como vice-presidente o médico anestesista, ex-tucano e ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), 69 anos, um antigo adversário. A aliança, construída desde 2021, foi parte de um movimento para mostrar que um novo governo Lula não se restringiria ao PT e a partidos de esquerda.
Houve também a intenção de amenizar a resistência de setores mais conservadores, como o agronegócio e o mercado financeiro, e atrair eleitores que, tradicionalmente, não votariam no PT.
Lula fez uma campanha fiando-se no legado de seus 2 primeiros mandatos. Fez poucas promessas e não detalhou quase nenhuma. Disse que vai governar com responsabilidade fiscal, ainda que defenda acabar com a regra do teto de gastos. Deve manter a independência do Banco Central, mas deseja introduzir metas de crescimento econômico e emprego na atuação da autarquia.
Defendeu o reajuste do salário mínimo acima da inflação e equivalente ao crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Prometeu regulamentar a equiparação de salários entre homens e mulheres que exercem a mesma função. Também disse que vai renegociar as dívidas de famílias com renda até 3 salários mínimos com bancos e com o poder público.
O petista já falou em criar mais 13 ministérios. Descontados os desmembramentos, o número de pastas deve subir dos atuais 23 para ao menos 34 a partir de 2023. Lula defende que a medida não implica em aumento de gastos e que ajudará na governança.
A nova gestão deve mudar o nome do Auxílio Brasil e ressuscitar a antiga designação do programa, Bolsa Família. O valor de R$ 600 deve ser mantido, mas não está claro como Lula vai obter recursos para bancar esse benefício. O petista quer pagar ainda R$ 150 a mais para cada filho de até 6 anos.
No caso de Bolsonaro, a promessa era vender empresas estatais para conseguir receitas extraordinárias em 2023. A ideia é rechaçada pelo petista.
Lula também prometeu retomar grandes obras de infraestrutura como forma de induzir o aumento da oferta de empregos no país. Afirmou que reunirá os 27 governadores para discutir as prioridades de cada Estado no início de sua gestão.
O agora presidente eleito proibiu aliados de discutir espaços no novo governo durante a campanha. As conversas objetivas devem começar a partir de 2ª feira (3.out.2022). O entorno do petista acredita que ele se cercará de ex-governadores aliados. Leia a seguir nomes cotados para postos importantes no governo Lula:
RECORDE DEMOCRÁTICO
A posse de Lula em 2023 marcará um recorde democrático histórico no Brasil. O petista assumirá o comando do país depois da 9ª eleição direta consecutiva para presidente. O país nunca teve 9 eleições seguidas com a posse do eleito na data marcada.
A fase anterior de maior estabilidade política foi na República Velha (1889-1930). Em 1918, depois de 7 eleições presidenciais diretas consecutivas (embora com acesso muito mais restrito dos eleitores ao voto), Rodrigues Alves tomaria posse, mas contraiu gripe espanhola e morreu antes de assumir.
Lula é a 1ª pessoa na história do Brasil eleita presidente 3 vezes pelo voto direto. Ninguém concorreu a mais eleições presidenciais que ele desde o fim da República Velha.
Contando 2018 –quando estava preso e foi inscrito como candidato, mas barrado pelo TSE– Lula esteve em 7 disputas pelo Palácio do Planalto. Também se candidatou em 1989, 1994 e 1998 (quando ficou sempre em 2º lugar) e 2002 e 2006 (anos em que venceu no 2º turno).
SAÚDE DO PETISTA
Nascido em Caetés (à época distrito de Garanhuns, em Pernambuco) em 27 de outubro de 1945, Lula será o mais velho a assumir o governo federal na história do Brasil. Terá 77 anos. Sua saúde é estável e ele sempre publica fotos e vídeos fazendo exercícios.
Durante a campanha, reforçou o acompanhamento com fonoaudiólogos por causa da rouquidão, prejudicada pela intensificação dos atos eleitorais.
POSSE EM 1º DE JANEIRO
A posse será em 1º de janeiro de 2023, a última a ser realizada nessa data. Lula foi eleito para ficar excepcionalmente no cargo por 4 anos e 5 dias. É que o próximo presidente, que será eleito em 2026, assumirá o mandato só em 5 de janeiro de 2027.
A mudança foi aprovada pelo Congresso Nacional em 2021, na emenda constitucional 111. Sempre houve muita reclamação sobre a posse ser num feriado internacional, pois poucas autoridades estrangeiras aceitavam vir à cerimônia.
A possibilidade de reeleição no Brasil foi aprovada em 1997 de maneira controversa. A partir de 1998 passou a ser possível uma reeleição consecutiva. Fernando Henrique Cardoso (1998), o próprio Lula (2006) e Dilma Rousseff (2014) foram reconduzidos ao cargo.
CAMPANHA ACIRRADA
A campanha começou oficialmente em 16 de agosto, mas Lula já discursava e conquistava aliados havia meses. Desde o início do ano estava claro que, salvo um fato novo e forte, a disputa ficaria entre o petista e Bolsonaro.
Antes do período eleitoral começar de fato, havia ainda alguma expectativa de que um candidato da 3ª via pudesse crescer e furar a polarização, algo que rapidamente se mostrou improvável.
A intenção do agora presidente eleito e de seus aliados foi concentrar a campanha em temas econômicos e sociais. Havia a intenção de forçar uma eleição “plebiscitária”, como se diz no jargão político. Ou seja, condicionar os eleitores a votar pensando se aprovavam ou não o atual governo.
A leitura do entorno de Lula era que a pauta de costumes, por exemplo, favoreceria Bolsonaro, seu principal adversário. Um dos maiores desgastes do petista, ainda durante a pré-campanha, foi uma declaração sobre aborto. O tema voltou com força no 2º turno e obrigou Lula a se posicionar claramente contra o procedimento.
A preocupação com segurança também foi constante. Os eventos de campanha, especialmente no 1º turno, tiveram forte esquema para proteger o petista.
No 2º turno, porém, mudou-se o modelo dos atos públicos. Na 1ª fase da campanha, Lula priorizou comícios em capitais e grandes cidades do interior.
Depois, fez caminhadas em que percorria os trechos na caçamba de caminhonetes e finalizava com discursos feitos de cima de trios elétricos. A estrutura simplificada dos atos permitiu a Lula interagir mais com o público. Passou a cumprimentar diretamente eleitores com apertos de mão e abraços.
Fonte ;O Poder 360
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