Investir R$ 1 milhão e, menos de três meses depois, ver um retorno de R$ 3 milhões na sua conta bancária. Foi com essa promessa que uma soteropolitana, não identificada pela Policia Civil (PC), caiu no golpe de um grupo criminoso de Salvador, que oferece investimentos falsos em fundos imobiliários. A vítima transferiu o valor via TED em janeiro e esperava receber o triplo do dinheiro investido depois de um trimestre.
Quando percebeu que os estelionatários desapareceram após a transferência, foi procurar a PC. A policia, por sua vez, começou a investigar o grupo e deflagrou, nesta quarta-feira (17), a Operação Casa Brasil, que cumpriu seis mandados de buscas apreensão em Salvador, nos bairros de Brotas, Ondina e Imbuí, e dois em São Paulo, onde há uma ramificação do grupo.
Ninguém foi preso na operação, porém computadores, notebooks, celulares e documentos que podem ter sido usados na prática dos golpes foram apreendidos. Diretor do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP), Glauber Uchiyama destaca que o objetivo da operação é compilar o máximo de provas possível e facilitar o encontro de mais vítimas.
"Além da vítima que perdeu R$ 1 milhão, temos outra que perdeu R$ 200 mil. São vítimas de Salvador, com o perfil de quem gosta de aplicações financeira e tem um poder aquisitivo maior. São duas, mas é provável que existam outras. Peço que compareceram ao DCCP para seguirmos com as investigações", fala o diretor.
Glauber Uchiyama, Diretor do Departamento de Crimes contra o patrimônio da Polícia Civil (Foto: Árisson Marinho) |
Uchiyama detalhou também como os criminosos agiam para enganar as pessoas abordadas por eles. De acordo com o diretor, os investigados até abriram uma empresa para servir de argumento para as possíveis vítimas. Na capital paulista, um mandado foi cumprido e outro estava em andamento até o fechamento da matéria.
"Eram pessoas físicas e jurídicas que ofertavam fundos imobiliários para quem é interessado em aferir certa renda com investimentos . Os envolvidos se passavam como investidores de consórcio, através de uma empresa que foi aberta para ser fachada do negócio", explica ele.
Ao todo, em Salvador, são seis os investigados pela policia na operação que, em breve, deve ter uma segunda fase com mandados de prisão para os suspeitos que tiverem envolvimento comprovado. Os investigadores ainda decifram o esquema, mas já têm detalhes das funções.
"Um deles é bombeiro militar e outro é advogado. Os dois atuavam diretamente com as pessoas abordadas no contato com as vítimas. Uma outra pessoa, que é daqui de Salvador, abriu a empresa em São Paulo do ramo de aplicação financeira. A investigação aponta para golpes tanto aqui como lá em São Paulo", completa o diretor.
Como evitar
Casos como os das vítimas do grupo criminoso investigado na Operação Casa Brasil são mais do que comuns. Há uma série de exemplos de pessoas que caíram na ilusão de investimentos com retornos muito lucrativos, como Gustavo Scarpa, ex-jogador do Palmeiras, que perdeu cerca de R$ 6,3 milhões em um golpe parecido.
Diogo Guanabara, que é advogado e especialista em Direito Digital, explica, que, seja um jogador milionário ou uma pessoa de classe média que investe as economias de uma vida inteira, todos caem pelo mesmo motivo: a possibilidade de obter uma vantagem nunca vista.
"Todos caem pela possibilidade de um enriquecimento de forma rápida. Não é diferente dos golpes antigos, em que os estelionatários iam nas portas das pessoas. Os golpistas se valem do desconhecimento e da ingenuidade das pessoas", inicia.
Clarissa Ferrari, assessora de investimentos da Ápice Investimentos, explica que no caso dos fundos imobiliários retornos assim são impensáveis. Isso porque os ativos ligados ao setor ou linhas de crédito relacionadas a ele são de baixa volatilidade, conhecido pela pequena variação e maior segurança para quem investe.
"Não é plausível um retorno assim. É um investimento de longo prazo, que é acima de cinco anos e tem uma menor volatilidade no mercado de ações. Ele recebe um fluxo de caixa mensal que, de maneira histórica varia entre 0,8% a 1,0% ao mês do que foi investido", explica ela.
Clarissa faz um alerta ainda em relação aos investimentos de rendimento variável, como os dos fundos imobiliários. Segundo ela, qualquer discurso que garanta um retorno, com destaque para os muito lucrativos, merecem a desconfiança de quem está pensando em aportar recursos.
"Nenhum investimento em renda variável tem um retorno garantido. Hoje, a gente tem um cenário que amanhã pode se configurar de uma maneira completamente diferente. Não é renda fixa, quando o retorno é pré-acordado. Se você observa investimento em renda variável garantindo um retorno e ainda mais em curto espaço de tempo, com certeza é fraude", completa.
Guanabara concorda com a fala da assessora e orienta cuidados para verificar a integridade do negócios antes depositar nele qualquer valor, mesmo que esse não represente grande parte do que o investidor tem no bolso.
"Dentro do ambiente de digital, é preciso se certificar da seriedade da empresa, observar o CNPJ e, no caso deste fundo, ver se há vínculo com o Banco Central ou na Comissão de Valores Imobiliários, o que é necessário para atuar nesse campo", afirma ele.
Correio
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