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A
Polícia Civil do Rio Grande do Sul investiga o cirurgião-geral João
Couto Neto, 46 anos, por suspeita de negligência e falhas no atendimento
a pacientes em Novo Hamburgo, na região metropolitana de Porto Alegre. A
investigação apura as circunstâncias de 20 mortes. No total, há 77
boletins de ocorrência registrados contra o profissional, com denúncias
também de pacientes que sobreviveram, mas teriam ficado com lesões.
No
dia 12, a Justiça proibiu Couto Neto, a pedido da polícia, de fazer
atendimentos ou realizar procedimentos por 180 dias. Na véspera da
decisão, o médico disse nas redes sociais que exerce a profissão com
"responsabilidade e maturidade".
Conforme
o titular da 1ª Delegacia de Polícia, delegado Tarcísio Lobato
Kaltbach, responsável pela investigação, o inquérito teve início com 15
vítimas - sendo cinco familiares de pacientes que morreram após os
procedimentos. Segundo a apuração, Couto era especialista em cirurgias
de hérnia, vesícula e refluxo, mas realizava cirurgias para as quais não
tinha especialização e até sem autorização dos pacientes.
Uma
das vítimas, que buscou atendimento para retirada de hérnia, conta aos
investigadores ter sido submetida a um procedimento de abdominoplastia,
feito sem consentimento. Outra, conforme a polícia, foi informada, após a
cirurgia de endometriose que havia sido necessário a retirada do útero e
meses depois, ao fazer alguns exames, constatou que tinha o órgão
estava intacto. O médico teria cobrado do plano o procedimento.
"Fomos
comunicados desta situação no início de novembro, quando começamos as
apurações", disse Kaltbach. Segundo ele, após as oitivas foram notados
nos relatos semelhanças na conduta do médico, "com intervenções
desastrosas" e "desumanidade no tratamento pós-cirúrgico", disse
Kaltbach.
Segundo
o delegado, no pós-operatório, o médico ignorava queixas dos pacientes e
minimizava impactos de procedimentos conduzidos por ele. "Não
encaminhava para UTI, porque outro médico poderia perceber o que havia
ocorrido. Mantinha a vítima no mesmo quarto, o que agravava a situação
e, por vezes, levava a óbito", afirma o delegado.
Há
casos desde 2010, segundo a Polícia Civil. "Ele realizava diversas
cirurgias em curto espaço de tempo. De janeiro a novembro, foram 1.100
procedimentos. Enfermeiros e vítimas relataram que ele fazia de 15 a 20
operações por turno", diz o delegado. O Conselho Regional de Medicina do
Rio Grande do Sul (Cremers) também apura o caso, em sindicância que
corre sob sigilo.
Procurado,
o escritório Apolinário e Diego Cardoso Advogados Associados, que cuida
da parte cível, disse que não iria se manifestar. Já o escritório De
Lia Pires Advogados, que cuida do caso na esfera criminal, não retornou o
contato.
Em
publicação nas redes sociais em 12 de dezembro, quando foram cumpridos
os mandados de busca e apreensão, Couto Neto fez uma publicação nas
redes sociais. "Atuar como médico é sempre um grande desafio. Temos
plena consciência e certeza de praticar a medicina para a melhor saúde
dos pacientes", escreveu. "E com esta responsabilidade e maturidade, nos
sentimos confortáveis em afirma que realizamos mais de 20 mil cirurgias
e procedimentos durante os últimos 19 anos, cumprindo os mais elevados
preceitos médicos, honrando essa profissão que é a melhor tradução de
minha vida."
O
Hospital Regina, onde ele fazia uma parte dos procedimentos e foi
cumprida parte dos mandados de busca e apreensão, também se manifestou.
Em nota, a instituição disse ter finalizado a entrega de documentação
médica requisitada pela Justiça, mas afirmou desconhecer os detalhes do
inquérito policial, uma vez que a investigação corre sob sigilo e tem
como foco o médico, não o hospital.
No
mandado de busca e apreensão apresentado pela polícia, conforme o
hospital, são citados 14 nomes de pacientes deste médico. "No entanto,
deste total três pacientes realizaram somente exames no Hospital Regina e
das 11 pessoas que realizaram cirurgia, quatro formalizaram relato na
Ouvidoria referente ao atendimento prestado pelo referido médico. As
reclamações foram prontamente acolhidas e uma delas, inclusive, foi
encaminhada à Comissão de Ética do corpo clínico", acrescenta a
instituição.
O
hospital afirma ainda que Couto Neto faz parte do corpo clínico aberto
do hospital e não tem vínculo de trabalho via CLT ou contrato de
prestação de serviço com a Instituição. "Neste caso, o médico cirurgião
utiliza a estrutura do hospital para exercício da sua profissão", diz.
"Todos os procedimentos que constam no mandado policial e que estão sob
investigação foram realizados pelo referido profissional, o qual foi
escolhido pelos pacientes para realizar os procedimentos através dos
convênios e meios particulares", finaliza a nota.
Fonte: Notícias ao Minuto
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