Advogado diz que casal negro foi agredido por sete seguranças em mercado da Rede Carrefour: 'ameaçados de morte'

Mochila da mulher foi filmada durante vídeo  — Foto: Arquivo pessoal

“Naquele supermercado, eles receberam a pena de tortura. As imagens são chocantes. Nós vamos na delegacia registrar uma ocorrência contra o supermercado. Meus clientes foram agredidos por sete seguranças da rede e estão sendo ameaçados de morte".

"Eu estou me deslocando com eles em uma data muito próxima na delegacia onde se vai investigar o caso, para que os agressores e, eu posso dizer, torturadores, sejam devidamente culpabilizados e punidos por um ato tão cruel", complementou.

Walisson reconhece que houve um erro na conduta do casal, de furtar pacotes de leite em pó, mas refirmou que um crime de menor potencial ofensivo não pode justificar o espancamento. (Veja vídeo acima)

"Eram pessoas que estavam ali buscando alimento. Não que seja certo furtar, está totalmente errado. Mas a conduta da Rede Carrefour nessa situação, de deixar que fossem torturados, agredidos e expostas as suas imagens nas redes sociais, é de uma gravidade extrema".

"Deve ser apurado o crime de racismo, lesão corporal e diversos crimes, que a gente vai reunir com a Polícia Civil da Bahia para apurar. Este caso não pode de forma alguma ficar impune, e as pessoas normalizarem e aceitarem a violência, e banalizarem a vida”.

Na segunda-feira (8), o vice-presidente de transformação em operação da Rede Carrefour, Marcelo Tardim, disse que as agressões não foram cometidas por nenhum funcionário da empresa, incluindo os terceirizados. Apesar disso, toda a equipe de segurança foi demitida.

“As características do agressor não são compatíveis com a de nenhum colaborador próprio, ou terceirizado, que atue em nossa unidade", disse Marcelo.

O advogado do casal agredido afirmou ainda que as imagens foram divulgadas pelos próprios seguranças, como forma de constranger e humilhar os dois.

“Eles estão muito assustados neste momento, é muito grave a situação deles. Os próprios seguranças, dentro da loja, gravaram as imagens e divulgaram nas redes sociais. A empresa, tem por obrigação, em questão de moralidade pública, dar a identidade de todas essas pessoas. O casal alega que tem condições de reconhecer todos eles que os agrediram", ponderou Walisson.

Também de acordo com o advogado, a mulher agredida iniciou um trabalho com carteira assinada e quase foi demitida por causa da repercussão.

"Queriam mandá-la embora do emprego, devido a essa repercussão. Eu falei a ela: ‘tenha calma, eu estou chegando, vamos à delegacia. Vocês vão dar o depoimento de vocês'. A gente precisa estar atento, a polícia da Bahia precisa investigar a fundo".

"Eu quero me reunir com delegado, com promotores que vão acompanhar este caso, para que não caia em esquecimento e que essas condutas devem ser evitadas e não devem ser investigadas apenas quando os vídeos de pessoas sendo torturadas e humilhadas, dentro da Rede Carrefour, viralizam", disse Wallison.

"Mesmo assim, nós não podemos aceitar que este ato de violência tenha ocorrido em nossas dependências. Por conta disso, na própria sexta-feira, realizamos o desligamento da liderança e do time de prevenção de perdas da loja, assim como rescindimos o contrato com a empresa terceirizada que fazia segurança na área externa da loja, onde ocorreu a violência", completou.

O Ministério Público da Bahia (MP-BA) abriu, na segunda-feira (8), um processo para apurar se houve crime de racismo no caso. A investigação ficará a cargo da 1ª Promotoria de Justiça de Direitos Humanos. A Polícia Civil, que também investiga a situação, ainda não encontrou agressor.

O vídeo gravado pelo agressor mostra o homem e a mulher sendo xingados e agredidos com tapas no rosto. Em determinado momento da filmagem, a mulher mostrou sacos de leite em pó em uma mochila, e assumiu o furto, argumentando que precisava dar o leite para a filha.

Ainda no vídeo, o casal é coagido a falar os próprios nomes e os nomes das respectivas mães. O g1 entrou em contato com a Polícia Militar, que informou que não foi chamada para atender a ocorrência. A Rede Carrefour repudiou a situação.

"É inadmissível que qualquer pessoa seja tratada desta maneira. É um crime, com o qual não compactuamos. Estamos buscando o contato das vítimas para nos desculparmos pessoalmente, além oferecer suporte psicológico, médico ou qualquer outro apoio necessário." 

G1

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