Investigado em 'Golpe do Pix da Record', Marcelo Castro vai à delegacia: 'Estou à disposição'

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O repórter Marcelo Castro, um dos investigados pela Polícia Civil no 'Golpe do Pix da Record', foi até a Delegacia de Estelionato e Outras Fraudes (Dreof), no Centro de Salvador, nesta quarta-feira (3). Ele foi por vontade própria, sem convocação policial.

Na porta da delegacia, após o encontro com as autoridades, ele gravou um vídeo falando que ainda não prestou depoimento sobre o caso.

"Apesar de não ter sido intimido, eu respeito a Polícia Civil e o trabalho do delegado Charles Leão por isso compareci a delegacia hoje ao lado do meu advogado Marcos Rodrigues para buscar informações e prestar esclarecimentos. Eu ainda não fui ouvido, mas estou a disposição", disse ele.

No vídeo, Marcelo também desabafou sobre os ataques que tem sofrido nas redes sociais e nas ruas. "Tem o trabalho de investigação e quem pode falar algo é a Polícia Civil. Não fulano ou ciclano, pessoas querendo aparecer", afirmou.

Marcelo também escreveu uma citação bíblica na legenda do vídeo, que foi postado no Instagram. "Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam."

Marcos Rodrigues, advogado do repórter, também falou brevemente sobre o caso e a ida a delegacia nesta quarta.    "Ja vim aqui [na Dreof] várias vezes. Sempre respeitando a dinâmica e metodologia do delegado. Hoje marcelo pediu para vir. Ele sofre ameaças, represálias e fake news. Achei conveniente trazê-lo à delegacia, mas a autoridade não quis fazer a ouvida. Apenas disse que em um prazo de 15 dias o convocaria", revelou.

Marcelo estava de férias em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, quando o caso explodiu na mídia. Ele foi demitido da emissora assim que retornou ao trabalho.

Relembre o caso
O caso veio à tona após a equipe do jogador de futebol baiano, Anderson Souza Conceição, mais conhecido como Anderson Talisca - que atualmente joga pelo Al-Nassr - cobrar informações sobre uma doação que teria sido feita por ele. Sensibilizado com a história de uma criança, o atleta teria doado cerca de R$ 70 mil.

Em nota enviada ao CORREIO no dia 11 de março, o diretor de jornalismo da TV Itapoan, Gustavo Orlandi, confirmou que a empresa investigava a denúncia de que funcionários da organização teriam desviado dinheiro de doações feitas por telespectadores através de pix.

"A RecordTV Itapoan, assim que recebeu as denúncias, apura os fatos e tomará todas as medidas legais cabíveis para o caso", disse, por email. O esquema funcionava através do programa Balanço Geral. Pessoas em dificuldade relatavam seus casos na atração televisiva, comovendo o público, que fazia doações via Pix.

Depois da descoberta, o caso então passou a ser investigado pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Estelionato por Meio Eletrônico (DreofCiber), que também está analisando depoimentos, matérias jornalísticas, vídeos e prints de redes sociais.

Zé Eduardo se pronuncia
Na tarde de segunda-feira (13), o apresentador do programa Balanço Geral, José Eduardo, fez a primeira manifestação pública sobre a denúncia. Iniciou o programa falando sobre honestidade, defendeu sua história pública e disse ter orgulho da equipe com a qual trabalha diariamente no programa. Emendou convocando os telespectadores a continuarem buscando ajuda do programa. 

“Você que precisa da rede Record continue vindo à porta da emissora, pedindo ajuda, e nós faremos de tudo para te ajudar. Bandido nenhum vai me impedir de ajudar o povo”, disse sem citar nomes. O apresentou pregou punição aos envolvidos em caso de confirmação dos desvios. Conforme o apresentador, o jurídico da emissora "está trabalhando para encontrar e apontar os culpados".

Repórter nega envolvimento com o caso
Desde que o caso sobre o desvio de doações via pix por funcionários da Record/TV Itapoan veio a público, alguns nomes de jornalistas foram especulados nas redes sociais. Um dos alvos foi a repórter Daniela Mazzei, atacada por seguidores na internet. Ela negou qualquer envolvimento com o caso.

"Disseram que uma repórter mulher que estaria de férias seria demitida quando retornasse ao trabalho. Na internet também surgiram várias ofensas e julgamentos por parte de alguns seguidores. Me sinto vítima de fake news. Apesar de ter a consciência muito tranquila de que não fiz nada e que não tenho envolvimento com isso, fico triste com toda essa repercussão negativa envolvendo meu nome. Eu e minha família estamos muito abalados com tudo. Tenho uma carreira limpa. Sou uma pessoa íntegra", frisou.

Vítimas se revoltam
O ambulante Adriano Lima, 38 anos, que trabalhava na Praça do Sol, em Periperi, é uma das vítimas do golpe das doações enviadas por pix que está sendo apurado pela emissora e pela polícia. Em setembro do ano passado, depois de ter móveis, eletrodomésticos e itens de trabalho furtados da sua casa, no bairro de Nova Constituinte, ele teve a situação exibida pela TV Itapoan/ Record, no programa Balanço Geral.

"Mostraram ao vivo que minha casa tinha sido arrombada. José Eduardo disse que muita gente ajudou e eu não vi um centavo das doações", diz.

Funcionários do programa, incluindo jornalistas, tomaram posse de cerca de R$ 800 mil. Os valores seriam destinados a pessoas em situação de vulnerabilidade social e grave doença que passavam na programação pedindo ajuda, mas acabavam caindo nas contas de funcionários que não foram identificados e apontados pela empresa.

Sindicato pede rigor
A diretoria do Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba) anunciou que acompanha as apurações da denúncia de desvio de ajuda financeira destinada a telespectadores do programa Balanço Geral, da Record/TV Itapoan, que teria como alvo jornalistas da emissora. Em nota, o sindicato reforçou que, até o momento, não há confirmação oficial dos nomes dos supostos envolvidos. 

“O Sinjorba alerta para o cuidado e rigor na apuração jornalística desse fato, para evitar pré-julgamentos e ilações, visando preservar o conjunto dos profissionais de jornalismo, que exerce de forma ética o seu ofício na Rede Record no Estado”, diz a entidade representativa.

O Sinjorba também chamou atenção “para que o veículo trate o assunto com a transparência necessária, evitando prejuízos à imagem da categoria”.

A entidade informou que aguardará o fim das investigações, com a devida identificação dos suspeitos, para manifestar sua opinião.  Acrescentou que “que respeitará o devido processo legal na apreciação de qualquer representação que seja recebida e encaminhada à sua Comissão de Ética”.

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