Dois dias após se tornar o primeiro ministro a cair no novo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o general Gonçalves Dias, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), foi interrogado sexta de manhã (21) por quase cinco horas na sede da Polícia Federal (PF) em Brasília sobre pontos ainda não esclarecidos em relação ao episódio que provocou sua demissão. Em especial, o que fazia no Palácio do Planalto em 8 de janeiro, quando radicais ligados ao bolsonarismo promoveram ataques em série aos Três Poderes e por que as imagens que mostram o militar em interação cordial com os extremistas foram mantidas sob sigilo pelo GSI.
GDias, como o general da reserva é mais conhecido, deixou a PF por volta das 14h30 sem falar com os jornalistas interessados no teor do depoimento. Pouco depois, entretanto, enviou nota em que agradece a chance de ser ouvido. “O comparecimento na sede da Polícia Federal é, para mim, uma grande oportunidade de esclarecer os fatos que têm sido explorados na imprensa. Confio na investigação e na Justiça, que apontarão que não tenho qualquer responsabilidade seja omissiva ou comissiva nos fatos do dia 8 de janeiro”, afirmou.
O depoimento foi determinado na quinta-feira (20) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, relator do inquérito que investiga os atos antidemocráticos do início de janeiro. Um dia antes, imagens da área interna do Planalto foram divulgadas pela primeira vez pela CNN Brasil. Nelas, GDias e outros servidores do GSI aparecem interagindo com os radicais durante a invasão ao palácio. Um deles chega a distribuir garrafas de água para os extremistas.
O escândalo resultou na queda do general em apenas 109 dias do atual governo. Sobretudo, porque as imagens mostram o próprio Gonçalves Dias circulando pelo terceiro andar do palácio, na antessala do gabinete do presidente da República, enquanto os atos ocorriam no andar de baixo. Em entrevista à GloboNews no fim da tarde de quarta (19), o ainda chefe do GSI disse que só entrou no palácio depois que ele foi invadido.
Segundo GDias, o objetivo era retirar os radicais da área interna do edifício. Na ocasião, o general não explicou onde estava antes dos ataques ou por que chegou ao local em tão pouco tempo. Também deixou de responder se teria reportado a presença dele e de seus subordinados no GSI para o presidente Lula e informado imediatamente a atuação pessoal para desmobilizar a ofensiva coordenada pelos extremistas.
As lacunas abertas pelo mal explicado vazamento do vídeo colocaram uma sombra na amizade de 20 anos entre Lula e o general, tido como o quadro mais próximo e leal ao petista nas Forças Armadas. Por relação de causa e efeito, as dúvidas precipitaram a saída de GDias do alto escalão do governo e deram o combustível necessário para impulsionar a criação de uma CPI no Congresso para investigar os atos democráticos, a contragosto do Planalto.
Moraes aponta omissão 'conivente e ilícita'
Na
decisão em que determinou o depoimento de GDias à PF, Alexandre de
Moraes destacou que as imagens divulgadas revelam uma “atuação
incompetente das autoridades responsáveis pela segurança interna do
Palácio do Planalto, inclusive com a ilícita e conivente omissão de
diversos agentes do GSI”.
O ministro do STF lembrou que, no mesmo dia do ataque, havia mandado a PF obter todas imagens de câmeras de segurança de Brasília e que em 23 de fevereiro determinou a oitiva dos militares presentes aos atos. A lista dos nomes seria fornecida pelo GSI. Resta saber por que o vídeo foi escondido e teve sua existência negada, com participação ou não de GDias.
Cerco ao GSI e fim de sigilo sobre vídeos
Na
mesma sexta-feira (21) em que o general Gonçalves Dias foi interrogado
pela PF, o ministro do Supremo Alexandre de Moraes determinou ao
Gabinete de Segurança Institucional (GSI) que entregue à Corte as
imagens das câmeras de segurança do Palácio do Planalto captadas durante
o ataque de 8 de janeiro. O prazo para a pasta remeter os vídeos é de
48 horas.
Moraes também derrubou o caráter secreto do material. “Inexiste sigilo das imagens, com base na Lei de Acesso à Informação”, destacou. O despacho do ministro também inclui outras duas ordens para serem cumpridas em 48 horas: que todos os servidores do GSI identificados nas imagens do circuito interno do Planalto sejam interrogados pela PF e que a pasta envie a ele uma cópia da investigação interna do órgão sobre a conduta de seus agentes.
Também na sexta, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou
ao chegar a Portugal, onde acompanha o presidente Lula, que a
interinidade de Ricardo Cappelli na chefia do GSI deve durar pouco.
Embora tenha negado que já exista nome escolhido, Múcio defendeu que
“não é hora de mudar o perfil do comando”, sinalizando a continuidade de
um militar no cargo.
Fonte:Correio 24 horas
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