Após fim de relação, mulher denuncia ter sido agredida por ex-namorado em Salvador


Incontáveis são os números de tentativas de feminicídio registrados no estado da Bahia. Desde o começo de 2022, por exemplo, até o dia 26 de maio, 32 mulheres haviam sido vítimas de feminicídio em todo o estado da Bahia, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA). Pouco menos de um ano depois, um novo caso evidencia a necessidade de um olhar mais atento sobre esses crimes.

Laila Cristina Bulcão Araújo dos Santos, de 19 anos, foi agredida pelo seu ex-namorado, Rafiner Giliel de Jesus Mendes, que na época era estagiário de educação física em uma academia, na Rua Doutor Eduardo Dotto, situado no bairro de Paripe, em Salvador. Em contato com o BNews, a vítima descreveu de forma chocante todos os fatos desde o começo do relacionamento dos dois. No último domingo (29), ela foi alvo de socos e chutes por optar terminar o namoro.

Após uma série de ameaças físicas e verbais, o desfecho ocorreu no último final de semana, por causa da intolerância do rapaz com uma foto de Laila de bíquini publicada no perfil oficial dela no Instagram. De acordo com a vítima, ele fez menção de que iria dar um soco no seu rosto, começou a empurrá-la, disse que iria agredi-la e até mesmo matá-la. Ainda assim, os dois tentaram conversar, mas ela optou pelo término da relação. 

“Ele começou a esmurrar a parede de uma forma, que ficou toda machucada, começou a tomar um monte de remédio, engoliu creme de depilação, água, meu tio na hora presenciou o ato. Eu fiquei muito preocupada, queria levar ele na emergência, liguei para a prima dele, mandei mensagem desesperada para alguém tomar providência”, conta a jovem.

Ainda segundo Laila, um dia depois, Rafiner foi até a casa dela, quando pediu para ser acompanhado até uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Mas, chegando lá, o suspeito mudou de ideia. 

“Ele queria me levar para outro lugar e entrei em casa de novo, a gente começou a discutir. Ele começou a me olhar com raiva, me chamou de cínica, eu falei: ‘Meu filho, se eu sou cínica é por causa de minha convivência com você, porque eu aprendi a ser com você’. Esse menino do nada surtou e disse que ia me desmascarar, falou que eu não valia nada. Depois disso, eu quis meu celular de volta, ele começou a me empurrar. Antes ele tinha me dado um celular e chegou a quebrar, manipulou minha família toda”, acrescenta. 

Em seguida, Laila relata que, por pouco, não correu maior risco de morte, uma vez que o suspeito tentou usar um pedaço de vidro para feri-la. Mas, antes, desde o começo do envolvimento dos dois, no dia 30 de janeiro de 2022, a vítima ressaltou que ele já demonstrava sinais de ser abusivo. 

“Ele tentou pegar um vidro que já tinha quebrado em uma briga nossa para meter em mim, eu implorei. Ele me obrigou, me levou para a casa de uma tia dele que mora próximo a mim, e quando chegamos lá ele disse que ‘ali eu não iria me fazer de santinha’. Eu não sei onde estava com a cabeça que ainda acreditei nele, mas ele começou a me camar de ‘put*’, ‘vagabund*’, disse que eu pedi para aquilo acontecer. Aí quando eu estava entrando em contato com minha prima e com amigos para poder me ajudar daquela situação”, explica Laila.

Entre os envolvidos no fato, estavam os familiares do suspeito. Uma prima dele, segundo Laila, a tirou da cena de agressão e a levou para a casa da avó, que fica na mesma região do Subúrbio Ferroviário de Salvador. Foi aí que o pai dela a tirou do local, e a ajudou a encaminhar a vítima para prestar depoimento na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM) e pelo Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (NINA).

“Ele começou a justificar com meu pai, ameaçou e mandou eu pedir medida protetiva contra ele: ‘se eu ver ela na rua, não vai dar o que preste’. Depois que meu pai me tirou de lá, fui pegar minha identidade em casa, passei pela DEAM, fui pro NINA  fazer corpo de delito e depois eu fui para a UPA, estou com um edema na mão. Tenho que passar pelo ortopedista, oftalmologista… Estou tentando ficar bem, nessa luta. Eu não ia expor nada da internet, porque tem muita gente defendendo ele, dizendo que ele é agressor. Inclusive, a ex-namorada dele que apanhou dele está defendendo ele”, comenta a vítima de agressão. 
A vítima, identificada como Laila Cristina, desabafou e mencionou estar apavorada com atitudes do ex-namorado. Foto: Arquivo pessoal
A vítima, identificada como Laila Cristina, desabafou e mencionou estar apavorada com atitudes do ex-namorado. Foto: Arquivo pessoal


Vítima da insegurança

Por causa das agressões ocorridas no último domingo (29), Laila deixou de ir para as aulas do curso técnico de enfermagem, bem como à academia que frequenta. 

“Com a proporção que [a publicação] tomou, eu me sinto de certa forma segura, porque se acontecer algo comigo todo mundo tá ciente com ele. Não estou indo para a academia onde malho porque ele trabalha lá. Ele sabe onde eu faço curso técnico de enfermagem, os horários. Alguns parentes deles moram aqui em Fazenda Coutos, meu curso é na Suburbana, e é em Plataforma, e a mãe dele tem um apartamento lá, estou com muito medo”, menciona. 

O começo do relacionamento ocorreu no dia 16 de setembro do ano passado. Laila relata que depois de engatar o namoro, ele passou uma série de obrigações para ela. 

“Teve uma vez mesmo, no Natal, que eu postei uma foto minha no status e com ele no storie do Instagram, responderam minha foto no status. Foi a gota d’água para esse homem me jogar na parede, na cama da prima dele, porque eu fui passar a ceia na casa dele. Eu consegui fugir, sai de madrugada vindo para casa (...) Teve uma vez que eu estava saindo da academia com ele, onde ele trabalhava como professor de educação física, aí um homem falou comigo: ‘e aí malhada, tudo bem?’, eu falei: ‘oi, tudo’. Eu ainda discutir com ele, porque sempre tive pulso de rebater, de não ficar calada. Toda vez que eu fazia algo”, explica a vítima.

Entre as acusações feitas contra o homem, Laila sinaliza que ele, em uma ocasião, apareceu com uma arma, a qual disse ser de “um amigo policial”. Ainda conforme a vítima, de 19 anos, uma audiência está marcada para acontecer no dia 2 de fevereiro. 

A academia onde o Rafiner atuava entrou em contato com o BNews para esclarecer que ele nunca foi professor na unidade. Apenas estagiou no local e já foi desligado há mais de seis meses. 

O que diz a polícia?

Procurada pelo BNews, a Polícia Civil da Bahia (PC-BA) garantiu, por meio de nota enviada por sua assessoria de comunicação, que "providências já estão sendo adotadas contra o suspeito". 

"A Deam/Periperi segue com as investigações de uma agressão contra uma mulher, no contexto da violência doméstica e familiar, ocorrida no bairro de Paripe, no domingo (29). A vítima foi ouvida e teve as medidas protetivas de urgência requeridas à Justiça, além da guia de exames de lesões corporais expedida, no mesmo dia do fato. Providências já estão sendo adotadas contra o suspeito", indica.. 

O BNews também entrou em contato com a Polícia Militar da Bahia (PMBA) e com o suspeito das agressões, e aguarda retorno sobre o caso. Assim que tivermos uma resposta, atualizaremos esta matéria. 


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