Funcionários denunciam embaixador brasileiro no Mali por “atos de caráter escravocrata”

Palácio do Itamaraty, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília

Um grupo de 11 funcionários da Embaixada do Brasil no Mali, na África, denunciou o embaixador Carlos Eduardo de Ribas Guedes por assédio moral.

O documento diz que “efetivamente, há dois anos, os funcionários são vítimas de assédio, de gestos e propostas desumanas, degradantes, que ferem a honra e a dignidade e atos de caráter escravocrata”.

O material foi encaminhado ao Ministério do Trabalho e também a outras duas autoridades correlatas do Mali no último dia 9 e elenca algumas atitudes que o embaixador teria feito:

  • “ Ordenar que dois empregados da residência se ajoelhassem diante dele”
  • “Chamar uma funcionária (mulher casada) de “p**a”, pelo simples motivo de organização da sua agenda”
  • “Negar categoricamente que um dos motoristas ajudasse sua filha adolescente doente no hospital que, no fim, morreu, por motivos de que isso não estava previsto na legislação trabalhista”
  • “Negar categoricamente que um outro motorista pudesse levar a sua mulher grávida no hospital por motivos de que isso não estava previsto na legislação trabalhista”

    Os funcionários querem, na prática, que o governo do Mali expulse o embaixador.

    “No que diz respeito ao que está acima, os funcionários da embaixada vêm muito respeitosamente vos informar sobre a situação na qual vivemos dentro desta missão diplomática e solicitamos o seu apoio para acabar com o sofrimento deles”, afirma o texto.

    O documento diz que “o governo brasileiro tendo sido informado sobre essa situação e despachou uma missão de inspeção a Bamako [capital do Mali] para ouvir todos os funcionários da embaixada incluindo dois do ministério brasileiro das relações exteriores”, e que “um procedimento administrativo disciplinar foi aberto em novembro de 2022 por aquele [Ministério das Relações Exteriores], logo depois da missão de outubro, que ouviu os testemunhos de certas pessoas entra nós por meio de videoconferência”.

    Em razão das denúncias, o Itamaraty decidiu não expulsar o embaixador, mas realizar um Termo de Ajustamento de Conduta, cujo extrato foi publicado no Diário Oficial da União na sexta-feira (10). Dentre as normas que violou, está a de “valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da função pública”.

    Procurado, o Itamaraty informou à CNN que “o embaixador Carlos Eduardo de Ribas Guedes foi objeto de investigação no âmbito de processo administrativo disciplinar, cujo resultado foi a assinatura de Termo de Ajustamento de Conduta, conforme orientação da CGU [Controladoria-Geral da União]”.

    A CNN procurou o embaixador Carlos Eduardo por e-mail e não obteve resposta até agora. Ele também foi procurado por redes sociais e por telefone, mas não houve retorno. A reportagem continua insistindo para obter uma resposta.

    CNN

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