O Ministério Público da Bahia (MP-BA), por meio do Núcleo de Enfrentamento às Violências de Gênero e em Defesa dos Direitos das Mulheres (Nevid), vai investigar os atos de assédio, importunação sexual e violência cometidos por associados do bloco “As Muquiranas” contra mulheres no Carnaval de Salvador. Por meio de nota, o órgão informa que “instaurou procedimento para apurar os fatos registrados por câmeras de vídeo no circuito do Carnaval e solicitará à Polícia Civil a instauração de inquérito”.
No última terça-feira, as cenas de violência se repetiram reforçando as denúncias das mulheres contra integrantes do bloco. Imagens de uma mulher sendo atacada com jatos de água e empurrada pelos associados durante a passagem pelo Circuito Osmar (Campo Grande), causaram revolta após vídeo viralizar nas redes sociais.
De acordo com o MP, o Nevid levou aos circuitos da folia a campanha “Não é não!”, realizando ações educativas para prevenção e combate ao crime de importunação sexual. Segundo o balanço apresentado pelo governo do estado, foram registrados seis casos durante a festa. O número representa uma diminuição de 40% dos casos, se comparado ao último Carnaval no ano de 2020.
Revolta
Os fatos mobilizaram órgãos, autoridades e a sociedade civil. Em defesa das mulheres violentadas, a presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Maria Marighella, pediu que medidas de combate à violência no bloco “As Muquiranas”. “O que não cabe mais, precisa ser transformado. Quando a performance pública de um bloco de homens no Carnaval está amparada no vestir-se de mulher para naturalizar o ataque a mulheres, precisamos repensar seu sentido”.
Outra mobilização é a petição com o título "Pelo fim do bloco As Muquiranas no Carnaval de Salvador", que tenta atingir 200 assinaturas para pressionar o Ministério Público Federal (MPF) a agir. "Não existe irreverência em ter suas partes íntimas molhadas, cabelo e braço puxados e, acima de tudo, xingadas e agredidas", diz trecho do documento que conta com cerca de 190 assinaturas.
"Uma petição ao Ministério Público pode ser feita por qualquer cidadão ou grupo de pessoas. Essa petição tem como objetivo impulsionar o MP a iniciar um processo sobre a demanda requerida. Logo, uma petição ao MP pode virar um processo judicial", explicou o advogado Caio Afonso.
Vítimas desabafam
“Ao invés de darem alegria como ‘Doutoras da Alegria’, ‘As Muquiranas’ deram bastante dor de cabeça e causaram tristeza no Carnaval de Salvador 2023.” É o que dizem as mulheres que foram vítimas de violência verbal e física praticada por associados do primeiro bloco baiano de homens travestidos, que há 56 anos desfila na folia baiana.
Por meio das redes sociais, a publicitária Luciane Reis fez forte desabafo ao revelar que ela e um grupo de amigas também foram vítimas de violência dos associados do bloco e questionou a permanência das ‘Muquiranas’ na avenida.
“Vivemos a pior experiência do Carnaval de Salvador. Fomos atacadas por um grupo de homens do bloco ‘As Muquiranas’ que não só nos molharam inteiras como nos agrediram verbal e fisicamente. Ao chegarmos no Campo Grande, ficamos presas frente ao bloco e viramos as costas para não sermos atacadas. Não adiantou e em grupo as agressões começaram. Diante de tantas campanhas por respeito, combate ao assédio às mulheres no Carnaval, por que manter um bloco que nos violenta?”, declarou.
Outra vítima, que não quis se identificar, relatou que seu pai foi assediado após ele tentar protegê-la das ações violentas.
“Eu estava acompanhada de meu pai e minha mãe no Campo Grande, quando o bloco passou. Os caras passavam com as armas de água molhando as pessoas, porém meu pai me protegia. Em uma dessas passagens, eles molharam meu pai e passaram a mão nele dizendo que ele era ‘um gordinho gostoso’”, contou.
Repúdio
Por meio de nota, “As Muquiranas” se manifestou contra atos de vandalismos e violências cometido por associados e falou em expulsão do bloco. “Durante os desfiles todos os artistas falaram e defenderam nossas campanhas. No entanto, não podemos controlar o comportamento das pessoas que depredam patrimônio público e nem daqueles que cometem assédio ou quaisquer outros crimes. Não concordamos com nenhum tipo de vandalismo fora e muito menos dentro do bloco, portanto, através das câmeras, iremos identificar os foliões que destruíram o ponto de ônibus e iremos bani-los da nossa rede de associados. Qualquer retaliação a partir daí, também fica a critério das autoridades”, diz trecho da nota.
Manual
Dias antes do início do Carnaval de Salvador, o bloco “As Muquiranas” divulgou nas redes sociais um manual de combate ao assédio e importunação sexual para os associados com as seguintes frases: "Se a mina disser não, respeite!", "Não importa as roupas, mulheres merecem respeito!" e "Chegou na mina e ela tem namorado? Respeito o casal e curta sua festa de boa!".
Na ocasião, Luciano Paganelli, um dos diretores das “Muquiranas”, declarou que o respeito às mulheres e as diversidades são bandeiras levantadas pelo bloco.
A Tarde
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