Traficante 'vira-folha' acirra guerra entre facções nos bairros de Tancredo Neves e Arenoso

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De ‘Tudo 3’ para ‘Tudo 2’. Após trocar de lado, o traficante ‘Mancha’ acirrou ainda mais a guerra entre as facções Bonde do Maluco (BDM) e o Comando Vermelho (CV), que disputam o o domínio do tráfico em alguns bairros que fazem parte da Área Integrada de Segurança Pública (Aisp/Central), como Tancredo Neves, Arenoso e Narandiba. E o ‘vira-folha’ passou de matador do BDM para gerente do CV, comandando, inclusive, ataques e a ocupação do território dos ex-comparsas. Tudo 3 e Tudo 2 são gírias usadas pelas facções criminosas e que significam que ‘está tudo bem, sob controle, dominado’.

Mancha deixou o BDM em janeiro deste ano e, de lá para cá, moradores desses bairros passaram a viver momentos de terror. Tiroteios são constantes, principalmente na madrugada, quando os famosos ‘bondes’, grupos de homens armados com fuzis e até granadas, invadem um o território do outro.  Várias pessoas já foram baleadas, inclusive inocentes, além de carros e casas  perfurados. 

“Na semana passada, o pessoal do CV invadiu o Arenoso e matou quatro (rivais). Teve até gente com a cabeça arrancada. Tudo isso, porque ‘Mancha’, que trabalhava para ‘Keu’ (Cleber dos Santos da Silva), está agora com ‘Buel’”, declarou uma fonte do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco) da Secretaria de Segurança Pública (SSP/BA), fazendo referência à noite do dia 5, quando o CV tomou o Arenoso. 

Vídeos da ação do CV circularam nas redes sociais, com traficantes exibindo fuzis e debochando dos oponentes. As mortes aconteceram entre o final de linha e rua do Canal, sendo que uma das vítimas, Jeobson Rocha Cruz, o Panela, foi decapitada e o ato gravado e  compartilhado pelos autores da barbárie.

'Panela' foi decapitado durante a ocupação do Comando Vermelho no Arenoso

(Foto: Divulgação/SSP)

Em resposta às ações recentes do tráfico, a Polícia Militar baleou três homens, apreendeu diversas armas e estourou um laboratório de refino de drogas em Tancredo Neves, na quarta-feira (12). A operação contou com 150 policiais. Horas depois, durante uma perseguição, criminosos invadiram uma casa e fizeram uma família de refém, incluindo uma idosa e um menino de 6 anos.

Foram quase sete horas de negociação. As vítimas foram libertadas e os bandidos presos. Não houve feridos. "Semana passada, Cid, parceiro de 'Mancha', morreu em confronto com a gente [polícia]. Estava com o carro de 'Mancha' e uma 357 [pistola]", disse a fonte do Draco.

‘Xis-9’
A onda de violência se agravou a partir do dia 4 de janeiro, quando a polícia deu um prejuízo superior a R$ 500 mil ao BDM. Durante uma operação no Arenoso, a Polícia Militar apreendeu dois fuzis modelo M4 calibre 5,56, uma metralhadora calibre 40, uma submetralhadora calibre 9mm, munições, além de uma quantidade de droga avaliada em meio milhão de reais, na localidade de Casinhas. Tudo foi encontrado dentro de um bunker (estrutura ou reduto fortificado, parcial ou totalmente subterrâneo), em um matagal, e pertencia a Keu, líder do BDM no Arenoso, Tancredo Neves e Pernambués e que atualmente está preso.

Mas o que tem a ver Mancha com o prejuízo do BDM? De acordo com moradores, ele, que era tido como “homem de confiança” do líder da facção, e que por isso comandava as execuções e ainda gozava de alguns privilégios, teria feito uma espécie de acordo com alguns policiais, revelando a localização do bunker. Ou seja, ele foi acusado de ser X-9 [giria para informante da polícia].

Apesar de negar, Mancha foi expulso do Arenoso, mas jurou vingança. Dias depois, ele já estava alinhado com o CV, passando informações estratégicas das áreas de atuação do BDM e vários ataques sob o seu comando foram realizados com a participação da OP [Ordem e Progresso], facção que é aliada do CV. Com a ocupação do Arenoso, Mancha é hoje o gerente da facção no bairro.   

Com o Complexo do Nordeste de Amaralina como quartel-geral, o CV vem crescendo sua área de domínio em Salvador e Região Metropolitana, construindo alianças com outras organizações criminosas, como a OP, além de grupos independentes, para fazer frente à sua arquirrival, BDM, que ainda é maioria no estado.  

A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), para saber se o Serviço de Investigação (SI) tem conhecimento dessas informações e quais providências vêm sendo tomadas para combater as facções, mas não houve resposta até o fechamento da edição, às 23h. 

Paredão e dez feridos 
No dia 03 de abril, pelo menos 10 pessoas foram baleadas, entre elas três crianças, durante uma festa “paredão” na Rua 24 de Março, em Tancredo Neves. Casas e carros também foram atingidos. Segundo os moradores, “Mancha” participou do ataque à área onde atuava antes. Já no dia 07 deste mês, também no bairro e no Arenoso, os ônibus deixaram de circular e aulas foram suspensas após um intenso confronto entre as duas facções. 

A rua dos disparos fica ao lado da 11ª Delegacia. Moradores ouvidos pelo Correio no dia comentaram sobre a audácia dos criminosos. “Falta de respeito. A delegacia é que do lado, um absurdo. Uns 20 passos e a gente está nela. A verdade é que eles (bandidos) não têm medo”, declarou a moradora, que pediu para não ser identificada. “Acordei doida com os tiros. Na hora, pensei que a minha casa estava caindo. Só depois que a ficha caiu que a bala comia no centro. Foi uma chuva de tiros que nunca vi igual e as pessoas gritando, gente chorando, foi terrível”, contou uma senhora, nascida e criada na região.

Correio 24 Horas

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