A morte da técnica de enfermagem Simone Maria dos Santos, assassinada pelo companheiro na Vila Laura, entrou para a dura estatística de violência contra a mulher na Bahia. Em 2023, seis mulheres são mortas por mês na Bahia vítimas de feminicídio. Esse número é inferior aos casos registrados no mesmo período no último ano. De acordo com a Polícia Civil, até 25 de abril, foram 24 feminicídios, contra 26 no mesmo período de 2022, o que figura uma redução de 7%.
“A nossa dor é ver que nós, enquanto mulheres, estamos tratando cada dia de uma rotina absurda de mulheres violentadas. Essa estatística vem crescendo muito na nossa realidade enquanto técnicas de enfermagem intensivistas. E a minha revolta é ver quem estava cuidando hoje ser vítima dessa violência”, disse Aialla Fontes, que trabalhou com Simone por quatro anos no Hospital Geral do Estado, em nome de todas as técnicas de enfermagem do local. O corpo de Simone foi sepultado ontem.
Para ela, é essencial que exista uma rede de apoio eficiente para as mulheres. “Nós não encontramos uma política que faça realmente valer esse acolhimento. O acolhimento não é apenas a colega chegar e conversar que foi agredida, é ter profissionais para acolher, ter direcionamento, ter dimensionamento do fato. Eu acho que o que faltou para a nossa colega estar viva hoje foi isso: ter um trabalho de direcionamento à mulher”, defende.
Julieta Palmeira, antiga Secretária de Políticas para Mulheres do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim) da Ufba, defende a necessidade de executar melhor as políticas existentes. “Nós precisamos de políticas para evitar a impunidade e garantir uma proteção mais efetiva às mulheres, buscando a aplicação da Lei Maria da Penha, um marco legal de referência. É preciso ampliar o número de delegacias especializadas, fazer valer a lei que dá celeridade às medidas protetivas, recentemente sancionada, e fortalecer os serviços locais de acolhimento às mulheres em situação de violência, as redes de acolhimento”, diz.
O relatório Elas Vivem, organizado pela Rede de Observatórios da Segurança, registrou que a Bahia é o estado do Nordeste com maior índice de violência contra a mulher. Larissa Neves, pesquisadora e organizadora do projeto, afirma que 75% dos feminicídios são cometidos por companheiros.
“É muito importante que essas mulheres conversem sobre o que sentem. Que elas tenham ali pessoas de confiança para sinalizar o que ela está passando. Elas precisam externalizar, porque muitas vezes a gente naturaliza esses ciclos da violência, justamente porque a gente não sabe que isso é violência. A gente acredita que isso faz parte da relação e acaba não falando, porque nós temos vergonha de dizer e sinalizar que a gente está sendo controlada”, ressalta a pesquisadora.
Correio
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