Único sobrevivente da chacina que deixou quatro motoristas por aplicativo mortos em dezembro de 2019, na Mata Escura, Nivaldo Santos Vieira relembrou os momentos de terror que viveu há três anos. Nesta quarta-feira (19), acontece o júri popular da travesti Amanda, que participou do ataque aos trabalhadores.
Veja o depoimento do sobrevivente:
"Eles me chamaram pelo aplicativo por volta das 5h40 da manhã com um perfil de nome Sávio e, quando eu cheguei na entrada da rua, disse que não entraria por questões de segurança. Vieram um homem e uma travesti. Quando entraram no carro, colocaram duas armas na minha cabeça, começaram a me xingar e me deram coronhadas na cabeça".
"A travesti [Amanda] era quem eu lembro que me deu as coronhadas. Me mandou seguir até a região de um campo, onde tinham mais três homens que comemoram quando chegamos com o carro. Dois estavam com uma pistola e um com a metralhadora. Quem comandava era um cara que eles chamavam de 'coroa', que comandava as ações deles".
"Me levaram para um corredor de barracos e, no terceiro barraco, mandaram eu entrar. Quando eu entrei, vi mais roupas, marcas de sangue e muitas outras coisas que mostrava que houve mais vítimas, além dos quatro que morreram. Tenho certeza que não morreram só quatro ali, tinha vestígios que mostrava que mais gente esteve ali sendo torturado e morto".
"Me levaram para um barraco à frente e lá eu encontrei o Alisson, que estava amarrado com fios de telefone. O mesmo fio também amordaçava ele, estava com marcas de cortes na cara e muito sangue. Depois, percebi que estava um corpo no lado de Alisson. Ali, caiu minha ficha de que eles não queriam só roubar, mas matar os que chegavam".
"Me amarraram, amordaçavam e passaram me agredir. Todos os cinco estavam lá, os três que estavam no campo e os dois que me buscaram no Uber. Passaram a me agredir muito, com golpes. Só quem não agredia era o que mandava e um outro rapaz. Os outros três me batiam sempre".
"O que mandava, que chamavam de Jeferson, agachou e perguntou: 'você tem dinheiro?'. Eu disse que só tinha R$ 7 porque era começo do dia e ele disse pra mim 'você está morto'. Eles me socavam, me chutavam e Amanda pisou no meu peito, na minha costela. Me agredia e começava agredir os outros".
"Amanda virou para mim e disse 'quem vai cortar seu pescoço sou eu'. Ela tirou o saco da cabeça de Sávio, que já estava morto com um tiro de 40. Ela mostrou o rosto e disse: 'olha aqui que tiro lindo, sua cara vai ficar desse jeito'. Nisso, voltaram a me agredir".
"Depois, eles buscaram mais um motorista, que era o Genivaldo. Amanda estava em todas as situações, agredindo, buscando motoristas e pedindo que olhasse para o rosto dela porque queria que todos vissem a cara dela enquanto agredia a gente até resolver matar".
Relembre o caso
Os quatro motoristas de aplicativos foram encontrados mortos, com sinais de golpes de facão, em dezembro de 2019, na comunidade Paz e Vida, na Mata Escura. Os corpos foram encontrados enrolados em sacos plásticos, numa área de vegetação da localidade, a poucos metros de um barraco, onde as vítimas foram mantidas em cárcere privado, torturadas e depois executadas.
Os homens assassinados foram identificados como Alisson Silva Damasceno dos Santos (27), Daniel Santos da Silva (30), Genivaldo da Silva Félix (48) e Sávio da Silva Dias (23). Eles trabalhavam como motoristas dos aplicativos Uber e 99.
A chacina, que ocorreu no bairro de Mata Escura, teria sido ordenada pelo traficante Jeferson Palmeira Soares Santos, 30, que morreu um dia após o crime. A ordem seria uma vingança pelo fato da mãe do traficante não ter sido atendida por nenhum carro de aplicativo quando precisou para uma urgência médica.
Amanda, julgada nesta quarta, dentre os cinco suspeitos de participar da chacina, é a única sobrevivente. Os quatro homens que teriam agido com ela - um deles menor de idade - morreram em confronto de facções e com a polícia.
Correio 24 Horas
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